Pesquisar este blog

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Os Mártires de Chicago

Os mártires de Chicago amaram a beleza,
Raiando intensamente em toda a natureza!
Fui eu que acalentei no peito dos Heróis,
As doutrinas de Paz tão lindas como Sois,
Que hão-de tornar em dia o mundo fraterno,
Um mundo que não tenha vida desigual
Que gera o vício, o crime, as lágrimas de dor;
Um mundo todo luz, um mundo todo Amor!
(A. Alves Pereira)

O ano do centenário da greve geral (1886-1986) que deu origem às manifestações de 1° de maio, nada melhor do que uma síntese de trajetória da luta do proletariado pelas oito horas diárias de trabalho que deslocaram na Tragédia de Chicago e no enforcamento de cinco trabalhadores anarquistas.
Antes de passar o calendário como data consagrada aos trabalhadores, o 1° de maio foi um dia de reivindicações e de greves. Está ligado diretamente aos “MÁRTIRES DE CHICAGO”, faz parte desta tragédia criminosa levada às últimas conseqüências pelo governo norte-americano em 1886-7, integra a luta pelas oito horas de trabalho diárias.
A primeira pessoa de que se tem noticias que dividiu o dia em três partes foi o monarca inglês Alfredo, no ano de 898. Dizia ele que precisava de oito horas para exercícios de piedade, oito horas para dormir e oito horas para recreação e estudo. E como não tinha relógio, regulava-se por tochas que ardiam em cada um dos períodos.
Ainda na Inglaterra, nos século XIV e XV, alguns artífices recusaram-se a trabalhar mais de oito horas quando a lei estabelecia 14. O escritor inglês Adam Smith também foi de opinião que a jornada de trabalho deveria ser de oito horas e defendeu-a em suas obras, coincidindo com a recusa dos mineiros de Newcastle de trabalhar mais sete horas por equipes.
Na Espanha, Felipe II, em gesto que ficou na historia, decretou no dia 10 de fevereiro de 1579:
“Queremos e ordenamos que os mineiros trabalhem oito horas por dia, em dois turnos de quatro cada um”.
Por sua vez o pedagogo Cominius (1592-1671), membro da seita “Irmãos Moravos” também proclamou a jornada de oitos horas. Todavia, considera-se o pai das oito horas, Denis Veiras, nascido entre 1635/1639, em Ales. Viveu a maior parte de sua vida na Inglaterra, França e Holanda, e é autor da Historia dos Sévarambes, publicada em 1677.
Com objetivos sociais, Claude Gilbert (1652-1720) escreveu a Historia da ilha Calejava, publicada em 1700, fixando a jornada de trabalho do povo dos Avaítas em cinco horas.
Roberto Owen, no ano de 1817, estabeleceu as oito horas de trabalho, para um sistema comunitário de sua autoria.
No entanto os primeiro trabalhadores a declarar-se em greve pelas oito horas parece ser fiandeiras de algodão de Nottingham, no ano de 1825, segundos os operários filiados ás Trade-Unions, de Manchester, que exigem as oito horas em 20 de agosto de 1833, fixando o dia 1° de março de 1834, para entrar em vigor as 48 horas de trabalho semanais para os menores de nove a 16 anos de idade. Aderiram a este movimento na Inglaterra, as mulheres Jardineiras.
Em Lyon, Gabriel Charavay, da Facção blanquista. Em março de 1849, pronunciou a jornada de oito horas para todos os trabalhadores.
E, finalmente, de 3 a 8 de setembro de 1866, a Primeira Internacional dos Trabalhadores, em congresso na cidade de Genebra, declara: “1.° - O Congresso considera a redução das jornadas de trabalho, o primeiro passo para a emancipação operaria”. Esta posição é confirmada nos 2.° e 2.° congresso (2 a 8 de setembro de 1867 e 6 a 13 de setembro de 1868).
