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domingo, 10 de junho de 2012

FERRER – PEDAGOGO E EDUCADOR INDESEJÁVEL...

Ferrer não foi integrado ainda no lugar a que tem direito, como criador da Escola Nova. Compreende-se: luta de classe...luta de poderes. Ferrer é um desertor da burguesia. E’ o crime que a burguesia não pode perdoar.
Nunca Ferrer distinguiu burguesia de proletários, ricos ou plebeus, homens ou mulheres: era humano, sentiu a dor universal, lutou contra a mediocridade cultivada pela educação.
E os pedagogo de laboratório, de experimentações cientificas ou educacionais na cobaia humana... Ressentem-se, quais todos, da diátese burguesa...
E Ferrer é afastado cuidadosamente do quadro social dos educadores modernos. Está por de mais próximo de nós para que o Estado ou a escola oficial o passa prestigiar, prestando-lhe as homenagens do estilo.
Aliás, a Nova Republica Espanhola, por engano (porque é muito criança e quer fazer garbo do seu liberalismo...) já se penitenciou perante o apostolo e mártir do ensino racionalista. E está na regra: homenageia a Ferrer porque esta morto, e persegue os vivos coerentes com ideias do mártir e apostolo de Escola Nova.
Demais, o Estado, filho das organizações sociais, defendido, protegido, mantido pelas quatro castas da civilização moderna – o capitalista, o militar, o sacerdote e o político – dos quais, o capitalistas e o padre exercem predomínio absoluto, movendo os cordéis do imenso “guignol” social, o Estado obedece e acata as deliberações e a atitude farisaica da Igreja Romana – a mais admiravelmente organizada de todas as organizações sociais do mundo hodierno.
Ferrer é filho espúrio e moral social. Porque, defender os interesses do proletariado ou pretender colocar em igualdade de condições sociais, em igualdade de direitos com a burguesia, é quase ofensa aos brios invertidos das classes parasitarias, as quais vivem á custa do trabalhador, certas de que gozam de um direito divino...
Ferrer praticou mãos um crime inominável de ser absolutamente sincero e defensor, incondicionalmente, a criança – contra a escola religiosa e contra a escola oficial.
Derrubou dois altares... Iconoclasta, quebrou dois ídolos ferozes, desencadeando a tormenta por sobre o seu destino heroico.
“Nem Dogmas, Nem velhos usos, porque uns e outros representam formulas que prendem a vitalidade mental dentro dos limites impostos pelas exigências das fases transitórias da evolução social.”
“O cérebro do individuo deve ser o instrumento da sua vontade”
“Querendo que as verdades da ciência brilhem com o seu próprio brilho e ilumine cada inteligência por tal modo que, postas em prática, possam trazer felicidade ao gênero humano, sem exclusões indignas, nem exclusivismos repugnantes.”
Esse é o verbo de Ferrer.
Ser humano assim é ser ingênuo.
E a ingenuidade santa é o apanágio dos apóstolos e dos precursores e anunciadores.
Que diferencia, por Exemplo, entre Ferrer e Emile Durkheim, cujos livros de sociologia e educação constituem o breviário da Escola Nova! Tome-se um dos seus livros, por acaso, Educação e Sociologia e, em duas palavras, é doloroso verificar como os expoentes máximos da pedagogia moderna estão a serviço da reação, da sociedade e do estado.
Diz Emile Durkheim: “A educação tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança, certo numero de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política no seu conjunto, e pelo meio especial a que a criança particularmente destina.” Em resumo: “a educação á a socialização da criança.”
E’ lamentável simplesmente. E Durkheim não observa apenas o fato geral de cada sociedade ou cada Estado se aproveitar da sua autoridade para se aproveitar da sua autoridade para fazer a criança instrumento das suas ambições políticas ou sociais, Durkheim aplaude e acoroçoa essa atitude. Defende a sociologia burguesa dos acomodados...
