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domingo, 26 de maio de 2013

FEMINISMO

     A palavra “feminismo”, de significação elástica, deturpada, corrompida, mal interpretada, já diz das reivindicações femininas.
     Resvalou para o ridículo, numa concepção vaga, adaptada incondicionalmente a tudo quanto se refere á mulher.
     Em qualquer gazeta, a cada passo, vemos a expressão – “vitorias do feminismo” – referente, ás vezes, a uma simples questão de modas.
     Ocupar posição de destaque em qualquer repartição publica, viajar só, estudar em escolas superiores, publicar livros de versos, ser “diseuse” ou “dictriz” divorciar-se três ou quatro vezes pelas colunas do “Para-Todos”, atravessar a nado Canal da Mancha, ser campeã de qualquer esporte – tudo isso constitui as “vitorias do feminismo”, vitorias que nada significam perante o problema humano da emancipação da mulher.
     E’ tática bem manejada pela civilização unissexual: enquanto as mulheres se contentam com essas vitorias, a sua verdadeira emancipação é posta de lado ou nem chega a ser descoberta pelos reivindicadores de direitos adquiridos.
     As verdadeiras reivindicações não podem limitar á ação caridosa ou a simples direito de voto que não vem, de modo algum, solucionar a questão da felicidade humana e se restringirá a um numero limitadíssimo de mulheres.
     Aliás, quando os homens de bem retiram-se, nem ostracismo voluntario, dessa politica de latrocínios oficializados, dessa bacanal parasitaria, desse despudor em se tratando dos negócios públicos; quando se decreta, positivamente, a falência, o descredito do parlamentarismo, do Supremo Tribunal, do Senado, de toda a maquina governamental de uma sociedade em plena decomposição – é agora que a mulher acorda e sai correndo atrás do voto, causa que deveria ter reivindicado há 200 ou 300 anos atrás... E supõe, ingenuamente ou maliciosamente, estar cuidando dos interesses femininos, dos interesses humanos.
      A mulher, deixando-se gostosamente explorar e certa de que, nesta civilização de escravos, ganha, cada dia, mais terreno, reivindicando direitos civis e políticos, convencida de que se bate pela mais justa das causas humanas, pela sua emancipação.
     Em que consiste a emancipação feminina? De que serve o direito politico para meia dúzia de mulheres, si toda multidão feminina continua vitima de uma organização social de privilégios e castas em que o homem tomou todas as partes do leão?
     De que vale o direito do voto para meia dúzia de mulheres no Parlamento, si essas mesmas continuam servas em uma ordem social de senhores e escravos, exploradores e explorados, patrões capitalistas e assalariados?
     Indaguemos do nosso caboclo, eleitor de qualquer cabo eleitoral, si o voto o emancipou, si a sua vida de trabalhador rude não o condena mais á geena de escravidão nas mãos do fazendeiro de café ou do senhor de engenho.
     E, desde o eleitor colono, moderno escravo social, até as mais altas dignidades politicas, todos são escravos, condenados, sufocados nas malhas da própria inconsciência, na ignorância cultivada através da imbecilidade humana, através da domesticidade milenar.
     Quem pode falar em emancipação feminina, em emancipação humana, dentro da lei, dentro da ordem social?
     Enquanto a mulher reivindicar direitos civis e políticos, se esquece de pugnar pelos verdadeiros direitos femininos que os direitos humanos: os de individuo, direito á liberdade, direito á vida, direito animal na escala zoológica.
     Por isso, é duplamente escrava: é escrava do homem e é escrava social com o seu companheiro, quer faça ele parte do proletariado, quer seja rei da industriam como Ford ou primeiro ministro, ditador, como Mussolini.
     Nunca a mulher andou mais errada do que quando pensou estar certa reivindicando os direitos políticos.
     Devolvo, desde já, os aplausos dos anti-feministas: o meu ponto de vista é absolutamente oposto, é muito individualista e ácrata.
     Não quero a mulher no “lar sagrado”, nem descanto a meiguice das dulcinéas sabidas, da casta Suzana... o lar da civilização-burguesa capitalista é uma pandega, e eu falo seriamente.
     Dói-me o coração ver a ignorância e o servilismo da mulher, instrumento do passado a serviço de uma sociedade de privilégios e que se apoia, ferozmente, na exploração do homem, nas guerras – cujas vitorias são ganhas a poder do álcool e do éter.
     Em uma época das mais decadentes, no meio de toda essa corrupção, quando os homens de Estado não descem mais porque não têm mais para onde descer, os que sobem se rebaixam, e os políticos profissionais vivem de negociatas fantásticas e tudo é cabotinismo e palhaçada, - é nesta época de dissolução que a mulher quer partilhar das responsabilidades na derrocada coletiva.
     Podemos afirmar que mais empenhadas nos direitos políticos são as que querem, para si, posições e dignidades, as que apoiam as suas pretensões vaidosas nas considerações sociais, as que falam banalidades e menos pensam em prol das suas companheiras de escravidão as que buscam o cenário mesquinho das glorias efêmeras, para exibições e cabotinismo.
     Ou dão a entender que tudo vae otimamente e que também elas fazem e questão de juntar a sua voz á  desintegração total e já estão desfibradas, domesticadas, já se fizeram politicas e, portanto, são capazes de todas as maroteiras dos nossos clown parlamentares, ou então, há na sua reivindicação de direitos políticos, ingenuidade lamentável, quixotesca: a de pretender concertar esta maquina desmantelada pela ação do tempo – implacável na destruição das velharias embalsamadas.
     Ou a mulher se fez politico, adquiriu á força de domesticidade e baixezas, a alma do politico e vae, desgraçadamente, pactuar com os pais da pátria no degenerar de todas as fibras do caráter nacional, ou, ingenuamente, pensa endireitar todo o mecanismo governamental desconjuntado pelo tempo, lutando contra moinhos imaginários, esquecendo-se de si mesma para seguir sonhos impossíveis e ideias utópicas, inteiramente no mundo da lua. Em conclusão: deixar-se-á plasmar ao contato das almas enlameadas dos que só pensam no ventre e para o ventre.

Extraído:
Livro: Amai e... não vos multipliqueis
Autor: Maria Lacerda de Moura
Editora: Civilização Brasileira
Pagina: 37 á41
Ano: 1932

sábado, 25 de maio de 2013

O Fracasso do cristianismo (1) EMMA GOLDMAN



"ECCE HOMO" George Grosz -1924
Manter sua boca fechada e fazer o seu dever!

