Pesquisar este blog

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Anarquismo Militante

O anarquismo militante não aceita o voto nem colabora em farsas eleitorais e se promulgamos a organização dos trabalhadores em organismo de classe, também nos desejamos inserir na vida da sociedade onde exemplifiquemos a prática de um convívio tolerante e sociável e, tanto quanto possível fazer aflorar no ânimo dos nossos convivas o verdadeiro sentido da liberdade.



A autoridade, a violência, o dogmatismo e a intolerância são defeitos que combatemos e provém deste combate todo um peso incompreensível e maldoso dos nossos adversários, que explorando a ignorância do povo ou nos marginam ou falam de nós depreciativamente. O anarquista é um combatente leal e frontalmente enfrenta os seus adversários, procurando convencê-los se possível, mas aceita e compreende com tolerância quantos não possam ou não saibam compreendê-lo. A nossa noção de liberdade não é fictícia nem dogmática e para o anarquista não há hipótese para delitos de opinião, todo e qualquer indivíduo tem direito a ter as opiniões que quiser, cuja condição única é a de reconhecer aos outros o direito de outras opiniões ter. As religiões não as cremos precisas para o curso da vida normal de um povo ou de todos os povos e têm até aspectos que afectam extraordinariamente a marcha do progresso social ou a libertação humana, no sentido integral dessa libertação. O indivíduo que crê vê limitadas as suas faculdades de independência e se houve um Tolstoy que foi crente e genial, a sociedade não é feita de gênios e a crença é uma subordinação em potência onde a faculdade de ser livre e independente se perde. Acreditar num Deus é não compreender o Universo nem leis cosmogònicas que Universo regem! Quando Copérnico concebeu o seu sistema heliocêntrico feriu de morte todo um sistema geocêntrico no qual radicavam as principais crenças relligiosas. As ciências, em todos os campos, mas em especial as ciências humanas, alargaram o conhecimento humano e afastaram positivamente das velhas concepções do mundo e do Universo o pensamento do homem, levando-o a novas concepções que se irão reflectindo em novos conceitos de liberdade e independência, fazendo com que as velharias milenárias que pesavam na mente humana se pulverizem e novos rasgos das totais realidades do homem e do Universo nos bafejem.

As religiões vivem e apoiom-se no dogma, todas se confundem numa intolerância que o ambiente social viciam e corrompem e só o ódio prolifera onde as religiões intensamente e só o ódio prolifera onde as religiões intensamente vivem. Do dogma religioso provém o dogma político e o sectarismo, que tanto danos motivam no sentido das relações humanas. São aspectos que o anarquismo militante não aceita, são factores de desagregação humana que o progresso e a revolução combatem, exatamente porque a solidariedade e o espírito de cooperação são módulos de uma vovência que o dogmatismo e a intolerância destrói!

Sempre foi norma das religiões a dogmas outros dogmas se apôr e se a intolerância política na intolerância religiosa se inspirou, ambas são expressões de vida falsa e negativa e ambas têm de ser combatidas.

Da autoridade divina promana a autoridade do Estado e ambas são a negação da vida natural e o tronco da árvore genealógica do mal social!

A propriedade privada, o Estado e a religião, sempre foram tripé onde a exploração, a opressão e a ignorância tiveram assento, não permitindo a natural evolução do indivíduo e da sociedade, determinam que a luta revolucionária as vá corroendo até à explosão inevitável da revolução. O combate à propriedade privada celebrizou um dos maiores pensadores de todos os tempos – Proudhon e o que a si mesmo pela primeira vez se chamou anarquista. Foi o mais ousado dos economistas de sempre, e classificando a propriedade privada de roubo, demonstrou com larga argumentação “que, na ordem da justiça, o trabalho destroi a propriedade”. Como reforço da sua tese Proudhon diz-se ainda “que o homem isolado não pode suprir senão uma pequena parte das suas necessidades; toda a sua potência está na sociedade e na combinação inteligente do esforço universal”. No desenvolvimento da sua tese dá-nos a noção objetiva do impossível isolamento do homem. Em sociedade o homem complica as suas relações perde o direito de chamar seu o que é de todos, circunstância que nos obriga a uma dependência comunitária que nos será favorável se à mesma presidir um critério de justiça e equidade social.