O Prof. Paul Fauconnet, da Sorbonne (!) estudando, elogiando a obra de Durkheim, defendendo-a da critica séria, conclui, com um sofisma: “Si preparar uma pessoa é atualmente o fim da educação, e si educar é socializar, concluamos que . E’ esse precisamente o seu pensamento,”
Jogo de palavras...
O que a malicia de todos esses “sociólogos” e “professores” deseja é a socialização das massas e a individualização deles, a exceção para os tipos do escol... Parasitário. São os super-homens, os super- elefantes da cultura e dos privilégios.
Durkheim é muito claro:
“Não é admissível que a função de educador possa ser preenchida as garantias de que o Estado, e só ele, pode ser juiz. Não se compreende uma escola que possa reclamar o direito de dar uma educação antissocial”
Pena não poder dispor de tempo para analisar, neste momento, mais profundamente, o pensamento de Durkheim.
Para mim, nestes dois períodos o sociólogo prestou-nos um auxilio inestimável: A sua lógica simples fez ver que todo ensino contrario ao Estado é o filho dileto da sociedade...
Assim, qualquer Estado aproveita-se da sua autoridade, da força para defender a sociedade ou o partido político que tem o poder nas mãos. Ir contra a prepotência do Estado que faz da escola o meio de assegurar a sua hegemonia ou de um partido – é o dever dos verdadeiros revolucionários, de todos os seres humanos que amam a liberdade e respeitam os direitos da criança.
Dukheim diz ainda:
“E’ forçoso escolher: si se dá alguma importância à existência da sociedade – e nós acabamos de ver o que ela representa para o individuo – é preciso que a educação assegure, entre os cidadãos, suficiente comunidade de ideias e de sentimentos, sem o quê nenhuma sociedade subsiste; e, para que a educação possa produzir esse resultado, claro está que não pode ser inteiramente abandonada ao arbítrio dos particulares”.
Pois bem, meus camaradas, foi esse espírito burguês, estreito, de Durkheim – um dos mais notáveis pedagogos modernos – foi esse espírito estreito que matou Ferrer!
Quais de nós deseja que subsista esta sociedade de vampiros?
Quem de nós aplaude o Estado moderno, a ressurreição do nacionalismo fascista ou qualquer ditadura implacável na defesa incondicional de um partido político dominante?
A socialização da criança como postulado de educação é um crime bárbaro que a humanidade terá que pela lei de causa e efeito.
Quantos séculos ainda de erros e crimes de lesa-humanidade terão de viver nos filhos, espoliados hoje na escola da fosca e da brutalidade?!
Ferrer morreu com a consciência Iluminada porque não cometeu tais crimes.
Ferrer acreditava no avento de uma sociedade melhor, pó isso – respeitou a alma da criança.
Como todos os anarquistas sinceros, apontava o Estado como o maior responsável pela ignorância humana.
Não via claramente que à Sociedade é que deveria culpar dos desmandados e da mediocracia Estatal.
Porque o estado não é mais do que o rebento querido da Sociedade.
“Não tememos dize-lo: queremos homens capazes de evolucionar incessantemente; capazes de destruir, de renovar constantemente os meios e de renovar-se a si mesmos; homens cuja a independência intelectual seja a força suprema, que se não sujeitem jamais a ninguém; disposto sempre a aceitar o melhor, ditosos pelo triunfo das ideias novas e que espirem a viver vidas múltiplas em uma só vida.”
“A sociedade teme tais homens: não se pode, pois, esperar que queira jamais uma educação capaz de os produzir.”
Aí, viu Ferrer a sociedade como mãe do Estado...
Mau grado, a sua consciência tentou ir contra a corrente social. Esse é o verdadeiro educador.
Mais, Duekheim, cujos os livros andam por aí a fora traduzidos como obras notáveis de pedagogia, defendendo a sociedade rotineira e cheia de privilégios odiosos, chega a dizer que “nem basedow, nem Pestalozzi, nem Froebel eram grandes psicolagos. O que ha de comum e saliente nas doutrinas desses pedagogos, é o respeito à liberdade interior, - esse horror por toda e qualquer compressão, esse amor ao homem e por consequência à criança, em que se funda o moderno individualismo”. Durkheim os censura!...