     Os falsificadores e envenenadores de ideias, na tentativa de obscurecer o limite entre a verdade e a falsidade, acham um valioso aliado no conservadorismo da linguagem
     Concepções e palavras que há muito perderam seu significado original continuam, por séculos, a dominar o gênero humano. Especialmente se estas concepções se tornarão um lugar-comum, se elas foram incutidas em osso ser desde nossa infância como grandes e irrefutáveis verdades. As mentes comuns são facilmente contentadas com coisas herdadas e adquiridas ou como que dita os pais e professores, porque é muito mais fácil imitar do que criar.
     Nossa era deu à luz dois gigantes intelectuais que empreenderam uma transvaloração dos valores sociais e morais mortos do passado, especialmente aqueles contidos no cristianismo. Friedrich Nietzsche e Max Stirner lançaram sobro contra os portais do cristianismo, porque viram nele uma moralidade escravizante perniciosa, a negação da vida, o destruidor de todos os elementos que compõem a força e o Caráter. Enfim, Nietzsche opôs-se á ideia da moralidade escravizante inerente ao cristianismo em favor de uma moral de mestre para poucos privilegiados. Mas eu arrisco sugerir que a ideia de mestre não teve nada a ver com a vulgaridade de categoria, casta ou riqueza. Ao contrario, ela significa a potência nas possibilidades humanas, a tradições e valores exauridos, de forma que ela possa aprender a se tornar o criador de coisas novas e belas.
     Nietzsche e Stirner viram no cristianismo o nivelador do gênero humano, o destruidor do desejo do homem de ousar e fazer. Eles viram em todo movimento construído sob ética e a moralidade cristã tentativas não de emancipação da escravidão, mas de sua perpetuação. Consequentemente eles se opuseram a estes movimentos com toda força.
     Quer concorde ou não completamente com estes iconoclastas, eu acredito, como eles, que o cristianismo é admiravelmente adaptado para o treinamento de escravos, para a perpetuação de uma sociedade de escravos; em resumo, para as mesmas condições que confrontamos hoje. Na verdade, nunca poderia uma sociedade ter se degenerado a essa apavorante fase atual, se não pela ajuda do cristianismo. Os governadores da terra perceberam há muito tempo o poderoso veneno inerente à religião cristã. Essa é a razão porque eles a nutrem; esse é o motivo porque eles não deixam nada por fazer para incutir isso no sangue das pessoas. Eles sabem mito bem que o mais penetrante dos ensinamentos cristãos é uma mais poderosa proteção contra a rebelião e o descontentamento  do que a ordem ou a arma.
     Sem dívida ou diria que, apesar da religião ser um veneno e o cristianismo institucionalizado o maior inimigo do progresso e da liberdade, há algum bem no cristianismo “ele mesmo”. Sobre os ensinamentos de Cristo e do cristianismo primitivo eu poderia ser questionada: eles não representam o espírito da humanidade, do direito e da justiça?
     É justamente essa afirmação frequente essa afirmação frequentemente repetida que me induziu a escolher este assunto, me permitiu demonstrar que os abusos do cristianismo, assim como os do governo, são condicionados por si mesmos, e não devem ser transferidos aos representantes do credo. Cristo e seus ensinamentos são a inércia, da negação da vida, consequentemente, é responsável pelas coisas feitas em seu nome.
     Eu não estou interessado no Cristo teológico. Mentes brilhantes como Bauer (2), Strauss (3), Renan (4), Thomas Paine (5), e outros refutaram esse mito há muito tempo. Eu estou até mesmo pronta a admitir que o Cristo teológico não representa nem a metade do perigo que Cristo ético e social. Na proporção em que a ciência toma o lugar da fé cega, a teologia perde sua influência. Mas o Cristo-mito ético e poético está tão fartamente presente em nossas vidas que até mesmo algumas das mentes mais avançadas acham difícil se emancipar de seu jugo. Eles livram-se das epístolas, mas retém o espírito; contudo é o espírito que está por trás de todos os crimes e horrores cometidos pelo cristianismo ortodoxo. Os padres da igreja podem se ar ao luxo de bem orar o evangelho de cristo. Ele não contém nada de perigo para o regime da autoridade e da riqueza; ele representa abnegação, penitência e arrependimento, e é absolutamente inerte frente a toda (in)dignidade, a toda afronta ao gênero humano.
     Aqui eu devo voltar aos falsificadores de e palavras. Muitos sérios opositores da escravidão e da injustiça confundem da maneira mais infeliz, os ensinamentos de Cristo com as grandes lutas para emancipação social e econômica. Os dois serão sempre irrevogavelmente opostos um ao outro. Um necessita coragem, ousadia, desafio e força. O outro prega o evangélico da não-resistência, da aquiescência servil do desejo dos outros; é o descuido completo do caráter e da autoconfiança, é, portanto, o destruidor da liberdade e do bem estar.
     Quem anseia sinceramente por uma mudança radical as sociedade, quem se esforça para livrar a humanidade do açoite da dependência e da miséria, tem que dar as costas ao cristianismo, tanto ao antigo como também á sua forma presente.
     Em todos os lugares e sempre, desde seu mais remoto passado o cristianismo transformou a terra em um vale de lagrimas; sempre fez da vida uma coisa fraca, doente, sempre instalou medo no homem e o transformou em um ser dual cujas energias de vida são gastas na luta entre o corpo e a alma. Depreciando o corpo com algo mal, a carne como tentadora para tudo o que é pecado, o homem tem multilado seu ser na tentativa vã de manter sua alma pura, enquanto seu corpo apodrece longe das injúrias e torturas infligidas sobre ela.
     A moralidade e a religião cristã exaltam a gloria do além-vida, no entanto permanecem indiferentes aos horrores na terra.
     Realmente, a ideia de abnegação e de tudo aquilo que traz dor e tristeza é o teste do valor humano, é seu passaporte para entrar no céu.
     O pobre é possuidor do céu e o rico irá ser para o inferno. Isso talvez explique os esforços desesperados do rico fazer feno enquanto o sol brilha, de tirar o Maximo que podem da terra: nadar em riqueza e superfluidade, apertar os grilhões dos escravos abençoados, os roubar dos direitos inatos, os degradar e ultrajar todos os minutos do dia. Quem Poe culpar os ricos se eles se vingam-se através do pobre, se agora é o tempo deles e só o deus cristão misericordioso sabe como o rico esta fazendo isso de forma completa e competente.
     E o pobre? Eles agarram-se à promessa do céu cristão, como a casa para os velhos, o sanatório para os corpos incapacitados e mentes fracas. Eles suportam e se submetem, eles sofrem e esperam, até que todo pedaço de seu auto-respeito seja banido, até seus corpos se tornarem-se magros e murchos, e o espírito destroçado pela espera, a infinita pelo céu cristão.
     Cristo fez a sua aparição como líder do povo, o redentor dos judeus do domínio romano, mas no momento em que ele começou seu trabalho, provou que não tinha nenhum interesse na terra, nas necessidades imediatas urgentes dos pobres e deserdados do seu tempo. O que  ele pregou foi um misticismo sentimental e obscuro, ideias confusas carentes de originalidades e vigor.
     Quando os judeus, de acordo como os evangélicos se retirarão de Jesus, quando eles o levaram para crus, podem talvez ter se desapontado amargamente com quem os prometeu tanto e lhes deu tão pouco. Ele prometeu alegria e felicidade em outro mundo enquanto as pessoas estavam passando fome, sofrendo e padecendo diante dos seus próprios olhos. Pode ser, talvez, que a condolência dos romanos, especialmente de Pilatos, tenha sido dada a Cristo porque eles o considerarão como perfeitamente inofensivo ao seu poder e dominação. O filósofo Pilatos pode ter considerado as “verdades” eternas de Cristo como anêmicas e sem vida se comparadas ao aparato de força que eles tentaram combater. Os romanos, fortes como eles eram, devem ter rido à custas do homem que falava arrependida e pacientemente, em vez de chamar seu povo a se armar contra seus despojadores e opressores.
