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quarta-feira, 5 de junho de 2013

TODAS AS DITADURAS TÊM PONTOS DE CONTACTOS

     Se tomamos como exemplo Portugal, vamos encontrar nos seus 48 anos de ditadura, a fixação de duas grandes forças aparentemente antagônicas, alimentadas pelo mesmo sistema, que lhes deu vida, resistência e fez crescer!
     A primeira, alimentou um monstro que se arrastou vagarosamente sobre nódoas  de sangue e, viveu do medo de suas vitimas! Esta força cresceu, ajudada por aqueles que desejavam mandar, explorar, viver bem, à custa do esforço da miséria dos seus semelhantes e, principalmente, sustentada por potencialidades delinquentes que buscam em todas as nações do mundo, no exército, na polícia, nas lideranças políticas, no poder legislativo e no executivo, um “lugarzinho” que lhe permita punir sem ser punido, castigar sem ser castigado, matar em nome da lei, atrás da qual se esconde fisicamente e, graças à qual, se realiza psiquicamente!
     Força de ação dupla, pode varar os séculos, porque quando parece ter sido varrida da face da terra, quando já não é lei de efeitos físicos, ainda vive longamente invisível nas mentes humanas, a ditar normas de comportamento, aguçar interesses e ambições, provocar confrontações odiosas e até mesmo sustentar  caprichos seculares, hierarquias locais, regionais, de cor, de sexo, raciais, ideológicas, sociais, culturais, e profissionais, capazes de moldar personalidades e deformar carácteres.
     Num plano aparentemente oposto, desenvolve-se a força que rebate, condena e denuncia os crimes e as desigualdades sociais, geradas pelo poder opressor da primeira. Mas o facto, da segunda existir, em razão da primeira. Mas o fato da segunda existir, em razão da primeira, já lhes dá certa identidade de origem. São irmãs emocionais que têm origem semelhante, que existam uma em função da outra, da mesma forma que crescem, fortalecem-se e aperfeiçoam seus mecanismos de defesa e ataque simultaneamente, ainda desta vez, com os mesmos objetivos: a primeira, na intenção de não ser destruída, de não perder o seu lugar; e na segunda, de apear a primeira, anular a ação, o poder, e tomar-lhe o lugar de mando, de direção!
     Em resumo, estas duas forças, lutam pela mesma coisa: tomar o lugar da de cima e colocá-la em baixo. São como dois pratos de uma balança, em desequilíbrio, contrariando alei da gravidade, sendo que o de mais sobe, em vez de ser o mais leve, é o mais brutal, o mais audacioso, o que carrega subjetivamente maior peso, maior potencialidade delinquente em germinação.
     Nessa guerra, os crimes do governo dos ricos contra os  pobres, não são crimes... são medidas de seguranças, para acabar com a “anarquia”, para manter a “ordem”. E não falta “autoridade”, para provar que não houve quebra dos princípios humanos, que a lei, foi cumprida sem arranhões! Em contraposição, qualquer ato menos moderado dos debaixo, é crime, a lei foi traída, desrespeitada, violada...
     Mas nesta competição, se um dia os “proletários” chegar ao poder, como na Rússia, os crimes do “Governo Progressista dos Proletários” cometidos contra proletários, não são crimes... O Governo está saneando...
     Polícia Política brutal, anti-humana,só a Gestapo de Hither ou a D.G.S. de Salazar-Caetano, anteriormente chamada de P.V.D.E e depois PIDE..
     A K.G.B. soviética, anteriormente chamada TCHECA, depois G.P.U., posteriormente N.K.V.D. e mais tarde M.D.V., foi criada para “impedir” as investidas dos inimigos da “igualdade”...
     Campos  de concentração terríveis, são os dos governos burgueses: os do Tarrafal, Dancham e os presídios de Pinochet.
     Os campos de morte lenta soviéticos e as masmorras de Cuba, são lugares de reabilitação, de recuperação e de repouso...
     No meio dessa luta competitiva, onde cada candidato ao poder tenta convencer-nos de que a verdade esta do seu lado, consigo, encontrar o homem coberto de preconceitos, preso às hierarquias de classe, de cultura, de profissão, aos títulos, condicionado por costumes, tradições, crenças religiosas e politicas, cheio de temores e necessidades. E ninguém procura melhorá-lo!!!
     Nem os governos dos “ricos”, nem os governos dos “pobres”, procuram entender que um homem vale um homem e a sociedade só pode ser a soma de valores resultantes do equilíbrio emocional dos seus componentes!
     Assim sendo, é o homem que temos de elevar, a fim de que a sociedade possa colher e dar a todos e a cada um, o bem-estar social, visto que só uma sociedade composta de gente boa, pode ser boa também.
     A entrevista que antecedeu este trabalho, mostrou-nos que um regime com 58 anos de idade, trilhando caminhos deferentes dos chamados burgueses (democratas, conservadores, fascistas ou monarquistas), não soube encontrar a IGUALDADE a que se propunham os seus precursores, isto porque, tentou vencer pela força, etapas que só direitos e possibilidades iguais para todos, ensinados e cultivados racionalmente, livremente, desde o berço, com o mesmo cuidado com que se trata a saúde, poderia a longo prazo, colocar o homem lado a lado com os seus semelhantes, sem medo uns dos outros.
     Nessa conformidade, estendidos tais princípios a todas as sociedades humanas, não haveriam mais razões para se fabricar armas, construir cárceres, esconder comida, fechar portas, nem colocar um guarda em cada esquina, para nos “proteger”...

Extraído:
Titulo:  DEUS VERMELHO
Autor: EDGAR RODRIGUES
Editora: PORTO
Pagina: 98 Á 101
Ano: 1978

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