Sim, porque Durkheim prega uma educação fascista na qual o Estado, a serviço de um ditador qualquer, decreta a escola-comunidade e prepara a juventude na selvajaria e na brutalidade para o assalto ao poder e ao do ministro. Durkheim aproxima-se tanto do fascismo como do bolchevismo na sua doutrina a sociologia – para a socialização ou do coletivismo até mesmo na consciência... na defesa da sociedade formada pelo mais forte grupo que souber se defender...
A sua pedagogia se presta a todos os partidos... E’ a pedagogia de vencer pela força bruta...
E nega o senso psicológico em Basedow, em Froebel e em Pestalozzi, justamente porque sua pedagogia é anti-natual e criminosa . Vejamos por exemplo, esse postulado de Durkheim :
“O homem que a educação deve realizar, em cada um de nós, não é o homem que a natureza fez, mas o homem que a sociedade quer que ele seja; e ela o quer conforme reclama a sua economia interna. (Educação e Sociologia, tradução de Lourenço Filho,p.102).
Essa educação do Estado e da Sociedade é o maior atentado, o mais inominável contra a dignidade do ser humano.
E’ simplesmente monstruoso afastar o homem da natureza e a natureza não se deixa enganar. Estamos justamente, no caos da civilização contra a natureza, pagando erros da lei de causa e efeito.
Justamente, todo educador que se presa, todo homem que vê e sente a degradação do nosso regime social – deve sonhar uma educação puramente antissocial em defesa da integridade da consciência livre.
Foi esse alto crime de traição de Ferrer... Respeitando a individualidade da criança, queria cada vez mais a libertação humana.
Cultivou a fé inquebrável na obra educacional – porque viveu pouco para ver o resultado imediato do seu esforço de educador. Não teve tempo de chegar à conclusão do que esperam em vão, após anos e anos de sacrifícios inauditos, os frutos da incorruptibilidade do caráter, depois de haverem semeado, na alma jovem dos estudantes, a semente sã e pura e generosa e fecunda da coragem heroica de ser algo além de um numero no rebanho social servil e domesticado.
Porque a imbecilidade e a covardia impedem a evolução em linha reta, sempre para frente.
Dão saltos de séculos à retaguarda... e encarceram a Liberdade e Sufocam a consciência humana.
A juventude promete. A idade madura se acovarda na apostasia do caráter, no abastardamento do respeito a si mesmo.
E a intelectualidade é a hetaira cínica do mundo moral.
Ferrer talvez o soubesse
Por isso, insurgiu-se contra a imoralidade dos prêmios e castigos, contra os rótulos e as Academias, contra as chapetas e os amuletos sociais:
“Encontramos na sociedade, homens de toda condição e de diferentes idades que não teriam dado um passo nem feito o menor esforço, si não tivessem a intima convicção de que todos os seus méritos lhes seriam contados e pagos, um dia, integralmente”.
“Os homens de governo sabem disso perfeitamente, já que obtêm tanto dos cidadãos, por meio das recompensas, adiantamentos, distinções e condecorações que outorgam. E’ isso um resto vivaz do cristianismo. O dogma da gloria eterna inspirou a Legião de Honra. A cada passo na vida encontramos prêmios, concursos, exames e prebendas: haverá algo mais triste, mais feio ou mais falso?”
Ferrer tinha confiança demais na educação racional. Não chegou a compreender que cada qual de nós só pode iluminar a si mesmo... E que todos os verdadeiros expoentes da alta cultura, da Sabedoria e da beleza, os granes Artistas, os grandes pensadores, os nobres instrutores da Humanidade foram todos autodidatas e tiveram de reagir, corajosamente, contra a educação que receberam da sociedade.
Livro: Ferrer o Clero Romano e a Educação Laica
Autora: Maria Lacerda De Moura
Paginas: 27á 42
Ano: 1934

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