     A carreira pública de Cristo começa com o édito: “arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus”(6).
     Por que se arrepender, por que lamentar, em face de algo que supostamente trazia libertação? As pessoas já não sofreram e suportaram o bastante: elas não tinham ganhado o direito à libertação pelo seu sofrimento? Pegue o Sermão da Montanha, por exemplo. O que é senão um elogio à submissão ao destino, à inevitabilidade as coisas?
     “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus”(7).
     O céu deve ter um lugar muito estúpido e triste se os pobres de espírito vivem lá. Como pode qualquer coisa criativa, qualquer coisa vital, útil e bonita vir dos pobres de espírito? A ideia contida o Sermão da Montanha é a maior acusação contra os ensinos de Cristo, porque ele vê a pobreza da mente e do corpo uma virtude, e porque busca manter esta virtude através e recompensa e castigo. Todo ser inteligente percebe que nossa pior maldição é a pobreza do espírito; que isso é o produtor de todo mal e miséria, de toda injustiça e crimes no mundo. Toda pessoa sabe que nada bom jamais veio ou pode vir do pobre de espírito; com certeza, nunca liberdade, justiça ou igualdade.
     “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra” (8).
     Que noção ridícula! Que incentivo à escravidão, inatividade e parasitismo! Além disso, não é verdade que o submisso possa herdar qualquer coisa. Só porque a humanidade foi submissa é que a terra lhe foi roubada.
     Mansidão tem sido o chicote que o capitalismo e os governos têm usado para forçar o homem á dependência, na sua posição de escravo. Os criados mais fies do estado, da riqueza, dos privilégios conveniente que Cristo, o “redentor” dos povos.
     “Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos”(9).
     Mas o Cristo excluiu a possibilidade de justiça quando disse “os pobres sempre os tendes convosco” (10)? Mas então cristo era grande em pronunciamentos, não importa se o que ele dizia fossem coisas completamente opostas uma à outra Isto é demonstrado tão notavelmente no comando “daí a Césas o que é de César, e a deus o que é de deus”(11).
     Os intérpretes afirmam que Cristo teve que fazer estas concessões aos poderes de seu tempo. Se isso é verdade, este simples compromisso foi suficiente para atestar, até os dias de hoje, a mais impiedosa arma nas mãos do opressor, uma horrível chicotada e um inexorável coletor de imposto para o empobrecimento, a escravização e a degradação das mesmas pessoas por quem Cristo supostamente morreu. E quando nós estamos seguros que “bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos”, nos é dito “como”? Como? Cristo nunca se preocupou em explicar isso Justiça não vem das estrelas, nem porque Cristo a desejou. Justiça surge da Liberdade, de oportunidade e igualdade social e econômica. Mas como pode o manso e o pobre de espírito estabelecer tal estado de coisas?
     “Bem-aventurados sois vós, quando injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão(12)nos céus”(13).
     A recompensa no céu é uma isca perpétua, uma isca que tem apanhado o homem em uma rede de ferro, numa camisa de força que não deixe expandir ou crescer. Todos pioneiros da verdade foram e ainda são ultrajados; todos pioneiros da verdade foram e ainda são ultrajados; eles foram, e ainda são perseguidos. Mas eles pediram para a humanidade pagar o preço? Eles buscaram subornar o gênero humano para aceitar suas ideias? Eles souberam muito bem aquele que trocará por uma oferta mais alta.
     Bem e mal, castigo e recompensa, pecado e penitência, céu e inferno, é como o espírito móvel do Cristo- evangélico tem sido o empecilho na situação do mundo. Ele retém tudo através de ordens e comandos, mais ignora completamente as muitas coisas que nós mais precisamos.
     O trabalhador que conhece a causa de sua miséria que entende a maquiagem de nosso sistema social e industrial injusto pode fazer mais, por si e pelos seus, que Cristo e seus seguidores já fizeram para a humanidade; certamente podem fazer mais do que paciência, ignorância e submissão.
      Quanto mais exalto, mais benéfico é o individualismo extremo de Stirner e Nietzsche ao invés da atmosfera de confinamento de doentes da fé cristã. Se eles repudiam o altruísmo como um mal, é por causa do exemplo contido no cristianismo, que fixa um prêmio ao parasitismo e a inércia, que dá à luz a todas as formas de desordens sociais que serão curadas com a pregação de amor condolência.
     Personalidades orgulhosas e autoconfiantes preferem o ódio que o tal adoecido amor artificial. Não é por causa de alguma recompensa que um espírito livre decide por uma grande verdade, nem é do tipo que se afugenta por medo de castigo.
     “Não cuides que vim destruir a lei ou os profetas não vim ab-rogar (14), mais cumprir” (15).
     Justamente, Cristo era um reformador, sempre pronto para remendar, cumprir, continuar a velha ordem das coisas; nunca destruir e reconstruir. Isso pode explicar a simpatia que todos reformadores têm por ele.
      Realmente, toda a historia do estado, do capitalismo e da igreja prova que eles se perpetuaram por causa da ideia de que “ eu não vim destruir a lei”. Esta é a chave da autoridade e da opressão. Então, naturalmente, Cristo não elogiou a pobreza como uma virtude; ele propagou a não-resistência ao mal? Por que a pobreza e o mal não poderiam continuar dominando o mundo?
     Muitos como eu opostos a toda religião, muitos como eu acham-na uma imposição sobre e um crime contra a razão e o progresso. Eu, contudo, sinto que nenhuma outra religião tem feito ou ajudado tanto na escravização de homem como a religião de Cristo.
     Testemunhe Cristo antes de seus acusadores. Que falta de dignidade, que falta de fé nele e nas suas próprias ideias! Tão fraco e impotente era este “salvador dos homens” que precisa que toda a família humana pague por ele, por toda a eternidade, porque ele “morreu por nós”. Redenção pela cruz é pior do que a danação, por causa do fardo terrível imposto sobre a humanidade, pelo efeito que tem na alma humana, acorrenta e paralisa com o peso do fardo cobrado pela morte de Cristo.
     Milhares de mártires pereceram, contudo, algum sequer se demonstrou tão importante como o grande deus cristão. Milhares têm ido para a morte profunda nas suas ideias que Nazareno. Eles não esperam gratidão eterna dos seus próximos por causa do que eles suportaram por eles.
     Comparado com Sócrates (16)  e Bruno (17), com os grandes Mártires da Rússia, com os anarquistas de Chicago, Francisco Ferrer e inumeráveis outros, Cristo terna-se uma figura realmente pobre. Comparado com a delicada e frágil Spiridonova (18), que sofreu as mais terríveis torturas, as dignidades mais horríveis, sem perder a fé em si mesma ou em sua causa, Jesus é uma verdadeira nulidade. Eles mantiveram-se firmes e encararam seus executores com firme determinação e, entretanto, eles, que também morreram pelas pessoas, não pediram nada em troca do seu grande sacrifício.
     Na verdade, nós precisamos de redenção da escravidão, da fraqueza e da dependência humilhante da moralidade cristã.
     Os ensinos de Cristo e dos seus seguidores falharam porque faltou a vitalidade para tirar o peso dos ombros da raça; eles falharam porque a essência daquela doutrina é contraria ao espírito de vida, exposto através as manifestações da natureza, a força e beleza da paixão.
     Nunca poderá o cristianismo, debaixo de qualquer máscara que apareça – seja neoliberalismo, espiritualismo, ciência cristã, pensamento novo, ou mil e uma outras formas de histeria e neurastenia – trazer alívio da pressão terrível de condições, do peso, da pobreza, dos horrores de nosso sistema injusto. O cristianismo é a conspiração da ignorância contra a razão, da escuridão contra a luz, da submissão e escravidão contra a independência e a liberdade; a negação da força e da beleza, contra a afirmação da alegria e da glória da vida.