Se em qualquer tempo ou lugar o isolamento foi impossível, com o desenvolvimento das ciências tecnológicas e mais compreensivelmente com a revolucção industrial as sociedades mudam de face e a propriedade privada passa ser um embaraço não só ao progresso como impossível no contexto das sociedades, onde se introduz o uso de novas técnicas dde produção que a revolução industtrial nos traz. As contradições do sistema capitalista perturbam todo o equilibrio economico dos povos e só o recurso à guerra o Capitalismo aceita como acidente inevitável do seu sistema. Os economistas são máquinas que só veêm números e só o rendimento é fator válido nos seus cálculos e planejamentos, que vão sempre bater nas situações de crise que as novas guerras conduzem.

Aí pelos anos 1840 Proudhon no seu livro “O que é a Propriedade?” procurou minar as bases do sistema capitalista e produziu a célebre frase que ecoaria como uma bomba que jamais outra teria feito “A Propriedade Privada é um Roubo”. Cremos que na história das lutas políticas e sócio-economicas outra não foi mais célebre e na interpretação desta frase está definido todo um sentido de luta e abarca um conceito de justiça e igualdade, que a cento e vinte anos ainda é atual, porque o mundo não mudou como desejaria Proudhon. Nas dez sentenças que Proudhon exterioriza parece-nos ter demonstrado a impossibilidade da propriedade. Vejamos:

-1 “ A propriedade é impossível porque de nada exige alguma coisa”.

-2 “ A propriedade é impossível porque onde quer que seja admitida a produção custa mais do que ela vale”.

-3 “ A propriedade é impossível porque sobre um capital dado, a produção é em razão do trabalho, não em razão da propriedade”.

-4 “ A propriedade é impossível porque é homicida”.

-5 “ A propriedade é impossível porque com ela a sociedade devora-se a si própria”.

-6 “ A propriedade é impossível porque é mãe da tirania”.

-7 “ A propriedade é impossível porque consumindo o que recebe perde-o, poupando-o anula-o, capitalizando volta contra a produção”.

-8 “ A propriedade é impossível porque o seu poder de acumulação é infinito e porque só se exerce sobre qualidades finitas”.

-9 “ A propriedade é impossível porque é impotente contra a propriedade”.

-10 “ A propriedade é impossível porque é a negação da igualdade”.

Este dez axiomas, numa interpretação justa, formam um tratado de filosofia socio-economica e foi efetivamente base de larga e indestrutível influência das ideias socialistas, não excluindo a marxista que fez de Marx discípulo de Proudhon na sua juventude, mas que a sua mentalidade e formação autoritária depressa o faria obsecado adversário de Proudhon e que fora a sua famosa obra “O que é a Propriedade?” que o trouxera ao socialismo, o que está historicamente provado e o “Manifesto Comunista” que em 48 escreveu de colaboração com Engels prova-o ao observador menos atento, lendo o “Manifesto” com atenção (além da Tcherkesoff que já o dissera ser, confirmado por Labriola marxista italiano, um trabalho plagiado) verifica-se que nadda tem de original, nem de importância que lhe atribuem os marxistas de hoje. De resto se atentarmos nos 10 pontos fundamentais do “Manifesto” onde Marx e Engels exprimem toda a ação revolucionária e objetiva, coincidência curiosa com os 10 pontos com que Proudhon define a impossibilidade da propriedade privada! As 10 sentenças nada nos parecem revolucionárias e todavia menos se as compararmos com toda uma temática revolucionária que se produziu em toda a última metade do século passado.

-1 “ Expropriação da propriedade territorial e emprego da renda da terra para os gastos do Estado”.

-2 “ Forte imposto progressivo”.

-3 “ Abolição do direito de herança”.

-4 “ Confiscação da propriedade dos emigrados e sediciosos”.

-5 “ Centralização do crédito nas mãos do Estado por intermediário de um Banco Nacional com capital do Estado e monopólio exclusivo”.

-6 “ Centralização em mãos do Estado de todos os meios de transporte”.

