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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

ANARQUIA E ORDEM

     O tempo passa, os sistema renovam-se, aciência avança a passos de gigantes, a máquina substitui o homem parcialmente tornando-o um simples espectador ocioso. As distâncias desaparecem encurtadas pelo progresso mecânico da tecnologia, o poder e a rapidez de comunicação reduzem o mundo a uma aldeã global e num abrir e fechar de olhos o individuo cruza os mares, rasga os céus e vence o (impossivel) ! O progresso tecnológico e científico corre a jacto tornando obsoleto hoje o trabalho de ontem.
     Mas se é espantoso o esforço do homem no campo da ciência e da tecnologia rumo à Lua, temos da lamentá-lo no que se refere aos -progressos- no campo político, social, ideológico, filosófico e no terreno do pensamento humanista! A evolução neste sector em direções diversas, com avanços e recuos desordenados e não sai do ponto de partida.
     Temos frente a frente muitos e grandes problemas a vencer neste sector do livre pensamento: gente embutada pelo medo; gente frustrada com dificuldade de andar sozinha e pensar com a sua cabeça; pessoas cegamente obedientes a -lideranças- telediridas, condicionadas a interesses a interesses outros que não são os seus, ignorando a origem e os objetivos de tais palavras de ordem; indivíduos que se curvam as exigências do poder econômico e político ditatorial de uns quantos espertos e bem falantes -patriotas- sempre de acordo com os vitoriosos; e um punhado de idealistas, homens íntegros, lutando desesperadamente para esclarecerem e alertar o maior número possível sem outras preocupações para além do medo de que os desatinados voltem a perder a Liberdade. Neste momento cada vez mais gente enganada e confunde mais gente para se -defender- de gente que chega a se enganar a si própria, tal é o estado de irrealidade em que vive num mundo de fantasias... Jogo artifícios mentais alimentados por ameaças surdas de um poder político mercantilista e bélico, rolo compressor que esmaga princípios válidos possuídos de homem na mira de transformá-lo em autômato de ação repetitiva, em massas capaz de aplaudir todas as tolices pronunciadas pelo primeiro orador que encontre na esquina da rua. Nasce então um fato novo: o -verdade- com quem grita primeiro quem grita mais alto é que tem -razão-!!!
     Houve tempo em que o progresso era lento e o homem tinha ocasião de pensar, raciocinar, refletir e por fim falar. Hoje, tudo corre tão rapidamente, os interesses econômicos e políticos são tantos e tão escusos, que falamos em pensar, por que quem pensa não chega a falar!
Vivemos a era dos audaciosos. O homem parece concordar com Napoleão quando dizia que a melhor forma de defesa é o ataque. E assim procedem indistintamente. Dir-se-á que a humanidade está cavando a sua própria sepultura, permitindo que os excessos, as ambições, anulem os princípios da verdadeira liberdade responsável, tão necessária à formação de personalidades integras como o ar que respiramos e a água. Ninguém parece ver nós seus semelhantes (descontadas honrosas exceções) seres humanos vivos, com necessidades múltiplas para formar caracteres exemplares, sensíveis, tolerantes, humanitaristas – personalidades libertarias capazes de saber dar, produzir conscientemente, sem ambições para além daquelas que possam servir a si, ao grupo, á coletividade de que faz parte. O partidarismo político tornou-se brutalizador, os governantes modernos apressam a conversão de povos racionais, pensantes, em números catalogados, fichados, codificados eletronicamente por ordem alfabética. Por isso o mais -importante- material de consumo nos dias de hoje são os chavões, os -slogans-, por não exigirem esforços de raciocínio. Ninguém mais parece querer estudar, pesquisar, saber a verdade.
     Em discurso aos portuenses o presidente da republica advertiu que não admitiria -anarquia-. Referindo-se às greves e manifestações -populares- orientadas pelas esquerdas festivas. Maria de Olhão do Jornal do Algarve externa suas preocupações a propósito do mau uso da liberdade, concluindo: <>. Com preocupações semelhantes, Homem Cristo (pai) fazia publicar em Madrid no ano de 1922 um livro intitulado Anarquia em Portugal e explicava o <> termo ao longo de 1.001 páginas, parte das quais em corpo 6, para concluir: <>. (São Lenine, na expressão de Máximo Gorki – in Bolsciaia Sovietsknia Entklipedia, 2.ª edção, 1950, tomo 2.°-pag. 356). Em palavras não menos contundentes afirmava o sucessor-herdeiro de Lenine: . (São Staline, na expressão do trotskista Julian Gorkin, in Bolsciaia Societsknia Entiklopedia, 4.ª edição, tomo XXV, pag. 76).
Menos sereno e algo -condescendente- apresenta-se um dos maiores teóricos do fascismo lusitano: <>. (Do herdeiro de Salazar –Marcelo Caetano, in Princípios e Definições, Lisboa, 1969).
     Com linguagem comum, direita esquerda e contro parece ter sua jurisprudência firmada, unânime. Anarquia e Anarquista é o mesmo que <<>>. Há ainda quem veja Anarquia como uma <>. Chega-se a ver mais perigo e maior preocupação na palavra Anarquia do que num ex-chefe da Juventude Nazista como Baldur Von Schirach, monstro a quem Tribunal de Nurenberg acusara de <<>>. A cada instante topamos com Baldures, com Mussoline, Staline, Salazares e Hithers dispostos a desafiar os direitos humanos, a liberdade e a paz, contudo esses psicopatas não chegam a ser tão <> quantos os anarquistas.
     Enquanto enciclopédias e homens (ilustres) nos ensinam idéias por meios tão curvos, Pequeno Dicionário do Pensamento Social conclui: (anarquia - vocabulario formado por meios tão curvos,pequeno dicionarioo >. Melhor dito: É um estado de sociedade onde a liberdade responsável, a fé nos direitos e necessidades humanas, nos princípios da razão e da tolerância, ligam os homens emocionalmente pelo coração e pelo amor fraterno. Sua meta mais importante, consciente, e unir a sociedade humana por meio do livre acordo, sempre dissolúvel, com vista a um amanhã cada vez melhor para todos.
     E como definem suas idéias os anarquistas, que contam entre os seus teóricos com algumas das maiores expressões do pensamento e da cultura mundiais?