Notas

1) Publicado originalmente em 1913 no diário Mother Earth (NE)

2)Bruno Bauer (1809 – 1882) um “jovem hegeliano”, teólogo e filósofo alemão. Retiraram-lhe em Bonn em 1939 a nomeação de livre docente, em vista de haver posto em dúvida a existência histórica de Jesus, negado a caráter divino de sua pessoa e colocado a teoria da posterior elaboração dos livros chamados Evangelhos Segundo o monismo hegeliano, por ele professado, não podia admitir o cristianismo tradicionalmente praticado. Por último Bruno Bauer evoluiu numa direção politica mais liberal. Tomando-se mais moderado no final, passou a ser dito um hegeliano de duas fases (NE)

3) David Friedrich Strauss (1808 – 1874), filosofo da religião e teólogo alemão. Foi destituído a cátedra de livre docente na universidade de Tübingen por causa da publicação de seu livro “A vida de Jesus examinada criticamente”, em que aplicou aos Evangelhos e à vida de Jesus as teorias de Hegel. Sofreu uma forte reação do protestantismo oficial e de camponeses comandados por pastores protestantes. Rompeu claramente com a igreja, interpretando a Hegel materialisticamente, conforme à esquerda hegeliana, e assim também desenvolvendo sua filosofia da religião. A filosofia da religião de Strauss considera que a ideia religiosa, de acordo com Hegel, surge como um desenvolvimento do espírito objetivo; portanto, como um estagio dialético que o desenvolvimento do mesmo espírito do homem consegue superar. (NE)

4) Joseph-Ernest Renan (1823 – 1892). Filósofo e historiador, lembrado sobre tudo por seus estudos sobre a historia das religiões. Uma crise de fé, quando cursava o seminário em Paris, levou-o em 1845 a abandonar a Igreja Católica. Prosseguindo os estudos laicos, formou-se em filosofia e letras. O processo revolucionário de 1848 criou um ambiente de expectativas messiânicas que Renan interpretou como o inicio de uma nova religião. Em 1863 publicou “Vida de Jesus”, seu livro mais conhecido, em que humaniza Jesus e atribui o desenvolvimento do cristianismo à imaginação popular. (NE)

5) Thomas Paine (1737 – 1809), foi um politico inglês fervoroso, como fundo republicano, jornalista defensor da independência americana, herege por ir contra os dogmas da igreja e foi um dos signatários da “Declaração de Independência Americana”, participando ativamente de varias reuniões com os demais membros idealizadores. Sem o seu livro “A Era da Razão” atacou a religião organizada. (NE)

6) Novo testamento, Matheus 4:17. (NE)

7) Novo testamento, Matheus 5:3. (NE)

8) Novo testamento, Matheus 5:5. (NE)

9) Novo testamento, Matheus 5:6. (NE)

10) Novo testamento, João 12:8. (NE)

11) Novo testamento, Marcos 12:17. (NE)

12) Recompensa, prêmio, honraria, gloria. (NT)

13) Novo testamento, Matheus 5:11,12. (NE)

14) Anular, revogar, cessar a lei ou privilégios, suprimir, pôr fora de uso. (NT)

15) Novo testamento, Matheus 5:17. (NE)

16) Sócrates (470 a.c. – 399 a.c.), filósofo ateniense. Desempenhou alguns cargos políticos e foi sempre modelo irrepreensível de bom cidadão. Seus discursos e sua atitude crítica e irônica criaram descontentamento geral, hostilidade popular, inimizades criaram descontentamento geral, hostilidade popular, inimizades pessoais. Sócrates foi acusado de corromper a mocidade e negar os deuses da pátria, introduzindo outros. Foi declarado culpado e tendo que esperar mais de um mês a morte no cárcere, seu discípulo Criton preparou e propôs a fuga ao Mestre. Sócrates, porém, recusou, declarando não querer absolutamente desobedecer às leis da pátria. Morreu por envenenamento com cicuta. (NE)

17) Giordano Bruno (1548 – 1600), filósofo italiano. Frade dominicano na sua juventude, levou uma vida errante. À religião cristã opunha a religião da natureza. Nas religiões não astrologia nem na magia. Em 1592 foi preso pela Inquisição. Herege convicto, foi intimado a retratar-se das ideias sob pena de morte. Ao recusar, foi excomungado e expulso do seio da Igreja. Teve então um prazo de oito dias para confessar o seu erro. Não o fez, pelo que morreu na fogueira como apóstata, herege e violador dos seus votos religiosos (NE)

18) Maria Spiridonova (1885 – 1941), enfermeira, foi uma importante figura dos círculos revolucionários do inicio do século XX na Rússia. Foi detida em 1906 por assassinar um policial. Após sua prisão foi espancada, torturada e abusada sexualmente. Acabou condenada e enviada à Sibéria. Após sua Soltura voltou a atuar junto ao Partido Socialista Revolucionário. Foi presa em 1918 e enviada à Sibéria novamente, dessa vez pelos bolcheviques. Morreu fuzilada em 1941. (NE)

Extraído:
Titulo:Três Ensaios sobre religião
Autor: Emma Goldman
Editora: Index Librorum Prohibitorum
Pagina: 5 á 20
Ano: 2005

sexta-feira, 17 de maio de 2013

MAIS ALTO


Mais alto, muito mais... Sempre mais alto. Mais alto, corações!
Mais alto ainda!
E lá junto dos astros que eu exalto,
Vamos depor a nossa ideia linda!

Subamos, sempre, que subir não custa,
Quando a fé nos anima na subida...
E a nossa fé, tão pura e tão robusta,
Além de tudo, é Sol, é Pão, é Vida!

Que não se apegue a chama que em nós arde...
Luz, muita luz a iluminar o escuro,
Para podermos construir mais tarde
Um mundo novo, o mundo do futuro!

Subindo sempre, é muito nossa a palma,
É muito nosso o galardão bendito...
Subamos sempre e sempre com mais alma!
Subamos, meus irmãos, ao infinito!

E que, lá nas alturas que o sol doira
Fique o nosso Ideal, sonho profundo,
Como um padrão de glória imorredoira,
Como um farol a iluminar o mundo. (1)

(1). Poema de Aristides Ribeiro. Porto 1929

Extraído:
Titulo:  a resistência anarco sindicalista à ditadura portugal 1922 1939
Autor: Edgar Rodrigues
Editora: Sementeira
Pagina: 199 
Ano: 1981

DESEMPREGO E FOME


Não sei como viver!... O mundo de ambições.
Que vejo em minha frente, a escabujar na lama,
Tornou a vida intensa em um grotesco drama:
A luta colossal de checai e vilões...

A vida é toda-audácia de histriões,
No palco dum teatro horrendo que derrama
A bílis peçonhenta, a hediondez da fama,
Que goza o Deus-dinheiro, em cofres aos montões

Entrai na Sociedade, e só vereis brilhar,
O torno malandrim, herói do lupanar,
Da Bolsa e do Comércio, e da Morte e Rancor...

Que mundo tão atrós aos olhos de quem sente:
Triunfa nesta vida aquele que mais mente,
E não o coração a transbordar de Amor! (1)

(1). Desalento de A.Alves Pereira.

Extraído:
Titulo:  a resistência anarco sindicalista à ditadura portugal 1922 1939
Autor: Edgar Rodrigues
Editora: Sementeira
Pagina: 80 

Ano: 1981

domingo, 12 de maio de 2013

IRMÃS MARTINS: BELEZA REBELDE EM QUATRO ROSTOS DE MULHER


     São quatro musas amotinadas, produtos dos momentos mais afirmativamente revolucionários da luta de classes comandada pelos anarquistas no Rio Grande do Sul. Mulheres feitas de bronze e mel, filhas do povo que casaram com a causa libertária fortalecendo os laços de ternura humana que irmanavam os companheiros de caminhada. Espertirina, Eulina, Dulcina e Virgínia.
     Quatro momentos vestidos de grandeza da mulher gaúcha como agentes de transformação social, sensibilidade feminina abrindo as janelas do tempo, derrubando mitos e tabus, vanguarda de classe plantando as raízes de um novo amanhã. A referência aos seus nomes, aqui, ao lado de Malvina Tavares, Dorvalina Ribas e Ana Libonati Avenna – é uma homenagem ás mulheres que estão fazendo agora a sua parte, tecendo a sua historia.

