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sexta-feira, 28 de junho de 2013

UMA IDEIA ANARQUISTA

     Pensar é um direito intransferível e inalienável do ser humano, e é baseado nessa premissa que certo filosofo preconiza viver numa sociedade de homens capazes de se auto-dirigirem, de se auto-governarem pela união das forças intelectuais, trabalhadores e criadores duma nova ordem social com liberdade.
     A sua doutrina, catecismo do “imaginário paraíso”, segundo a concepção, não aceitava o princípio do salario e da mais-valia. Tão pouco permitia a existência de trabalhadores e patrões, dirigentes e dirigidos, mandantes e mandados, senhores e escravos. Todos seriam auto-suficientes, produtores e consumidores, livres, iguais!...
     Os princípios fundamentais, as ideias mestras do filósofo, sobre as quais construiria a nova sociedade, baseavam-se numa ordem generosa e positiva, com sentimentos e ações, de equilíbrio nos movimentos e atitudes, na harmonia que funde o homem e a natureza, que humaniza e forma personalidades retas, caracteres e cidadãos justos, capazes de produzir e participar, dar e receber.
     Era uma filosofia sem vinculo religioso nem políticos, partia das premissas e renovações, libertarias e anti-dogmáticas. Para esse “sonhador”, as ideias tinham que ser provocadas, e a vida era o exemplo de uma lição no seu país amplo e puro sentido. Não aceitava conceitos apriorísticos, e descria da infalibilidade. Para ele tudo era relativo. Seu fundamental razão doutrinaria apoiava-se na liberdade com responsabilidade, conceito humanista de vida, feito pacto consciente à margem da tutela de qualquer espécie, partindo do indivíduo, da associação voluntaria, para atingir a sociedade de auto-gestão, livre dos falsos intermediários. O filósofo aceitava a transformação bem acabada como fonte de sabedoria, manancial da bondade; a historia pela importância de recolher e analisar as experiências vividas, e como guia admirável, a razão na busca da verdade.
     O individuo era a base fundamental da sua sociedade! A convivência social e fraterna processava-se pelo livre-acordo, e a proteção recíproca, pelo apoio e ajuda mútua, veículo conservador e propulsor da espécie. A união das energias e o entendimento dos homens da comunidade, residia no esforço que garantia a sobrevivência, e que defendia os direitos de cada indivíduo em particular, a da sociedade em geral.
     A ideia mestra da “Nova Sociedade”, partida da natureza, princípio e fim de todas s coisas, consubstanciada pela liberdade, pelo livre acordo, verdadeira razão da vida. Segundo sua filosofia, o homem é um atleta sempre em luta por melhores dias no sentido evolutivo, e jamais deixará de ser, daí o não admitir a regressão por desejar sempre mais além da liberdade, a liberdade!...
     Entendia que o ser humano é um ser sociável e como tal procede a unir-se, a associar-se, porque, só unido e associado, se sente seguro. O homem jamais desejou viver isolado, nem fora do seu mundo porque faz parte dele. E por ser um componente da sociedade, o individuo tende, fatalmente, a ser um associado da comunidade humana.
     Sem deixar de ser um mundo de ideias “novas”, humanitarista, uma corrente científica, intelectual e ética, perfeitamente definidas doutrinariamente, a sociedade ou organização, isto é, a “Nova Sociedade” do filósofo, prevê uma nova concepção econômico-social que estabelece a livre associação dos organismos naturais do trabalho. Suas tarefas quotidianas processar-se-iam por meio da cooperação voluntaria, da responsabilidade individual e coletiva, isto é, por meio de uma coordenação e administração do esforço manual e intelectual objetivando produzir com o máximo de perfeição e da beleza.
     Propõe-se o nosso filósofo restabelecer a felicidade dos povos, instaurando uma Federação de Comunidade Livres, unidas por interesses sociais, econômicos, artísticos e culturais, sempre resolvidos mediante acordos mútuos, sem imposições nem intenções dominantes. O livre contrato, a tolerância recíproca e o desejo de auto-gestão, seriam princípios e finalidades convertidas em tácticas de luta pela conquista das riquezas naturais e da produção que o trabalho livre proporcionaria. E as riquezas resultantes desse esforço conjunto, coletivo, de produtores, seria posta à disposição da nova sociedade, isto é, dos seus mutuários que distribuiriam a cada um dos seus membros e segundo as suas necessidades .
     Em cada fase da nova comunidade, para o futuro progressivo resultante dos periódicos acordos mútuos, o filósofo apunha que “tudo dependia da capacidade e da visão dos seus componentes unidos num ideal universalista!”
     Sem riquezas nem patrimônios individuais, a comunidade não permitiria que em nome maior saber ou da esperteza, nem mesmo de organismos do trabalho livre e federado, pudesse um dos seus membros explorar o outro. A sociedade cuidaria destes problemas como da saúde dos mutualistas, para garantir o principio racional da igualdade de direitos e de idênticos propósitos de deveres de todos e de cada um.
     Em síntese: não seria um sistema perfeito, já que por princípio rechaçava todos os esquemas e conceitos de carácter absoluto, mas seria a doutrina constante do aperfeiçoamento. Não teria uma meta definitiva, porque percebia a variedade da natureza, a necessidade do progresso, do aprimoramento em todos os campos do conhecimento humano e da busca de novas formas de vida. Mas era uma permanente perspectiva aberta dia-a-dia, ao viver humano. Sem formas dogmáticas, sujeita a liberdade não tinha o sabor do abstrato, mas do razão social só podem ser transitórias, porque tudo é mutável, menos a vida, que se transmite de gerações para gerações. Evoluir até alcançar um estágio amplo, dentro da liberdade, da igualdade e do amor fraterno, era a sua obsessão. Para o filósofo a liberdade não tinha o sabor do abstrato, mas do concreto, que permitia o desenvolvimento da capacidade na criatura humana, que fomenta e desperta a grandeza dos sentimentos de solidariedade entre os povos, que modela o caráter e cultiva o amor ao próximo como a si mesmo! Só a liberdade, segundo a sua concepção ideológica, movimenta os homens no sentido de buscar belos e harmoniosos estágios de justiça social, porque liberdade era a alma, era a luz da sua ideia.

Rio de Janeiro, Maio de 1975.
EDGAR RODRIGUES

Extraído:
Titulo:  ABC do anarquismo
Autor: Edgar Rodrigues
Editora: ACHIAMÉ
Pagina: 93 Á 97
Ano:1976

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