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terça-feira, 6 de julho de 2010

Edgard Leuenroth (1881-1968)




Edgard Leuenroth (1881-1968)
Anarco sindicalista e arquivista, deixou um dos maiores arquivos sobre a história operária brasileira (deste do fim do séc XIX e início do séc XX, até a década de 30). Entre os jornais que participou, destacam-se "A Terra Livre", "O Trabalhador Gráfico", "Folha do Povo", "A Plebe" etc. Um orador da causa libertária, foi preso inúmeras vezes, (inclusive na Greve de 1917, que parou Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Sorocaba, Santos e ainda hoje uma das maiores greves da história do país). Antes de sua morte, expressou o desejo que seu arquivo fosse cuidado por militantes libertários, desejo que sua família não cumpriu, vendendo-o a Universidade de Campinas (Unicamp) que burocratizou o seu uso e "perdeu" parte do precioso arquivo.

Anarcosindicalismo

O anarco-sindicalismo é um meio de organização e um método de luta e de acção directa dos trabalhadores, que tem as suas raízes nos postulados da Primeira Internacional e do sindicalismo revolucionário. Inspira-se em fontes essencialmente federalistas e anarquistas, e, com uma nítida actuação revolucionária e uma clara orientação libertária na sua prática, tende constantemente a conquistar as máximas melhorias, em todos os sentidos, para a classe trabalhadora, com o objectivo da sua emancipação integral e da supressão de qualquer tipo de exploração e de opressão do homem pelo seu semelhante ou por qualquer instituição, e, ao mesmo tempo, luta pela abolição de qualquer tipo de capitalismo e de qualquer forma de Estado. Irredutivelmente oposto aos sistemas sociais e políticos hoje reinantes, luta pela transformação radical das sociedades e regimes que neles assentam e pela instauração de um meio social de convivência humana baseado nos princípios do comunismo libertário.
O anarco-sindicalismo não é nem uma doutrina nem uma filosofia. Extrai o seu conteúdo teórico do socialismo humanista e, sobretudo, do anarquismo, cujos postulados de defesa integral da personalidade humana, da liberdade, da solidariedade, do apoio-mútuo e da associação voluntária e federativa, constituem o seu mais sólido fundamento. O anarco-sindicalismo, dentro do movimento operário moderno, é uma corrente sindical totalmente independente, com características próprias bem vincadas, tanto pelo seu conteúdo básico como pela sua forma de organização e pelo seu desenvolvimento funcional, livre de quaisquer formas de centralismo e de burocracia. Tem sempre em conta a personalidade do filiado e estimula a sua participação na vida sindical. Respeita a autonomia das secções, dos sindicatos, das federações e das confederações. O anarco-sindicalismo também se singulariza pelos método de acção directa que utiliza, pela sua dinâmica e estratégia de luta e pelo facto de os seus objectivos finais estarem sempre presentes na sua orientação social. Outra das suas características distintivas inconfundíveis é a sua recusa de qualquer colaboração de classe, de qualquer compromisso com o capitalismo ou com o Estado, ainda que fosse em nome do "interesse nacional"; de qualquer participação ou intervenção em qualquer organismo, misto ou oficial, dependente do governo ou do patronato; de arbitragens e legalismos e de intermediários de qualquer tipo, nas contendas sociais quotidianas. O anarco-sindicalismo, considerando-se em luta permanente e sem tréguas contra o sistema que combate e pretende abolir, recusa tudo o que interfira com a sua liberdade de acção, tudo o que possa limitá-la ou restringi-la. Está sempre na vanguarda da luta social e das reivindicações dos trabalhadores. O anarco-sindicalismo mantém vivo o espírito revolucionário entre as massas operárias. Exercita-as e treina-as, através do combate voluntário, consciente e directo, no desenvolvimento das suas próprias iniciativas, ao mesmo tempo que contribui para a sua capacitação e máxima preparação, para que, sobretudo, possam vir a assumir conscientemente, prescindindo de qualquer partido político, as suas responsabilidades na autogestão directa da nova sociedade a construir e a organizar, uma sociedade livre, justa e solidária. Nessa nova sociedade, suprimidas as classes e com a ajuda de todos os progressos científicos e técnicos, procurar-se-á proporcionar, a todos e a cada um, através do trabalho e do esforço, individual e colectivo, o máximo de bem-estar e de segurança, com um imprescritível, intocável e inalienável respeito pela liberdade e pela personalidade de cada ser humano, objectivo primordial coincidente com o anarquismo. O anarco-sindicalismo não pretende ser um fim em si, nem criar uma nova ideologia social predominantemente sindicalista. Também não pretende assumir total e globalmente a representação e a administração da nova sociedade, nem moldá-la de forma uniforme e imutável. A sua concepção do comunismo anárquico está viva, aberta ao futuro e às várias modalidades susceptíveis de aplicação, sempre aperfeiçoáveis, desde que tenha uma base essencialmente libertária.
Objectivos e fins