-7 “ Multiplicação das empresas fabris pertecentes ao Estado e dos instrumentos de produção, roturação dos terrenos incultos e melhoramento das terras, segundo um plano geral”.

-8 “ Obrigação de trabalhar para todos (?); organização de exércitos industriais, particularmente para a agricultura”.

-9 “ Combinação da agricultura e indústria; medidas encaminhadas a fazer desaparecer gradualmente a oposição entre cidade e o campo”.

-10 “ Educação pública e gratuita de todas as crianças; abolição do trabalho destas nas fábricas tal como se pratica hoje; regime de educação combinado com a produção material, etc., etc”.(Manifesto Comunista 1848).

Qualquer estudioso atento ou um simples aprendiz de problemas ou questões sociais verifica a diferença entre os 10 axiomas ou sentenças de um Proudhon e as 10 sentenças de Marx e Engels no tão apregoado “Manifesto Comunista” que ainda hoje é catecismo comunista. Nada tem de original e muito menos de revolucionário, mesmo remontando ao tempo que o produziram enquanto o que Proudhon setenciou tem e terá sempre atualidade. O que nos diz Proudhon resiste no tempo e no espaço e ainda não foram excedidas nas já muitas revoluções ou em qualquer dos “comunismos” que conhecemos e ainda tem atualidade o que dele disse Varlan Tcherkesoff na apreciação que dele faz e considerando-o mesmo assim um plagiato, reconhecido também por Kautsky, embora corifeu destacado do “socialismo científico”.

Qualquer observador atento ou um simples aprendiz de sociologia verifica a diferença de conteúdo e como a doutrina de um Proudhon resistiu no tempo e no espaço e ainda hoje não foram excedidas e muito menos ultrapassadas. Compare-se os seus fundamentos com as sentenças do “catecismo” marxista e ver-se-á a diferença. O que postula o “Manifesto Comunista” além de nada original, é no fundo anti-revolucionário e só o fanatismo doentio da obtusa mentalidade política permitiu tanta audiência. Varlan Tcherkesoff, na sua celebre apreciação que faz do marxismo, no seu livo “Marxismo antes de Marx”, diz que pasma como o trabalho que diz ser cópia de um outro de V. Considerat (referindo-se ao “Manifesto”) tenha feito tanto ruído quando nada tem de profunamente crítico e construtivo. Os 10 ponto que Engels e Marx recomendam ao povo não passam de uma simples programação política, inviáveis sem o poder nas mãos e simples rudimentos sem conseqüências reformadoras em qualquer sistema mesmo reacionário ou conservador. A exatidão deste raciocinio prova-o a série de alterações que em vida dos autores foi sofrendo nas sucessivas edições que foi tendo, nada mais que sete, além de notas e alterações que foi sofrendo. A não grande importância e vulnerabilidade do “Manifesto” está aí bem patente e, não é necessária grande cultura sociológica nem profundos conhecimentos da temática revolucionária para que nos apercebamos , que é preciso muita boa vontade ou ignorar toda a literatura revolucionária, que milhares de pensadores antes e depois de Marx no legaram, páginas revolucionárias que sobre elas passarão muitas dezenas de anos e serão sempre valiosas e revoluncionariamente construtivas!

A própria definição que nos dá da propriedade privada já não foi no tempo original, outros já o teriam feito e as soluções que sugere não chegam a ser soluções. Vejamos: “ A revolução francesa, por exemplo aboliu a propriedade rural em proveito da propriedade burguesa. O rasgo distintivo do comunismo não é abolição da propriedade privada geral, senão a abolição da propriedade burguesa, é a última e mais acabada expressão do modo de produção e de apropriação do que se produz à base dos antagonismos de classe, na exploração de uns pelos outros”. Na edição inglesa de 1888 já vem “a explicação da maioria pela minoria”.

Tudo isto está certo e certo está ter-se enganado Engels e Marx na sua conclusão de que “a propriedade privada atual, a propriedade burguesa, é a última e mais acabada expressão dos antagonismos de classe, na exploração de uns pelso outros”. Milovan Djilas prova-o no seu livro “A Nova Classe”, de uma forma insuspeita, porque também é marxista, e com fatos que são os últimos tempos e todos nós conhecemos. O importante a considerar é que a propriedade coletiva ou estatal não deixa de ser privada e a experiência dos sistemas comunistas prova-o de maneira eloquente.