     Falar de anarquismo no sentido correto, segundo seus ideólogos, é o mesmo de falar da mais completa felicidade humana, da mais ampla liberdade, duma idéia que pretende substituir a propriedade privada pela coletiva, o Estado por uma ordem generosa e boa na qual possa existir um bem-estar individual e coletivo. Se há alguma coisa a censurar no anarquismo, afirma, só pode ser o seu otimismo, a confiança na bondade (ingénua) do homem.
     O anarquista ampliando a idéia cristã vê em cada homem um irmão, um seu igual, não um irmão inferior e faminto a quem pratica caridade, mais um cidadão a quem deve justiça, proteção e defesa. (Anarquia, Manuel Gonzalez Prada).
     Anarquismo é um tesouro intelectual, emocional, ético, legado no curso dos séculos, elaborado por homens que se preocupam em analisar os problemas humanos e falar de sua solução. Em síntese o anarquismo enfaixa os seguintes princípios: 1.°- tendência suprema da natureza humana caminhando em busca dos mais amplos estágios da felicidades; 2.°- todos os seres humanos têm direitos e deveres dobre a Terra; 3.° - a liberdade é um exercício imprescindível-mente necessário à natureza, sua evolução individual e coletiva processa-se com o exercício da fraternidade e da ajuda mútua; 5.° - as normas de convivência humana têm como base a orientação para grandes estágios de felicidade aspirados desde sempre pela humanidade. (Que és el Anarquismo, de H. Plaja e B. Cano Ruiz).
     José Oiticica, uma das maiores expressões da cultura brasileira, a quem muitos intitulam de sábio, define anarquia em 30 pontos principais, onde encontramos: 1.° o território de cada país será dividido em zonas federadas, cada zona em municípios em comunas; 2.°- a divisão por zonas e municípios obedecerá ao critério de acúmulo geográfico, isto é, à feição particular de cada uma, atinente ao gênero de industria por explorar ou à distribuição das populações; 3.°- em cada comuna, os trabalhadores se reunirão em classes, conforme seus ofícios, manuais ou intelectuais; 4.°- cada classe resolverá, nas suas assembléias, tudo quanto se refira aos serviços comunais; 5.°- para coordenação e direção dos serviços e execução das medidas tomadas nas assembléias, haverá conselhos comunais, municipais, federais e um internacional ; 6.° cada classe de uma comuna escolherá um delega no para o conselho comunal, um delegado para o conselho municipal, cada conselho municipal, um delegado para o conselho federal e cada conselho federal, um para o conselho internacional. ( Princípios, Fins e Meios, Dr. José Oiticica).
     Anarquia, segundo outro brasileiro, tem por base a organização livre sem Estado; o livre acordo sem autoridade constituída : a liberdade sem coação institucional ; a socialização dos bens sem propriedade privada ; comunismo sem salariato ; apoio mútuo sem concorrência ; federalismo sem centralismo; livre exame sem dogmatismo (Anarquismo – Roteiro da Libertação Social, Edgard Leuenroth).
     De forma muito clara explica eminente escritor russo: (Anarquia é inevitavelmente o proximo e o mais alto grau de evolução humana. Com o desaparecimento do estado, os homens viveram socialmente reunidos, não sendo, todavia, esta sociedade baseada no poder governamental mas, exclusivamente, sobre a obrigação de cumprir um contrato comclido livremente. O livre desenvolvimento do individuo em glupo, associações, livre disposição do simples para o composto, segundo as nessecidades e as tendências, eis a forma da sociedade furura). (Anarquia, Pedro Kropotkine).
     Já para o maior opóstolo cristão do século XIX, os homens que tiverem reconhecido a verdade devem convencer em nome do amor o maior numero possível de indivíduos da necessidade da transformação social e fazer surgir assim à sociedade nova depois de abolido o direito privado, o Estado e a propriedade. O amor reclama que a propriedade desapareça para dar lugar à partilha dos bem, e exige que o estado seja substituído por uma vida social baseada unicamente nas leis do amor. (Leão Tolstoi). Na concepção anarquista, o homem completa-se exercitando os músculos e o cérebro. O homem digno desta classificação é aquele que não coloca sobre os ombros dos outros a sua existência. Um homem vale outro, por isso a inteligência favorece o que possui em maior escala, não lhe dá amor o direito de explorar ou governar os outros. (Anarquia, Jean Grave).