1-Espertirina

     Corajosa e bela militante anarquista. Feminista. Oradora e conferencista. Natural de Legeado, onde nasceu em 1902. Era a mais jovem das irmãs Martins. Agitadora, atuou em Porto Alegre, Rio Grande, São Paulo (SP) e Campos (RJ). Foi aluna da Escola Moderna, onde também estudava seu futuro marido, Artur Fabião Carneiro, e, das irmãs, era “a mais intransigente do ponto de vista ideológico”, segundo seu sobrinho Marat Martins Budaszewski.
     Com apenas quinze anos, em 1917, carregava a bomba com Djalma Fettermann enfrentou a carga de cavalaria da Brigada Militar na batalha campal travada na Várzea, hoje Avenida João Pessoa, entre anarquistas e brigadianos, em janeiro desse ano. O confronto se deu durante o enterro de um trabalhador assassinado pela repressão. Espertirina levava essa bomba disfarçada dentro de um buquê de flores...
     “Morou com a irmã Eulina, esposa de Zenon de Almeida, em Rio Grande, onde participou de comícios, manifestações e passeatas, inclusive um encontro sangrento com as forças da repressão. Teve o curso primário completo, estudou violino, escrevia e era oradora ardente. Com Zenon, no prelo portátil, imprimia os panfletos e jornais revolucionários, distribuindo-os nas fabricas e bairros operários. De novo em Porto Alegre, já moça feita, tornou-se uma feminista convicta. Em 1925 foi residir com Eulina e Zenon em Campos (RJ), ligando-se novamente aos grupos anarquistas, quando promoveu reuniões e pronunciou conferências”.
     “Com a irmã Dulcina, que se havia casado com Djalma Fettermann, foi residir no Rio, na Ilha do Governador, Praia da Bandeira, aí casando-se com Fabião Carneiro, o qual logo a seguir foi trabalhar na empresa de publicidade eclética, em São Paulo. Nesta cidade ambos ligaram-se a Edgar Leuenroth, junto a quem prosseguirem nas atividades revolucionarias, até voltarem para Porto Alegre. Aqui, Espertirina veio a falecer em 22 de dezembro de 1942, em virtude das complicações de um parto prematuro e apendicite. Faleceu antes de completar quarenta anos, fiel às suas posições revolucionários.

2 – Eulina

     Eulina Reichenbach Martins era a mais velha das Irmãs. Aluna da professora Malvina Tavares, acabou se constituindo numa das mais combativas e radicais militantes anarco-sindicalistas do Rio Grande do Sul. Casada com Zenon de Almeida, atuou em pé de igualdade com este em Porto Alegre, Pelotas, Rio Grande e Santa Maria.
     Informa seu sobrinho Marat Martins Budaszewski que Eulina “auxiliava na impressão e distribuição de folhetos e jornais clandestinos. Participou de manifestações, comícios e encontros violentos. Ajudava na feitura da massa explosiva das bombas fabricadas por seu marido. Como temperamento, era a que mais se aproximava do tipo de caráter de Nino Martins. Tinha um Grande ódio de classe e desprezo pela burguesia”.
     Em Rio Grande – continua Marat – num encontro com a Brigada Militar, manteve-se na linha de fogo, remuniciando as armas. Nos momentos de perigo, entoava as canções anarquistas e iniciava à luta. Em Campos (RJ), prosseguiu na luta e aceitava com firmeza as inúmeras prisões de Zenon.
     Grande admiradora de Lênin, já viúva, em 1945, de novo com a família em Porto Alegre, aderiu ao Partido Comunista, do qual foi oradora militante e ativista, permanecendo convicta nas suas ideias revolucionarias até a morte, aos 77 anos. Aqui manteve contatos de amizade com velhos anarquistas, entre eles Gusmán, marmorista; Nalepinski, sapateiro; Luz Derivi; Orlando Martins e outros.

3 – Dulcina

     Dulcina Reichenbach Martins era dois anos mais velha que Espertirina, tendo nascido em Lajeado em 1904. Também aluna de Malvina Tavares. Conheceu Djalma Fettermann na Escola Moderna, onde este lecionava, e apaixonaram-se. Noivos, só puderem casar-se em Campos (RJ), na casa de Zenon, quando ela para lá seguiu, junto com Espertirina, em 1925, segundo Marat Martins Budaszewski.
     “Apoio Djalma em todas as suas lutas e perseguições – informa Marat – até quando, já com a família a Porto Alegre e ala ingressou no Partido Comunista, no período de legalidade, de 45 a 47. Foi uma militante a ativista ardorosa, tento um grande destaque na arrecadação de fundos para a imprensa popular. Viúva, mora no Rio de Janeiro, e de seus filhos um, que leva o nome do pai, fez curso superior na República Democrática Alemã e é, atualmente, dirigente na República Popular de Guiné-Bissau”.

4 – Virgínia

     Ardorosa militante anarquista. Sendo a segunda mais velha das irmãs, foi influenciada também pela professora Malvina e participou de inúmeros acontecimentos, dando muito apoio a Nino, quando esta se desempregava, em virtude das suas atividades politicas, muito frequentemente. Casou-se em 1917 e teve família numerosa, à qual se dedicou integralmente, embora sempre conservando suas ideias, até o surgimento legal do Partido Comunista, do qual se tornou uma simpatizante extremada, participando principalmente das campanhas de arrecadação de fundos financeiros. Grande admiradora de Prestes, morreu aos setenta anos, vítima de câncer, mais fiel aos seus ideais revolucionários.

Extraído do:
Os anarquistas do Rio Grande do Sul
Autor: João Bastista Marçal
Paginas: 107 á 110
Ano: 1995
Editora: Unidade Editorial Porto Alegre

sábado, 11 de maio de 2013

AMARELOS


     Epíteto francês para designar os fura-greves. Jaunes (amarelos) foi usado em 1901, em Monteau, por operários mineiros contra seus colegas que resolverão continuar o trabalho, abrindo-se nessa oportunidade uma cisão no seio da classe, com o nascimento do sindicato dos amarelos (Jaunes) que não tardiria a aliar-se aos católicos e políticos, tomando o caminho do reformismo. Na Espanha os fura-greves eram conhecidos por “esquirols”, em Portugal “fardetas” e amarelos e no Brasil por “krumiros” e amarelos.

Extraído:
Titulo:  ABC do anarquismo
Autor: Edgar Rodrigues
Editora: ACHIAMÉ
Pagina: 25 
Ano: 1976

AUTORITARISMO

     Atitude, comportamento dos autoritários, termo empregado nos meios operários pela primeira vez no Congresso de Haia, em 1872 (Quarto Congresso Internacional dos Trabalhadores), promovido pela Associação Internacional dos Trabalhadores. Pela posição radical e intolerante assumida por Karl Marx foi-lhe atribuído o comando do socialismo autoritário, corrente que nesse congresso provocou cisão no seio da 1.° A.I.T., ficando o grupo de que fazia parte Miguel Bakunine, James Guillaume e Eliseu Reclus com a denominação de socialistas libertários.