O anarco-sindicalismo tem uma noção clara de que o desencadeamento da revolução social para derrubar o capitalismo e o Estado, para conseguira a renovação e a transformação da sociedade, não depende unicamente da sua força, e de que não poderia tão-pouco assumir de forma exclusiva todas as responsabilidades funcionais no desenvolvimento da sociedade futura. Não pretende criar uma nova ordem na qual teria um predomínio monopolizador determinante. Também não apresenta o comunismo anárquico como a panaceia ou fórmula mágica para a solução dos problemas económicos, sociais e políticos, mas sim como um objectivo dos mais viáveis, racionais, lógicos, justos e éticos, de carácter sociológico, para conseguir a convivência livre, harmoniosa e solidária, entre os seres humanos que desejam uma sociedade nova, sem antagonismos intestinos, sem alienação da individualidade e na qual as relações humanas possam desenvolver-se sem constrangimentos autoritários. O anarco-sindicalismo apresenta a solução comunista libertária, caracterizada por ser livre e aberta, evolutiva e aperfeiçoável, sem planos rígidos nem uniformes, visto que, além de ter consciência das grandes mutações e transformações que ocorrerão no mundo e na humanidade, não pode ignorar que as modalidades de aplicação do comunismo anárquico, se bem que conservem e afirmem uma concordância nas suas grandes linhas essenciais e nos seus aspectos fundamentais, terão as suas variantes, devido às condições reais existentes em cada país (condições ambientais, de mentalidade e psicológicas, dos seus recursos naturais e do seu próprio desenvolvimento económico, industrial, etc) e também devido a outras causas complexas, que influenciam o comportamento dos homens e têm as suas raízes na própria biologia das sociedades. As próprias formas de organização sindical que o anarco-sindicalismo já hoje adopta, dentro do sistema capitalista – as suas estruturas industriais, agrícolas, económicas e financeiras, e outras de tipos variados e complexos que lhe são peculiares, que não pode deixar de ter presentes para uma maior eficácia do seu combate ofensivo e defensivo –, não são inamovíveis. O anarco-sindicalismo, através das suas próprias experimentações e também de forma improvisada, tem capacidade para modificá-las ou aperfeiçoá-las (respeitando sempre as bases funcionais federalistas e de autonomia – o fim e a essência libertária), dadas as próprias mudanças que podem vir a operar-se quando o sistema capitalista-estatal for substituído pela nova sociedade comunista libertária. As bases desta nova sociedade exigirão as necessárias e indispensáveis mudanças e reajustamentos, nos planos económico, da produção e da distribuição, funcional e dos serviços, da organização do trabalho na complexa gama de coisas vitais e aspectos a considerar que afectam o todo social. O anarco-sindicalismo considera que este tipo de sindicato e de organização sindical pode e deve ser um dos pilares principais em que terá de apoiar-se e suster-se a sociedade.
Características próprias do anarco-sindicalismo
Uma das melhores qualidades e virtudes do anarco-sindicalismo é o respeito absoluto pela personalidade do afiliado, a quem convida, constantemente, a militar, de forma voluntária, abnegada, desinteressada, na vida do sindicato, das suas secções, das federações, da organização em geral; a assumiras suas próprias responsabilidades; a expor livremente as suas opiniões, a fazer as suas opções e a tomar as suas decisões nas assembleias; a participar directamente na acção e na luta; a aplicar as disposições que derivem dos acordos que a organização, de comum acordo, tenha adoptado. Na organização anarco-sindicalista, as decisões (acordos) são tomadas de baixo para cima; os cargos, regularmente renovados, são revogáveis; a liderança e o burocracismo são rechaçados. A organização sindical anarco-sindicalista conta unicamente com os seus próprios meios económicos, baseados nas quotizações dos seus afiliados, para se desenvolver, para a sua actividade, para a solidariedade, isto é, para atender a todos os seus problemas e preocupações. Desta forma, assegura a sua plena e total independência. Pode afirmar-se que não existe organização sindical tão íntegra como a anarco-sindicalista. Os seus militantes não podem aspirar a espécie alguma de sinecura e, ao longo da sua vida, devem dar provas da sua abnegação e servir de exemplo pela rectidão do seu comportamento pessoal. O anarco-sindicalismo entende que não há nem pode haver convivência livre nem justiça social dentro da sociedade de classes; que os fundamentos desta perpetuam e consagram a divisão entre os homens; que qualquer reforma que não destrua os alicerces dessa sociedade não modificará a essência da situação em que se encontramos trabalhadores, que continuarão a ser oprimidos e explorados. Por estas e outras razões de princípio, o anarco-sindicalismo é contrário à colaboração de classes, à co-gestão, à aceitação de uma participação interessada nas empresas capitalistas. O anarco-sindicalismo e o sistema capitalista-estatal são totalmente incompatíveis. O anarco-sindicalismo é anti-parlamentar devido à sua posição de princípio anti-autoritária e por considerar o parlamentarismo absolutamente ineficaz, do ponto de vista da efectiva emancipação da classe trabalhadora. A experiência da acção dos partidos políticos operários, denominados socialistas, marxistas, democratas, etc, que, sob a inspiração do marxismo (principal responsável pela cisão da Primeira Internacional e pela apologia e prática da acção política representativa por parte dos trabalhadores, que já existe desde o meio do século passado), chegaram, em certos períodos e lugares, a obter maiorias absolutas e a formar governos, como pudemos presenciar em vários países, é suficientemente eloquente e demonstradora da esterilidade da luta nesse terreno. Dentro do sistema que hoje impera, qualquer governo, socialista, social-democrata ou com qualquer outra denominação, através do próprio mecanismo das forças de pressão existentes neste sistema – dos seus tentáculos e armadilhas omnipresentes –, vê-se obrigado a servir os interesses do capitalismo e do Estado, em nome do grande"interesse nacional" e em detrimento dos interesses da classe operária.__________________________________(*) Extraído do folheto ¿QUÉ ES LA A.I.T?, editado pelo Secretariado da A.I.T. em Abril de 1997 (este folheto foi traduzido para português pela AIT – Secção Portuguesa em Junho de 1999).

