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terça-feira, 6 de julho de 2010

A Ditadura do Proletariado e o Socialismo (Edgard Leuenroth)

O Ideal anarquista, é negação de todo princípio de autoridade e a expressão mais completa das aspirações de liberdade que sintetizam a luta dos povos através dos tempos. Defendendo esse ideal que tem por objetivo extinguir, a divisão das coletividades em classes antagônicas, fonte de todas as lutas que ensangüentam a história, não podem os anarquistas concordar com a idéia de que, à ditadura do capitalismo, origem de todas as tiranias, se oponha a ditadura de outra classe. Embora essa classe seja o proletariado, seria isso fazer que a transformação social faltasse ao seu fim, deixando sobreviver o germe das disputas que perturbam a normalidade da vida coletiva. Seria simplesmente substituir a ditadura dominante por outra que passaria a dominar. A ditadura perduraria. E o grande mal está na permanência do domínio do princípio ditatorial.
Toda a vida da nova sociedade deve basear-se no trabalho, e a organização dos que trabalham, em todas as suas modalidades, manuais ou intelectuais, é a base da coordenação de todos os elementos que exercem função útil à coletividade. É pela obra reconstrutora dessa organização - praticada de acordo com os interesses coletivos, na base do federalismo libertário que se operará a extinção das classes, como a natural absorção das categorias inúteis e parasitárias.
Não concordando com a ditadura do proletariado, repelimos, com muito mais razão, a ditadura de um partido, ainda que esse partido, se apresente como sendo a elite do elemento revolucionário social e como a vanguarda da classe trabalhadora. Entendem os anarquistas que, dando-se à organização profissional a necessária eficiência de coesão, de capacidade administrativa, técnica e revolucionária no sentido renovador libertário, ela poderá assegurar o êxito da transformação social e a obra reorganizadora da sociedade.
O capitalismo, é certo, tratará não só de defender por todos os meios os seus privilégios de classe, durante o movimento reivindicador, mas também de reconquistá-los, após a queda de seu domínio. O proletariado, pois, deve preparar-se suficientemente para sustentar a luta, convencido de que será penosa e demorada. No embate decisivo, bem como no período de reorganização da sociedade, terão de ser usados os recursos revolucionários que as circunstâncias mostrarem ser necessários para a vitória sobre os elementos reacionários, até se firmar a estabilidade do novo regime. Entretanto, nunca perderemos de vista a verdade histórica de que a liberdade do povo só poderá ser conquistada pelo esforço organizado do próprio povo e nunca imposta pela coação de um poder central. Surgindo, muitas vozes, com intuitos revolucionários, esse poder naturalmente se transforma em organismo de reação sistemática, quer contra os elementos da direita, quer contra os da esquerda que trabalharam para efetivar a obra de transformação social.
O objetivo da revolução em todo o mundo é um só: a queda do capitalismo com todas as suas instituições draconianas. Julgam os anarquistas, entretanto, que a ação transformadora da sociedade terá naturalmente de se desenvolver, não em obediência a um padrão uniforme, como a ditadura do proletariado ou de um partido, mas de acordo com as exigências, cheias de modalidades diversas em cada país, obedecendo às características próprias de cada povo e às tendências históricas do seu movimento revolucionário.
Depois, há, ainda, a considerar uma questão de lógica. Ditadura do proletariado é mentira convencional e paradoxo. Ditadura é, como se define em direito, o poder exercido por uma minoria sobre a maioria. Ora, o proletariado é a maioria. Como se podem conciliar, pois, esses dois termos antinômicos?

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