Extraído:
Titulo:  ABC do anarquismo
Autor: Edgar Rodrigues
Editora: ACHIAMÉ
Pagina: 25 
Ano: 1976

A LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA


     Todo o estado de consciência é um conjunto de qualidades inatas, instintivas, hereditárias, de educação, de influencias de família, do ambiente, fora e dentro do lar, da escola que frequentou, do meio social, politico, econômico e religioso a que se esteve submetido e no seio do qual se desenvolveu. A resultante de todas as percepções guardadas, das ideias adquiridas, dos sofrimentos e alegrias que lhe tocaram emocionalmente, deu ao homem consciência que só obedece a si mesma. Nenhum artifício pode fiscalizá-la!
     Segundo Clemente Rayer “pensar e crer livremente é um direito do homem incoercível, que escapa a todo o poder externo, mais do que isso, é uma função.”
     “Nem interesses, nem ameaças, nem autoridade, nem perseguições, nem carrascos, nem martírios, podem modifica-la, quando muito podem levar o homem consciente a mentir aos outros mas nunca a si mesmo.”

Extraído:
Titulo:  ABC do anarquismo
Autor: Edgar Rodrigues
Editora: ACHIAMÉ
Pagina: 63 
Ano: 1976

LIBERDADE


     Confunde-se muito pensamento de liberdade com sentimento de liberdade, e, no entanto, o primeiro tem a sua origem na cultura e o segundo é inato, instintivo, faz parte dos elos naturais da vida. O homem livre detesta a violência porque sabe que ela só gera ódio e, sobretudo, o firme propósito da desforra; detesta os sistemas governamentais de força, porque não acredita nas soluções estatais e tem consciência de que a liberdade é parte ativa do desenvolvimento do poder criador, constante evoluir para o aperfeiçoamento das sociedades e dos povos.
     A dignidade humana terá fatalmente de ser ponto central da organização social democrática, já que o homem é o centro fundamental dessa sociedade ao invés de massa, de elemento ausente na sua realização, obediente a interesses subjetivos.
     É a valorização do individuo que terá de promover imediatamente para que a liberdade possa existir em toda a sua plenitude!
     O homem só será livre à medida em que possa viver isento de todos os tipos de pressão: econômica, religiosa, politica, jurídica, moral, etc. Sem essa isenção, jamais estará vivendo livremente. Tanto do ponto de vista físico como intelectual, será sempre uma presa de fácil condução, um ser condicionável ás conveniências do “lideres”.
     Para a liberdade se tornar real, verdadeira, completa, o homem terá de se organizar uma sociedade que a seu tempo desenvolva em cada cidadão princípios capazes de criar direitos do homem; os direitos iguais na satisfação das necessidades vitais; os direitos iguais no gozo do que existe e se produz independente do esforço humano; os direitos iguais de trabalho; os direitos iguais de propriedade, encarada como síntese da reserva econômica; os direitos iguais de garantir e defender os seus próprios diretos!
     Eis o que se pode chamar liberdade!

Extraído:
Titulo:  ABC do anarquismo
Autor: Edgar Rodrigues
Editora: ACHIAMÉ
Pagina: 62 á 63
Ano: 1976

A REVOLUÇÃO


     A Revolução é um acontecimento de alcance ilimitado, em constante transformação, sempre e sempre evoluindo!!!
     A Revolução é antes de tudo uma ideia, um sentimento; é cultura; é trabalho e bem estar social distribuídos equitativamente por todos! A revolução principia nos cérebros, evolui livremente fundamentada numa filosofia de vida generosa e positiva, baseada em sentimentos e ações que equilibram atitudes e movimentos, na harmonia que junte a natureza e o homem, que conceba e prepare personalidades emocionalmente equilibradas, caracteres bem, formados, cidadãos justos, capazes de produzir, participar, dar e receber.
     Revolução é um estado de espírito, consubstanciado na liberdade responsável, no livre acordo, no apoio mútuo, na livre associação e na solidariedade humana. De sorte que a Revolução vale tanto quanto os homens que lhe abrem o caminho, que lhe dão curso! Processa-se partindo da natureza-princípio e fim de todas as coisas; evolui coordenação e administração do esforço manual e intelectual até alcançar o máximo da produção, da perfeição e da beleza. É um trabalho de todos em proveito de todos e de cada um!
     O homem é um animal sociável, um competidor permanente que rechaça por princípio os esquemas rígidos, absolutistas; constante aperfeiçoador que é sempre em busca do belo, do harmonioso, de estágios de justiça social; por isso, é também um Revolucionário potencial por excelência!
     A Revolução consciente, positiva, realista, só pode ter o homem-centro de todas as coisas, como a figura mais importante, o elo de ligação na nova sociedade que nasce, já que a Revolução é uma obra de todos e de cada um! Por conseguinte, Revolução equivale a desenvolvimento da capacidade da criatura humana. A Revolução consciente fomenta e desperta a grandeza de sentimentos, solidariedade entre povos, cultiva todos os dias o amor ao próximo e à humanidade, como se cultiva a saúde e a vida. Na sua marcha, a revolução visa à integração de sentimentos e ideias capazes de tornar homem cada vez melhor, mais tolerante, compreensivo e justo. Sua meta é a grandeza do indivíduo pelo aperfeiçoamento constante, do simples para o composto, até o atingir no grupo, na sociedade, no plano económico, social e humano, no plano intelectual e cultual.

Extraído:
Titulo:  ABC do anarquismo
Autor: Edgar Rodrigues
Editora: ACHIAMÉ
Pagina: 73 á 74
Ano:1976

DORVALINA MARTINS RIBAS, EDUCADORA E LIBERTARIA


     Professora, conferencista e militante anarquista. Nasceu em Porto Alegre em 12 de agosto de 1900, filha de Cipriano e Amélia Martins. Dedicou toda a sua vida na educação racional da infância, até falecer, vítima de câncer, em fins de março de 1944, aos 43 anos.
     Ainda estudante se tornou discípula de Francisco Ferrer e adepta do ensino laico. Entrou para o movimento anarquista e passou a lecionar os filhos dos trabalhadores. Formada pela Escola Complementar de Porto Alegre, já em 1919 era diretora da famosa Escola Moderna, criada aqui em 1915 por Polidoro Santos, Cecílio Vilar, Zenon de Almeida, Djalma Fetterman e outros militantes.
     “Essa escola funcionou por alguns anos, chegando a ministrar uma educação senão completamente racionalista, mais muito mais radical do que a ministrada nas escolas atuais, que é cheia de preconceitos absurdos e completamente irracionais. Essa escola chegou a ter quatrocentos alunos, de ambos os sexos”, segundo o jornal O Sindicalista de junho de 1924.
     Esse estabelecimento de ensino funcionava da Rua Ramiro Barcelos, 197, na então chamada Colônia Africana, espécie de gueto negro localizado onde fica hoje o bairro Bom Fim. O Correio do Povo em 3 de maio de 1919 informa que as comemorações do 1° de maio a passeata operária parou na frente da Escola Moderna e ali foi saudada por seus alunos com o hino Porvir. Os trabalhadores – segundo a mesma fonte – responderam a homenagem contando o hino Filhos do Povo. À frente dos alunos, a professora Dorvalina Ribas.
     Em 1921 (?), Dorvalina casou com o militante espanhol Jesus Ribas, seguindo com este para Erechim, onde ficou durante quase dois anos. Ali abriram uma pequena escola para os meninos, onde lecionaram. O ambiente repressivo e atrasado dessa colônia não permitiu que o projeto fosse adiante. Ainda em 1922-23 o casal retorna a Porto Alegre.
     Em companhia do marido, Dorvalina continuou atuando no movimento operário, tendo feito parte de vários grupos locais. Integrava o Grupo Anarquista Internacional, em 1928, quando proferiu uma concorrida palestra de homenagem que a FORGS prestou à memoria de Francisco Ferrer,  em 13 de outubro. Esse ato aconteceu na Rua Jerônimo Coelho, 40, e ali proferiram palestra Dolvalina Ribas sobre Ferrer e Sua Obra e Carlos Ferrari sobre e a Escola Moderna. A principal figura desse grupo era Frederico Kniestedr.
     A partir dos anos trinta, juntamente com o marido, se empenha na edificação do Instituto de Assistência e Proteção à Infância, construído por ambos junto à pedreira do Morro de Santo Antônio. Seus últimos anos de vida foram consumidos naquele que foi seu sonho mais alto: a educação, a preparação da infância para o enfrentamento com o futuro.