Até nos países capitalistas se têm nacionalizado empresas e bancos e nem por isso a situação dos trabalhadores se modificou, como aconteceu nos países ditos socialistas, de maneira bem frizante. Estes fatos não surpreendem ninguém e muito menos os anarquistas. O importante é assinalar o fato e instruir que socialização sem liberdade não é nada nem é possível liberdade sem socialização. A transformação social que se impões está na base de uma transformação séria da sociedade e está radicada insofismavelmente na defesa do indivíduo, que, célula livre, determinará que a sociedade livre seja, de baixo para cima.

Se a liberdade é a saúde do corpo social, no indivíduo é a faculdade de estar atento e agir em obediência à satisfação total das suas necessidades e valorização da sua personalidade. Deste pressuposto partem os anarquistas e o livre acesso ao uso da propriedade só a revolução o pode assegurar quando feita no sentido comunitário e destruição completa de todo o poder coletivo ou Estatal.

Não é puxar a brasa à sardinha, dizendo que só o anarquismo combate efetivamente a propriedade privada, sabendo-se que a nacionalização ou estatização da propriedade não deixa de ser privada por esse fato e a socialização é coisa bem distinta, e só pode haver socialização quando todos os organismos de relação, produção e distribuição sejam livremente dirigidos em base federalista ou libertária e em clima de cooperação integral. No uso da liberdade o indivíduo não será privado do uso da propriedade necessária e o socialismo é o modo pelo qual todos poderão considerar-se com o direito do uso ou posse do que lhe é necessário, indispensável. Poderá parecer paradoxo, mas a destruição da propriedade privada que o anarquismo advoga é precisamente a antevisão da possibilidade e garantia de toda a gente ser dono de tudo e ninguém possuir o privilégio de ser senhor do que a todos pertença.

O anarquismo é contraa propriedade privada na medida em que não só um privilégio de poucos em detrimento da grande maioria, ao mesmo tempo que causa de toda a desigualdade e injustiças sociais. A propriedade é um mal ou praga social, nas mãos dos que parasitariamente vivem, explorando os que trabalham e produzem, no sentido do enriquecimento dos possuidores e manutenção de um mundo parasitário e tirânico.

A propriedade privada não é aceitável por prejudicar o livre desenvolvimento da riqueza social e ser o entorce ao direito e liberdade do cidadão.

Os anarquistas querem que tudo seja de todos não só por regras e exigência da vida segundo a natureza, mas porque representa a maior degradação humana.

O anarquismo não pode nem deve suportar ou consentir a propriedade privada porque é causa de uma infinidade de males sociais e impede o progresso social no sentido não só de uma solidária convivência universal, como acirra sentimentos de ódio e predispõe e arma os homens e as sociedades para a guerra.

Os anarquistas não admitem a propriedade privada como não aceitariam, que a água, o ar, o sol, os jardins, as praias e tudo mais que a natureza ao homem e a todos os seres que na terra vivem legou, por antenatural e forte injustiça social.

A revolução francesa extinguiu a propriedade feudal e criou a propriedade burguesa ao mesmo tempo que permitiu que o trabalhador usasse da “liberdade” de morrer de fome, escolhendo o patrão que o explorasse e o político que o oprimisse.

A revolução russa extinguiu a propriedade burguesa e criou a propriedade do Estado, mas fez do operário uma máquina e criou uma nova classe de burocratas e opressores quantas vezes mais tiranos e social e humanamente mais nocivos que os burgueses e os feudais!

Os anarquistas aceitam como necessária e inevitável a revolução social e visam a extinção da propriedade e do Estado, porque só a liberdade e o livre acesso à Natureza e patrimônio social é condição que satisfaz e garate que o homem e a sociedade se identifiquem consigo mesmos, e traga ao mundo a paz e alegria de viver que desde que o mundo é mundo o homem luta e aspira por encontrar!

José Correia Pires

extraido do site:

http://cob-ait.net/fosp/index.php/publicacoes/15-artigos/25-anarquismo-militant

Nenhum comentário:

Postar um comentário