Zumbi derrotou o exercito 17 vezes, sem leis, sem Estado e sem religião (Edgar Rodrigues)





"Não concebo que o trabalhador negro, que foi para o Brasil como escravo, não fosse considerado trabalhador." Edgar Rodrigues.



"Os padres ameaçavam os negros: não adianta fugir que Deus vai te encontrar. Os negros respondiam escapando... a Floresta é maior!"



" no primeiro livro que dediquei a questão (social e das comunidades libertarias), e que se chama "Socialismo e Sindicalismo no Brasil", eu o iniciei pelas lutas dos escravos. Porque não concebo que o trabalhador negro, que foi para o Brasil como escravo, não fosse considerado trabalhador. Todos os livros escritos no Brasil até aquela época não incluíam as lutas dos escravos entre as dos trabalhadores, apesar de, desde o meu livro, se terem feito já muitas abordagens nesse sentido. Eu achava que o escravo foi para o Brasil para trabalhar, não foi especificamente para ser escravo, foi uma forma que encontraram para o obrigar a trabalhar, pela comida e pela roupa. Foi então por aí que eu comecei, pelos chamados quilombos. E dei grande destaque ao quilombo de Palmares, por muitas razões: porque foi uma comunidade que conseguiu reunir 20 mil pessoas, que durou quase um século, derrotou o exército brasileiro 17 vezes, e sobreviveu sozinho sem leis, sem Estado e sem religião. Eles tinham lá as místicas deles, é verdade, mas conseguiram viver sem dinheiro, fabricavam a sua própria roupa, plantavam, colhiam e fiavam algodão, e conseguiram criar uma verdadeira comunidade socialista libertária.
Eu, naturalmente, abordei profundamente esses aspectos, e então, foi por aí que comecei, em 1673. A partir dessa altura, fui acompanhando todas as comunidades de trabalhadores negros e de toda a gente que tinha ideias [de emancipação social] e que veio depois, como a comunidade do Said, de Santa Catarina, que foi antes da colónia Cecília, e depois a própria colónia Cecília e os primórdios da propaganda num sentido político-social. Os imigrantes que vieram de Itália, uns poucos de Portugal, outros de Espanha, começaram a publicar pequenos jornais também falando dessas ideias. Quer dizer, eu percorri esse trajecto até chegar, naturalmente, ao sindicalismo, tal como ele se veio a apresentar já na última década do século XIX.
A colónia Cecília foi uma experiência anarquista, especificamente, ao contrário do quilombo de Palmares, que era anarquista, mas onde não havia uma consciência disso. À parte desse aspecto cooperativo, houve um facto curioso e importante, é que o Zumbi, talvez o homem que mais se evidenciou no quilombo de Palmares, foi o primeiro sujeito que tentou criar um país, atingir uma comunidade independente, antecipando-se assim a Tiradentes, a figura central da luta pela independência do Brasil, em mais de dois séculos. Ora, isso, para mim, é uma coisa muito importante. Os ex-escravos formaram uma comunidade muito grande em território, que seria, geograficamente, quase do tamanho de Portugal. Essa experiência socialista libertária, mesmo na ausência duma consciência assumida dessa ideia, realizou coisas interessantíssimas. Eles travaram, continuamente, uma luta contra a escravatura. Através duma produção maciça de alimentos, que conseguiam escoar e vender nos mercados no sul do Brasil, no Paraná, no norte, em Pernambuco, e noutras regiões a que chegavam, financiavam as fugas do campo. Estabeleceram uma luta contra os fazendeiros, quer económica, porque faziam concorrência com os seus produtos nos mercados, quer social, porque organizavam a fuga dos escravos. No começo, os fugitivos eram quase só homens e não havia portanto mulheres no quilombo, por isso nem procriação, nem prática sexual. Eles tiveram, então, de patrocinar as fugas, e fizeram-no até ao ponto de terem atingido uma família de 20 mil pessoas."