Extraído do:
Os anarquistas do Rio Grande do Sul
Autor: João Bastista Marçal
Paginas: 143 á 145
Ano: 1995
Editora: Unidade Editorial Porto Alegre

OS BRASÕES INÚTEIS DE ANNA LIBONATI AVENNA


     A história gaúcha, por razões óbvias, não guardou nenhum registro de sua passagem e de sua luta em Porto Alegre. Dir-se-ia que ela transitou pelos porões da cidade, pelos subterrâneos da metrópole, ali onde a luta de classes joga na cara da gente a violência descolorida de vidas que se estiolam na batalha desigual pela sobrevivência.
     Seu nome era Ana Libonati Avenna, era italiana e libertaria. Foi responsável pela primeira tentativa de organização sindical dos motoristas de praça de Porto Alegre, foi quem deitou as raízes do atual Sindicato dos Rodoviários do Rio Grande Do Sul. Veio da península Garibaldi depois de atuar, como enfermeira, nos campos de uma Europa devastada pela Primeira Guerra Mundial. Ali estivera, no fogo das batalhas, acompanhando o marido, o medico Alfredo Avenna. Revolucionaria, trazia nas mãos e nos olhos as marcas de um espetáculo que marcaria de vermelho a entrada deste pobre século XX.
     A Partir de 1918 essa militante é presença constante nos primitivos pontos dos motoristas da cidade. Falava da luta de classes, de solidariedade entre os explorados e pregava a necessidade de sua união. Desse trabalho nasce, nos anos vinte, a Associação dos Chaufeurs de Porto Alegre. E, 1926, como Jornalista-operária, Anna edita aqui O Automobilista, porta-voz dessa categoria profissional.
     Nascida em Nápoli, em 1877, essa líder rebelde descendia da alta nobreza napolitana. Tinha sangue azul, como se dizia antigamente. Pois bem: ao abraçar a causa dos operários gaúchos, Anna, como que reavaliando seu próprio destino, rasgou os brasões da família por considera-los inúteis.
     Além de enfermeira e jornalista da classe operaria, Anna Libonati foi também escritora, poetisa e teatróloga. Foi professora do extinto Colégio Voluntario da Pátria, colaboradora do Correio do Povo, atuou na ACM e foi presença destacada na maçonaria gaúcha, onde seus textos circulavam de mão e mão.
     Sua produção cultual doi extraviada. Seu romance, O Chaufeur, retratando do dia-dia dos primeiros motoristas de praça de Porto Alegre, foi perdido em São Paulo para onde foi levado por José Freitas da Silva para ser editado. Escreveu duas peças de teatro que foram representadas com sucesso no meio operário metropolitano: Um Casamento Gorado e Miséria e Nobreza. Faleceu aqui aos 84 anos, em 15 de setembro de 1961.
     Faleceu em termos: Anna Libonati Avenna, pelo seu pioneirismo, pela sua coragem, pela sua garra e pela sua densa humanidade, deve ser colocada na galeria das grandes mulheres que afloram, aqui, agarradas ao sonho de um mundo mais junto e fraterno.

Extraído do:
Os anarquistas do Rio Grande do Sul
Autor: João Bastista Marçal
Paginas: 43 á 44
Ano: 1995
Editora: Unidade Editorial Porto Alegre

domingo, 5 de maio de 2013

Federalismo anarquista (Miguel Bakunine)


     Assim como estamos convencidos de que, abolindo o matrimonio regulamentado, restituindo a vida, a realidade, a moralidade ao matrimonio natural, unicamente fundado sobre o respeito humano e a liberdade dos dois indivíduos homem e mulher, que se amam; e de que, reconhecendo a cada liberdade de se separar do outro quando quiser, sem necessidade de pedir licença seja a quem for, negando igualmente a necessidade dessa licença para unirem os dois, e repelindo em geral toda intervenção de qualquer autoridade em sua união, nós os tornaremos mais estreitamente unidos, bem mais fiéis e legais em para o outro – assim também estamos convencidos de que, quando deixar de existir o maldito poder do Estado para obrigar os indivíduos, as associações, as comunas, as províncias, as regiões a viverem juntos, eles se ligarão muito mais frequentemente e construirão entre si uma unidade muito mais viva, mais real, mais real, mais poderosa do que aquela que têm hoje de formar, sob a pressão, para todos igualmente esmagadora do Estado.
     Quando tiverem desaparecido os Estados – haverá a unidade viva fecunda, benéfica, tanto das regiões como dos povos; e a internacionalidade de todo o mundo civilizado, primeiro, e de todos os povos da terra depois, por meio de livre federação e de organização de baixo para cima, desenvolver-se-á em toda a sua majestade, não divina, mas humana.
     Mas convém distinguir federalismo de federalismo... O federalismo burocrático não poderia ser senão uma instituição aristocrático-oligárquica, porque, em relação ás comunas e ás associações operarias – industriais e agrícolas – seria ainda uma organização política de cima para baixo, como um fato de baixo – com a associação e com a comuna. Organizado, assim, debaixo para cima, o federalismo torna-se então a instituição política do socialismo, a organização livre e espontânea da vida popular.

Livro: Anarquismo roteiro da libertação social
Autora: Edgard Leuenroth
Editora: Mundo Livre
Paginas: 50 á 51
Ano: 1963

sábado, 4 de maio de 2013

ESTADO

     Do ponto de vista libertário, representa o conjunto das nagações das liberdades individuais de todos os seus membros obrigado a renunciar à sublime prerrogativa para que ele mesmo viva.
     O Estado é a negação da humanidade livre, da Solidariedade Universal! Máquina poderosa que nos países burgueses e << proletários>> é tanto mais inútil quanto maior for a sua força, o seu poder.
     Onde começa a sua ação, termina a liberdade do Homem!
     Eis o Estado!

