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domingo, 21 de dezembro de 2014

Alguém acredita na constituição?

     Olha só esse texto: "Todo poder emana do povo e em seu nome será exercido".

     - O que? Corta essa, meu. Estão brincando com nós ou tão me tirando? - disse Roberto, o boêmio mais lúcido que já se viu no país, mostrando o texto do primeiro capitulo do livreto Constituição da República Federativa do Brasil..

     - Você não esta entendendo rapaz, o que eles querem é que os trouxas acreditem nessa bobagem - retruca Eduardo, um anarquista inveterado.

     Frequentador assíduo do bar, Roberto conhecia quase todos que ali costumava aparecer duas ou três vezes por semana. Com um sorriso permanente no rosto conquistava de pronto a simpatia das pessoas.

     O encontro dos dois se deu por casualidade num bar da Rua Augusta, local conhecido e frequentado pela mais variada espécie de homo sapiens paulista que se possa imaginar.

     - Mas você acha que tem alguém que engula essa de que o povo é quem manda, ou quem tem o poder?

     - Bem, aí concordo com você, mas também já parou para pensar que nem por um por cento do brasileiro abriu o livro para ler a Constituição do país?

     - ah é? Então foi feita mesmo pra ficar só no papel e ainda é chamada se Carta Magna... Só se for Carta manha... - respondeu Roberto, depois de virar o copo para mais um gole da caipirinha que, diga-se de passagem, considera a maior invenção bda humanidade.

     - Você é mesmo engraçado. Quem é que vai perder tempo lendo essa historia de ficção, que não da para levar a sério - disse o anarquista Eduardo, coerente com a sua posição ideológica.

     Roberto não perdendo o embalo, disse:

     - E aquela que garante:

    "Todos são iguais perante a lei...?".

     - Imagina, eu igual ao Maluf? Tu tá é louco...

     - Pois é, mais eu igual ao Oscar Niemayer, até que me deixaria muito orgulhoso! - respondeu com brincadeira e ironia o Eduardo.

     - É? Mas quem disse que isso é verdade, meu...?

     E a conversa foi longe, iniciando um hábito popularmente conhecido como o de jogar conversa fora que passou a ocorrer com muita frequência, e com isso veio se desenvolver pontualmente aos sábados, domingos e esporadicamente outros dias da semana, sem preconceitos.

     O destino às vezes nos fazem surpresas inimagináveis, pensava Eduardo quando fazia seu caminho de volta para casa. Criamos às vezes amizades e relacionamentos absolutamente imprevisíveis. Pois é isso, exatamente o que está acontecendo com esse individuo que acabo se conhecer...

Livro: conversa de botequim
Autor: Valentim de Souza
Editora: giostri
Pagina: 11 à 13

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