NASCE A SOCIEDADE 1° DE MAIO

O trabalhador via-se explorado, doente e habitando lôbregas – apesar do seu estafante trabalho cotidiano _ mas não atinava com as causas exatas de seu sofrimento secular, daí as suas constantes explosões de revolta rude e agressiva.
Foi neste ambiente de atraso cultural que os anarquistas e sindicalistas revolucionários principiarão a desenvolver a sua propaganda. A sementeira, em terreno agrestes, apresentava-se difícil, mais, como o problema econômico entrava no primeiro plano das reivindicações imediatas, os trabalhadores aceitarão bem a pregação revolucionaria. Todavia, faltava consistência ideológica e conhecimentos profundos para a transformação social, preconizava pelos libertários, coisas só compreendidas depois de uma vasta e bem apurada propaganda.
Contrariando os governantes e as autoridades, os operários da construção civil de santos fundavam, em 1900, a “Sociedade Primeiro de Maio”, destacando-se entre os fundadores: Severino Cesar Antunha, Luiz Lascala, atualmente vereador em Santos, Alexandre Lascala, Serafim Sole e João Faria.
Em outubro de 1900, nasce em são Paulo, o jornal “Avanti”, dirigido por Vicente Vacirca, que desenvolve a idéia socialista. Norteava os dirigentes do “Avanti” o socialismo da escola de Fourier e a questão operaria.
Logo no ano de 1901, fundava-se a “liga dos Artistas Alfaiates” que, em 1906, passou a denominar-se “Sindicato dos Artistas Alfaiates” e, em 1909, “União dos Alfaiates”.
No ano de 1902, realiza-se a primeira manifestação publica do 1° de Maio. Por seu lado, os socialistas instalam o seu congresso, em São Paulo, também durante o mês de maio. As resoluções ali aprovadas produziram seus frutos nos meios operários, apesar da condição de Partido Socialista Brasileiro. O Congresso durou de 28 de maio a 1 de junho.
Estoura como uma bomba e projeta-se até ao Brasil o livro “anarquismo”, de autoria do Juiz da Corte de Halle, Dr. Paul Eltzbacher.
No começo do século XX, publica-se em São Paulo, “A Lanterna”, jornal anti-clerical.
Assim se apresentava aos leitores e ao publico, em sete de março de 1901: “A Lanterna”: “Formidáveis exércitos invasores, armados com as mais aperfeiçoadas maquinas de guerra, fabricadas pela nossa falsa civilização para semear a morte e a ignorância nos campos verdejantes do trabalho, são muitas vezes repelidos por um pequeno grupo de homens, munidos de armas de defesa muito baratas e até mais frágeis, mas que se batem com mais arrojo do que as tropas mercenárias do invasor.
É poderoso formidável o exercito clerical que se pôs em marcha para conquistar esta terra e já está alvejando-nos com os seus golpes: O dinheiro e a hipocrisia. Nós somos, apenas, um punhado de homens. Somos dez? Somos vinte? Que importa! Seremos legião amanhã quando todos que sabem quanto o clericalismo e prejudicial, quanto o jesuitismo é nefasto, quanto o beatório embrutece os povos, decidirem-se a vir engrossar as nossas fileiras fortalecendo o nosso campo”.
Foi desse modo que o Dr. Benjamin Motta, então Diretor de “A Lanterna”, (1) principiou sua campanha anti-clerical e anti-política, atacando o poder econômico da igreja como empresa, como auxiliar da auxiliar da exploração capitalista, como divisória do proletariado, como a mas perniciosa seita propagadora da ignorância e da escravidão física, econômica mental.
O Dr. Benjamin Motta foi um dos primeiros a pregar o anarquismo em São Paulo. Já no ano de 1898 publicava a revista de sociologia. O “libertário” e o “Rebelde”, os livros “rebeldias” (2), contra a fé”. Como anarquista, colaborou nos jornais publicados em São Paulo “Il Risveglio”, “A Nação, o “O País” e “Gazeta da Tarde”.
A página 44 de seu livro “Rebeldias” diz-nos o bravo defensor dos trabalhadores:

“Proletários! Oprimidos! Repeli energeticamente a moral burguesa, desprezai a esmola e combatei a caridade!
“O Rico, dando uma esmola, pertua os vossos males, num duplo intuito egoísta: ver o seu nome nos jornais, acompanhados de adjetivos e impedir que recobreis a vossa independência, que trabalheis para advento da sociedade nova”
Ao bravo advogado, focou devendo o movimento anarquista e o proletariado em geral, uma gratidão sem limites. Não só pelo valor e poder de sua oratória, mas porque onde quer que estivesse em jogo a liberdade dos trabalhadores, ali estava o Dr. Benjamin Motta fazendo a defesa da causa do proletariado.
As atas dos tribunais de São Paulo e de Santos estão cheias de seus discursos, se suas defesas, são documentos vivos de uma época.
Como jornalista e escritor, foi Dr. Benjamin Motta corajoso defensor do ideal anarquista.
Bateu-se a favor do escritor francês Emílio Zola, quando da questão Dreyfus e responde aos seus adversários ideológicos pelas páginas de “O Rebate”, nos seguintes termos: “os que nos conhecem, e conhecem o ideal anarquista (estes infelizmente são pouquíssimos no Brasil (3) mesmo não concordando com as doutrinas que abraçamos respeitarão a nossa crença, sabem que somos sinceros e que o entusiasmo pelas causas grandes e justa encontram eco em nosso coração de moço”.

Benjamin Motta dedicou-se mais à causa socialismo libertário, à defesa do proletariado, do que a si mesmo. Morreu pobre no ano de 1940.

(1) “A lanterna” viveu 34 anos com algumas interrupções. Na primeira fase _ diretor o anarquista Dr. Benjamin Motta _ publicou se da 1901 a 1904 (60 números); na segunda fase de 1909 a 1916, (293 números) e a terceira fase até 1935. Publicou 208, estas duas ultimas sob a direção do jornalista e anarquista Edgar Lenenroth.
(2) Livro publicado no ano de 1898, pela “biblioteca Libertária”, de são Paulo, opúsculo n.° 1 – 80 paginas.
(3) Refere-se o autor aos anarquistas existentes no Brasil no ano de 1898

Retirado do livro “Socialismo e Sindicalismo no Brasil” do autor “Edgar Rodrigues” editora “Laemmert” da pagina 79 à 81.