Extraído:
Titulo:  ABC do anarquismo
Autor: Edgar Rodrigues
Editora: ACHIAMÉ
Pagina: 46
Ano:1976

DITADURA DO PROLETARIADO


     Sistema de governo imposto na Rússia após o golpe de Estado de Outubro de 1917, Vibrado pelo partido bolchevique sob o comando de Lenine, ao derrubar o governo liberal de coligação dirigido por Kerensky. – Segundo os "revolucionários" Trotsky, Bukhrine, Di kretinsky, Radek, Lenine e tantos outros, seria um regime de transição, “uma ditadura dos pobres” no caminho do Comunismo.
     Lenine declarou: << Nós, comissários do povo, nós, Governo Comunista, nós devemos acabar por desaparecer, cedendo o lugar a Nós, conselho econômico, porque, desde que esteja assegurada a existência da sociedade comunista, não haverá mais necessidade de poder político. O que nos separa dos anarquistas – de Proudhon, de Bakunine, de kropotkine – é que nós, comunistas, não tomamos a ausência do governo político como ponto de partido, mas como ponto de chegada>>. (in Movimento Comunista, Março 1922).
     Com os mesmos pretextos das ditaduras burguesas, ainda que com fins diferentes, segundo nos garantiam, a realidade mostra-nos que decorridos 57 anos, a Rússia está mais longe do Comunismo do que no terceiro ano da queda de Kerensky.
     Seguindo a trilha do regime de Hitler, Mussolini, Franco e Salazar, a Rússia fundou e mantém compôs de concentração, destacando-se o de Karanga, manicômios, inventou e desenvolveu as lavagens cerebrais, passou pelas armas milhões de operários, camponeses e até figuras de maior responsabilidade na implantação da ditadura, como: Bukharine, Rykov, Kolnikov, Rakovsky, Rosengoltz, Chernov, Ivanov, Grinko, Bubnov, Lyubmov, Rukhimovich, Orlov , etc., etc. Desencadeou w perseguição racial aos judeus e negros, invadiu a Filândia, Lituânia, Estónia, Letónia, Hungria, tchecos-lováquia, construiu o famoso MURO DE BERLIM  e organizou a famigerada polícia política Tcheca, mais tarde G.P.U. e depois N.K.V.D. para prender e torturar brutalmente todos aqueles que cometessem delitos de opinião.
     A "ditadura dos pobres" transformou-se numa Ditadura sobre o Proletariado! É hoje uma ditadura de um Estado rico, todo poderoso, dirigida por uma elite de burocratas ricos!

Extraído:
Titulo:  ABC do anarquismo
Autor: Edgar Rodrigues
Editora: ACHIAMÉ
Pagina: 38 á 39
Ano:1976

AÇÃO DIRETA

     Quer dizer ação exercida pelos próprios operários, pelos interessados. É o trabalhador quem se esforça por exercer pessoalmente sobre as forças que o dominam a pressão necessária para obter o que lhe é devido.
     Pela AÇÃO DIRETA o operário luta realmente, é ele quem dirige o conflito, decidido a não confiar a outrem a missão que só a ele compete resolver.
     Ação direta, é a manifestação consciente da vontade operária; pode revestir-se de aspetos tolerantes e pacíficos ou vigorosos e violentos, isso dependendo das circunstâncias. Mas, tanto num noutro caso, é ação revolucionária porque não se importa com a legalidade burguesa, e mesmo o seu objetivo é obter melhoramentos que produzam diminuição dos privilégios concedidos à burguesia.

Livro: ABC DO ANARQUISMO
Autor: EDGAR RODRIGUES
Editora: ACHIAMÉ
Pagina: 23 á 24
Ano: 1976

ANARQUISTA

     Pessoa partidária da Anarquia. Cidadão contrário à desigualdade existente na sociedade humana. Propagandista de um mundo novo onde o saber, o bem-estar, a beleza, a franqueza, a justiça e a fraternidade serão necessidades permanentes como a saúde do ser humano. O anarquista defende o livre acordo, a ajuda mutua, a coexistência pacífica, a Igualdade, o Amor Fraterno e a Paz. Para o anarquista a coisa mais importante é o ser humano, por isso advoga a liberdade integral como meio de dar ao homem o direito de desenvolver toas as suas capacidades e aptidões, sem temores, cerceamentos ou frustrações. Defende a autogestão e o ensino racional. Não admite diferenciação de raça, cor, idade, sexo, nacionalidade. Existe apenas um só homem: a Humanidade; uma só nação: o Universo. O anarquista, a quem se têm emprestado definições por demais contradições, na maioria dos casos descrito como “perigoso agitador”, embora nunca tenha insuflado ou desencadeado guerra em que homens se matam mutuamente sem saber por quê, é contrário à Santa Inquisição que fez sacrificar milhares de inocentes queimados vivos, em nome de Deus; não tem o privilégio de entregar o alimento de que carecem muitos morrem de fome... É mais exatamente um sentimental, um filosofo. Se emprega a violência, é sempre em caráter defensivo. Isto porque não aceita a autoridade irracional do homem para oprimir o homem; a exploração do ser humano pelo semelhante, a fortuna de uns à custa de miséria e do sacrifício de outros. Defende ardorosamente uma sociedade de iguais, de irmãos!

Extraído:
Titulo:  ABC do anarquismo
Autor: Edgar Rodrigues
Editora: ACHIAMÉ
Pagina: 22 á 23
Ano:1976

ANARQUISMO


     Doutrina dos anarquistas. – Nova Ordem social baseada na liberdade, na qual a produção, o consumo e a educação devem satisfazer às necessidades de cada um e de todos. Os anarquistas propõem-se substituir a organização obrigatória pela organização voluntaria, pelo livre acordo, espontaneamente firmando e eternamente dissolúvel, não ligando os homens senão pela comunidade de interesses e pela reciprocidade das consequências, afinidades e simpatias. O Anarquismo, filosofia humanista da liberdade, não aceita que o homem precise de ser governado, de cujo costume se tornou escravo, razão porque lhe parece irracional, utópico, uma verdadeira calamidade pública deixar de o ser.
     O hábito de sofrer a autoridade dos governantes e seus sequazes, condicionou-o, deformou-o naquilo que ele tem de mais importante: razão, inteligente, desejo e fé em ser livre. Essa anomalia provocada pelo hábito chegou a tal ponto que a ausência da autoridade irracional (fazemos distinção entre autoridade racional e irracional) lhe parece ter em consequência a desordem, a violência e a confusão. O Anarquismo tem como ponto alto a solidariedade, o apoio mútuo. É profundamente humanitarista. Seus adeptos pregam a formação de comunidades de irmãos, de iguais, de Paz!

Extraído:
Titulo:  ABC do anarquismo
Autor: Edgar Rodrigues
Editora: ACHIAMÉ
Pagina: 22
Ano:1976

quarta-feira, 1 de maio de 2013

SOLIDARIEDADE

     Atitude, rasgo de lealdade – comportamento do proletariado em alto nível ético moral, ideológico e humanitarista.
     Como solidariedade entende-se o auxilio econômico, político, ideológico e humano, no plano individual, familiar, de classes e coletivo: local, regional, nacional e universal. Na prática era exercida no lar, nos locais de trabalho, e nas associações de classe e destas irradiava para todos os cantos da Terra! Milhares de vezes o trabalhador se exercitou nesta virtude, ao recusar individualmente benefícios que deviam ser de todos. Preferindo a demissão para não prejudicar os companheiros, nas diversas actividades profissionais, opunha-se, assim, à prática de injustiças silenciosamente. Dentro deste princípio, recusava a gorjeta quando prestava serviços, para exigir um pagamento justo; contribuía semanalmente com uma parcela do seu salário para auxiliar os companheiros desempregados e doentes; nas greves de grande duração, ou durante a prisão de companheiros por delitos de ideias, formava comitês que chegavam a comprar bois, mata-los, para distribuir a carne às famílias e aos trabalhadores, além de outros alimentos; pagar o aluguel das residências e abrigar crianças no curso da luta, quando os pais estavam sendo caçados pela policia. A solidariedade em forma de protesto levou honrados idealistas a entregar-se à prisão assumindo responsabilidades individuais ou coletivas por actos que as autoridades viam e entendiam como subversivos.
     A Solidariedade Humana foi o mais nobre princípio seguido pelo proletariado na sua luta pela emancipação social. Belo gesto! Gesto nobre! Na prática de filosofia anarco-sindicalista!

Livro: ABC DO ANARQUISMO
Autor: EDGAR RODRIGUES
Editora: ACHIAMÉ
Pagina: 82 Á 83
Ano: 1976