     Ninguém se deslustra com ser anarquista – dizia no final do século passado em sua tese de doutoramento o ilustre Silva Mendes – são-no algumas das maiores individualidades da atualidade: H. Spencer, Kropotkine, Eliseu Reclus, Tolstoi, Ibsen, isto é, o maior sociólogo do opóstolo da liberdade, o maior geógrafo, o maior cristão e o maior dramaturgo. (Prof.ª Silva Mendes).
     A liberdade, a moral e a dignidade humana do homem consistem precisamente em fazer o bem, não porque lhe é ordenado mais porque o concebe, o quer e ama, isto é anarquia (Miguel Bakunin). Uma sociedade perfeita – afirma conhecido evangelista – é aquela que rechaça todas as formas de propriedade privada. Este foi o primitivo bem-estar que o pecado de nossos primeiros pais destruíram. (São Basílio).
     Para um dos maiores Sociólogos modernos (Anarquia é a forma mais pura e genuína da vida). (Karl Mannheim). (A mais perfeita forma de sociedade encontra-se na união da ordem e da anarquia). (Proudhon); anarquia não é uma sociedade sem ordem, nem ausência de governantes significa necessariamente ausência de ordem!
     Anarquia é um Mundo Novo onde sobressaem os valores da liberdade e da igualdade, acima da técnica e das nacionalidades. (Herbert Read).
     Sem descer a uma pesquisa minuciosa já se pode concluir que a palavra Anarquia, usada a torto e a direito para explicar e justificar a incapacidades políticas partidárias, falências econômicas, administrativas, educacionais, de ensino, e culpar os anarquistas pelas manifestações públicas resultantes de desníveis sociais e culturais mantidos a ferro a fogo através dos séculos, é de uma ingenuidade ímpar! Anarquia não é o mesmo que desordem e também não é o mesmo de homem-máquia para servir passivamente, cegamente, aos detectores de mentiras usados pelas autoridades estatais, eletronicamente, invadido os pensamentos íntimos, nem o anarquista é o (homem-ideal) para ser moldado mediante substancias químicas capazes de produzir mutações genéticas deixar-se transformar socialmente nem assimilador de seus meios de comunicação massificadores, um engolidor de formas eficazes de sublimação de ordem genocida, um instrumento passivo às lavagens cerebrais. Tão pouco aceita a alienação, a automatização mecânica dos novos (líderes).
     Ao contrário, Anarquia pretende se uma ordem ecológica, desintoxicante de comunidades onde a vida humana se desenvolva harmonisiosamente dentro da cultura, da solidariedade humana nascida do mais profundo ser individual. É uma <
> que deseja aliar a ciência, mecânica e a eletricidade responsável pelo progresso tecnológico para frutificar dignamente emancipando o escravo, a massa, o rebanho e em favor da liberdade coletiva. Quer o homem liberto das amarras subjetivas de temores imaginados pelo subconsciente, da ignorância, com vista à realização de uma obra capaz de se situar na sua época e no seu tempo, Anarquia é uma ordem ecológica por excelência, onde a tecnologia não separará o homem da natureza, porque o anarquista tem como meta a igualdade social no indivíduo no mundo natural de integração, As experiências terão um sentido novo de integração no desenvolvimento da coletividade ajudando a desabrochar todas as potencialidades humanas, de vez que o homem é o centro do Universo, o elemento mais importante a preservar, a desenvolver, é a continuação da vida.
     E se há quem chame ao direito de reivindicar alguma melhoria ou manifestar seu descontentamento com os governantes, (desordem), (anarquia), o que teremos de chamar a quem, abusando de suas funções puramente administrativas, espancar, prende, deporta, fuzila e declara guerras onde se matam mutuamente milhões de jovens sem saber porquê?
     Por certo, isto não é anarquia.
     E se os desejos, de igualdade na Terra, de amor fraterno, de paz social, se felicidade na Terra, que são dos anarquistas, é uma utopia, o que podemos pensar daqueles outros que acreditam na salvação das almas, na reencarnação dos espíritos e de que um dia chegará ao Céu para ficarem sentados ao lado de S. Pedro?
Certamente, isto se chama utopia!

Edgar Rodrigues
Extraido do livro: ABC DO ANARQUISMO
Paginas 7 à 17
Editora: assírio & alvim
Ano:1976

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