O clero era, então um dos mais terríveis inimigos da ciência, da arte, do bem-estar social para todos e da liberdade. Tudo para a Igreja tinha que ser violado, deturpado e, para conseguir tais coisas, ludibriava os menos avisados chefes de família e estes eram tantos que lhes proporcionavam uma força e um prestigio sem limites.
Desde os primórdios do seu aparecimento sobre a face da terra, o clero se organiza no poderoso quartel general de Roma e ali alabora planos e expede-os para as suas sucursais espalhadas pelo universo.
No ano 120, inventaram a água-benta; no ano
O Brasil foi uma das suas grandes presas. País rico e com uma fabula extensão territorial fértil e pouco povoado, abriu de tal maneira os apetites do clero, que logo aportaram, invadindo seu território e montaram sucursais de Roma, por toda a parte. No começo, humildes e insinuantes, mas logo agressivos, vingativos e traiçoeiros até à medula. Confessores dos reis, dos imperadores, dos ministros, dos políticos, capelões de fazendas, dos presídios e muito especialmente, confessores de mulheres e educadores de crianças (1), conseguiram penetrar nos segredos familiares e, de posse destes, roubar terras, prostituir mulheres e meninas. Tudo se fazia em nome de Deus e da Virgem Maria, e graças à terrível, mas sutil habilidade, o clero é ainda hoje o maior latifundiário, depois do Estado. Tornou-se tão escabrosa a conquista e o roubo de Terras por certas facções da Igreja de Roma, que também o padre Cepeda, num documento célebre, diz o seguinte: “Os insignes ladrões do colégio dos jesuítas do Rio de Janeiro” e continua: “principalmente o padre Luiz de Albuquerque foi durante vinte e quadro anos, procurador da causas e tantas terras furou para a Religião e nunca perdia uma demanda porque via alguma mal parada, furtava os autos, custasse o que custasse”. (2). O roubo campeava nas hostes clericais, e para que tudo desse certo organizaram-se seitas aparentemente de escolas deferentes, mas na realidade com fins exatamente iguais: o roubo em favor da igreja.
Frades organizavam “trust” do comercio, na agricultura e no contrabando. Tornou-se famoso o “trust” da carne,
Trava-se, então, uma luta sustentada de um lado pela “A Lanterna”, que logo recebeu o apoio da Classe operaria organizada, e do lado oposto, um grupo do clero e seu Exército de crentes. Idália de Oliveira fora internada no orfanato, pelo tutor Stamoto, e logo estrangula e enterrada no quintal do colégio, por não aceitar passivamente as tentativas do tarado sexual, padre Faustino. O algoz de Idalina lagrou vencer-lhe a pouca resistência física e como esta, mesmo assim não cedia aos intentos bestiais, matou-a. Toda via, os homens da “A Lanterna”, logo descobriram o crime, levando-o para os conhecimentos de seus leitores, tendo os anarquistas e o movimento operário promovido estridentes comícios, onde se manifestarão publicamente e através da imprensa, os pensadores liberais de então. A Igreja revida a denúncia e o padre Gastão de Morais _ na cidade de Santos _ agride com o seu guarda-chuva o velho militante anarquista Krup que esperava no Largo do Rosário, hoje Praça Rui Barbosa, o inicio do comício, onde pretendia responder as perguntas que o pairava em todas as mentes: “Onde está Idalina?” O conflito generalizou-se quando o povo tentou punir o padre que se refugiou na igreja para dar lugar à intervenção policial que impediu a realização de manifestações de protesto. Idalina de Oliveira morreu assassinada fria e covardemente, mais o seu sacrifício permitiu levantar a Opinião publica contra a “intencional negra”, representada pelo anormal padre Faustino de Campos.
Revidando com bestialidade as greves desencadeadas na Argentina, Em maio de1910, o governo de Alcoorta deporta e expulsa muitos anarquistas daquele país, alguns dos quais pretendiam ficar no Brasil. Todavia, o governo de Nilo Peçanha, temendo a ação dos “perigosos anarquistas” não o permitiu, salvo em Santos, onde o Movimento Operário conseguiu “ficar” com Florentino de Carvalho, alegando de sua condição de ex-soldado da Força Publica Paulista.
Por essa época, agitavam-se as correntes liberais em muitos países e nascia a primeira republica portuguesa, depois de alguns tiros trocados
(1) Num brilhante artigo “A Rebelião”, publicado em “A Terra Livre”, de 22 de março de 1990, o militante anarquista João Gonçalves afirmava com muito acerto, que das “crenças que sorvemos da infância, embora delas nos divorciemos, ferem-nos constantemente os ouvidos, ás vezes, parecendo mais risonhas, mais suaves, mais amoráveis que a dura e sã realidade, acodem-nos de quando em quando à mente, como a despertar a idéia de representarmos as coisas de maneira diversa do que são, sacodem amiudamente as nossas convicções, impelindo a ver o que não é e a não ver o que é”.
(2) Do livro “Sobrados e mocambos”, de Gilberto Freire. José Olimpio, Editor.
(3) Idem,idem.
(4)Idem,idem
(5)Esta denúncia levou ao banco dos réus os anarquistas Oresti Ristori, diretor de “
Extraído:
Livro: Socialismo e Sindicalismo no Brasil
Autor: Edgar Rodrigues
Editora: Laemmert
Pagina: 295 á 299
Ano: 1969