Nos Estados Unidos da América do Norte as greves pelas oito horas começaram com os carpinteiros de Filadélfia em 1827. Mas tarde, por pressão operaria o presidente Van Buren “proibia que os meninos de Massachusseis e Connecticut trabalhassem mais de 10 horas por dia, 1842”.
Em 1845, explodem novas lutas pelas oito horas em Nova Iorque, e um 1848, operários de uma firma de colonização neo-zelandeza conquistam às oito horas.
Desde então nunca mais cessaram os pedidos de redução de horário de trabalho até que em 1866, alguns congressistas americanos apresentam lei reduzindo a jornada de trabalho. No ano seguinte, um Congresso de trabalhadores em Chicago, força o governo a decretar (1868) as oito horas para os estabelecimentos da Republica Americana. Mais isso não era tudo que os operários queriam. E no mês de outubro de 1884, a “Federação de agrupamentos do Comércio e Uniões de Trabalhadores dos Estados Unidos” decidem, em seu quarto Congresso, realizado em Chicago, levar a cabo a Greve geral, para a conquista das oito horas de trabalho, elegendo o dia 1.° de Maio de 1886, para inicio da grande arrancada social.
Esta data corresponde para a “América do Norte, na pratica o dia de transação econômica”.
A greve explodiu no dia eleito pelos congressistas operários e no dia 4 de maio teve um desfecho regado a sangue humano, com muitos mortos e feridos. A tragédia resultou na prisão de oito anarquistas e sua condenação a morte, mediante um julgamento-farsa (conforme viria declarar mais tarde o governo daquele estado ao libertar três dos oito condenados), quatro dos quais executados na força (Luiz Lingg suicidou-se na véspera), em novembro de 1887. Os três restantes, num segundo julgamento foi-lhe comutada as penas.
Os responsáveis maiores pela pratica desse crime premeditado foram o juiz Gary, o promotor Grinnel, o governador do Estado e o Presidente da República.
A tragédia repercutiu no mundo com tanta intensidade, que o dia 1.° de Maio converteu-se, pela persuasão do seu eco, em feriado universal. E, desde então, o dia 1.° de Maio ficou na historia como um marco a lembrar os mártires de Chicago que perderam sua vida pelas oito horas de trabalho. Hoje, em muitos países o dia 1.° de Maio é um dia de festa; noutros um dia de exibicionismo militar, de desfile de tanques de guerra, mas ainda há quem lhe dê o verdadeiro sentido e o comemore como um dia de protesto.
No Brasil o 1.° de Maio até 1930, sempre foi comemorado um dia de protesto. Os sindicatos revolucionários na luta de classe promoverão memoráveis manifestações na Praça da Sé, em São Paulo, na Guatemy Martins, em Santos e nas Praças Mauá e Onze no Rio de Janeiro, a cujos comícios acorreram imensa massa humana de operários. Todos sabiam o significado histórico desse dia regado com o sangue de cinco anarquista: Luiz Lingg, Adolfo Fischer, Jorge Engel, Augusto Vicente Teodoro Spies, Alberto R. Parsons, enforcados; Samuel Fielden e Miguel Schwab, condenados a prisão perpétua e a 15 anos Oscar W. Neeb, enquanto mais de uma centena de homens, mulheres e crianças morrera, na Praça Haymark, no dia 4 de maio de 1886, pisoteados, fuzilados e espadeirados pela cavalaria Ianque.
Anos mais tarde os três que escaparam à execução foram libertados e declarados inocentes, tal como os cinco enforcados. Hoje resta um monumento no Cemitério de Waldheine em Homenagem aos cinco anarquistas em cujo pedestal foram escritas palavras de Spies pronunciadas no final do julgamento: “Não tardará o dia que o nosso silêncio será mais eloqüente do que as vozes que acabais de sufocar

.

.

Extraído: ABC do sindicalismo revolucionário
Autor: Edgar Rodrigues

Editora: achiamé
Paginas: 41 á 45

Ano: 1987

Nenhum comentário:

Postar um comentário