Canto Operario (1)

Neste inverno proletário
Nossa vida se consome
O escrevo do salário,
Açoitado pela fome.

Não é livre quem depende
De Potentes monstros de aço.
Não é livre quem se vende,
Só dispondo de seu braço.

Vossos braços
Fortes laços
Sempre vivos,
Enlaçai.
Vida!Vida
Decidida!
Eis, uni-vos!
Despertai!

Tu és sangue, liberdade!
Liberdade, tu és vida!
Mas mentira és Falsidade
Quando aos pobres concedida

Liberdade e alegria
Ao trabalho fecundante!
Seja a terra que nos cria
Para todos boa amante!

Desgraçados
Embalados
Na esperança,
Ficais sós!
Luta! Luta
Resoluta!
Confiança
Só em vós!

Nossas penas, nossas dores
São riquezas cumuladas.
Nem escravos nem senhores,
Sobre a Terra libertada!

Homens todos, produzamos,
Nas cidades e nas minas!
Comuns sejam – não dos amos –
Campos, frutos, oficinas!

Desgraçados
Embalados
Na esperança,
Ficais sós!
Luta! Luta
Resoluta!
Confiança
Só em vós!

Tudo, tudo produzimos,
Mas dispersos, nada temos!
Separados, sucumbimos;
Só unidos, venceremos!

Um só corpo, produtores,
Desde os velhos às crianças:
Nossas forças, nossas flores,
Nossas ternas esperanças.

Desgraçados
Embalados
Na esperança,
Ficais sós!
Luta! Luta
Resoluta!
Confiança
Só em vós!

Liberdade bem querida
Irmã gêmea da igualdade!
Só contigo tem nascido
Entre os homens a verdade!

Liberdade, mãe da vida!
Na igualdade, teu alento,
Só teu seio da guarida
Ao fraterno sentimento!

Desgraçados
Embalados
Na esperança,
Ficais sós!
Luta! Luta
Resoluta!
Confiança
Só em vós!

(1) De " A Terra Livre", 1° de maio de 1907

Extraído
Livro: Socialismo e Sindicalismo no Brasil
Editora: Laemmert
Autor: Edgar Rodrigues
Paginas: 194 á 196
Ano:1969

O metado o mais importante da ação

Emprega-se hoje, geralmente, esta expressão para designar, em sentido restrito, a ação da classe operária, sem interpostas pessoas, com os meios que lhe são próprios (greve, boicotagem, sabotagem, etc.).
Mas, analisando a idéia, vê-se facilmente que a ação sem interpostas pessoas, isto é, sem delegação de poder, tem aplicação em todos os campos, no econômico e no político, tanto contra patrões como contra as autoridades; abrange várias formas de atividade e resistência e não é senão o anarquismo considerado como método.
E o método é o mais importante para um partido ou movimento, o que, sobretudo o distingue, pois não basta boas intenções: é preciso saber o meio de as pôr em prática, de lhes dar realidade, A máxima: Todos os caminhos vão dar em Roma – não tem senso comum. Há os que vão dar a um abismo.
A ação direta, no sentido mais largo, poder ser violenta ou pacífica, individual ou coletiva, mas deve sobretudo ser contínua, de cada dia, em qualquer das suas formas, e em todas as duas fases, propaganda, organização, realização.
Agindo-se, praticam-se erros, dão-se passos falsos, golpes incertos. Quem caminha arrisca-se a tropeçar; sobretudo quando se começa, e falta a experiência, a musculatura e elasticidade. Mas todos esses erros, incertezas, inabilidades, tropeços, são corrigidos pelo exercício, pela própria pratica da ação, pela critica serena e acertada. Pensamento e ação.
O que é necessário ter bem presente é que a ação não pode ser substituída. Só a ação produz o fato, só ela mantém, Até os conservadores inteligentes o reconhecem (exemplo: Jean Cruet, A vida do direito e a impotência das leis).
Ainda suponho que a lei não fosse a expressão dos interessados das classes dominantes, pelo monopólio da riqueza, do poder e da influencia, ela seria pelo menos inútil, pois não viria reduzir a fórmulas estreitas e incompletas,permanentes de cada individuo e das coletividades interessadas origina e alimenta, em cada minuto e em cada metro quadrado do território. Todos os dias vemos direitos, escritos nas leis,desprezados por falta de resistência dos interessados e mais além, no mesmo país, respeitados quando são defendidos, E a lei é a mesma!
E é ainda necessário evitar o que pode contradizer, desviar, diminuir o ação direta, a emancipação por suas próprias mãos. Nós queremos uma revolução social, isto é, não “emancipar o povo”, mais que ele se emancipe, tome conta dos seus direitos, não se deixe roubar e mandar, não delegue poderes, organize e administre diretamente a produção.
Ora, nada ataca mais esta obra de emancipação própria, de esforço pessoal, do que o parlamentarismo e o eleitoralismo, desvio de energias e de organização, portas aberta a todas as corrupções, a toda as infiltrações de idéias e interesses estranhos

A Ditadura do Proletariado e o Socialismo (Edgard Leuenroth)

O Ideal anarquista, é negação de todo princípio de autoridade e a expressão mais completa das aspirações de liberdade que sintetizam a luta dos povos através dos tempos. Defendendo esse ideal que tem por objetivo extinguir, a divisão das coletividades em classes antagônicas, fonte de todas as lutas que ensangüentam a história, não podem os anarquistas concordar com a idéia de que, à ditadura do capitalismo, origem de todas as tiranias, se oponha a ditadura de outra classe. Embora essa classe seja o proletariado, seria isso fazer que a transformação social faltasse ao seu fim, deixando sobreviver o germe das disputas que perturbam a normalidade da vida coletiva. Seria simplesmente substituir a ditadura dominante por outra que passaria a dominar. A ditadura perduraria. E o grande mal está na permanência do domínio do princípio ditatorial.
Toda a vida da nova sociedade deve basear-se no trabalho, e a organização dos que trabalham, em todas as suas modalidades, manuais ou intelectuais, é a base da coordenação de todos os elementos que exercem função útil à coletividade. É pela obra reconstrutora dessa organização - praticada de acordo com os interesses coletivos, na base do federalismo libertário que se operará a extinção das classes, como a natural absorção das categorias inúteis e parasitárias.
Não concordando com a ditadura do proletariado, repelimos, com muito mais razão, a ditadura de um partido, ainda que esse partido, se apresente como sendo a elite do elemento revolucionário social e como a vanguarda da classe trabalhadora. Entendem os anarquistas que, dando-se à organização profissional a necessária eficiência de coesão, de capacidade administrativa, técnica e revolucionária no sentido renovador libertário, ela poderá assegurar o êxito da transformação social e a obra reorganizadora da sociedade.
O capitalismo, é certo, tratará não só de defender por todos os meios os seus privilégios de classe, durante o movimento reivindicador, mas também de reconquistá-los, após a queda de seu domínio. O proletariado, pois, deve preparar-se suficientemente para sustentar a luta, convencido de que será penosa e demorada. No embate decisivo, bem como no período de reorganização da sociedade, terão de ser usados os recursos revolucionários que as circunstâncias mostrarem ser necessários para a vitória sobre os elementos reacionários, até se firmar a estabilidade do novo regime. Entretanto, nunca perderemos de vista a verdade histórica de que a liberdade do povo só poderá ser conquistada pelo esforço organizado do próprio povo e nunca imposta pela coação de um poder central. Surgindo, muitas vozes, com intuitos revolucionários, esse poder naturalmente se transforma em organismo de reação sistemática, quer contra os elementos da direita, quer contra os da esquerda que trabalharam para efetivar a obra de transformação social.
O objetivo da revolução em todo o mundo é um só: a queda do capitalismo com todas as suas instituições draconianas. Julgam os anarquistas, entretanto, que a ação transformadora da sociedade terá naturalmente de se desenvolver, não em obediência a um padrão uniforme, como a ditadura do proletariado ou de um partido, mas de acordo com as exigências, cheias de modalidades diversas em cada país, obedecendo às características próprias de cada povo e às tendências históricas do seu movimento revolucionário.
Depois, há, ainda, a considerar uma questão de lógica. Ditadura do proletariado é mentira convencional e paradoxo. Ditadura é, como se define em direito, o poder exercido por uma minoria sobre a maioria. Ora, o proletariado é a maioria. Como se podem conciliar, pois, esses dois termos antinômicos?