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sábado, 31 de janeiro de 2015

Em um mundo de faz de conta...

     O ser humano nasce herdeiro de atavismo seculares num universo conturbado por competições bélicas, religiosas, politicas, profissionais, intelectuais, sociais e outras.
     Entra na vida recebendo injeções de propaganda fantasiosa, de cosméticos, ídolos dos pés de barro e recebendo uma educação e instrução direcionada para a obediência e a servidão.
     Neste mundo de faz de conta, é cada um por si e salve-se quem puder... Disputam-se notas altas na escola, estuda-se para passar de ano (saber é outra coisa), cargos bem renumerados a fim de garantir a vida farta, mesmo que seja acima da pobreza dos outros...
     Quando se chega a conhecer alguma ideologia politica e/ou social e se  escolhe uma delas, já somos habitantes de uma sociedade mercantilista e bélica, subjetivamente condicionada a disputar seu próprio espaço vital, e é neste ambiente de sobrevivência que despertam ambições, ganância, inveja, vaidades profissionais, comerciais, politicas e delírios de comando com propósitos exibicionistas.
     A escolha da maioria é no sentido de alcançar sucesso rapidamente lucrativo.
     No século XX o Estado tornou-se muito forte. Cercou-se de políticos legisladores, leis punitivas, de policiais, juízes, militares vem treinados, armamentos sofisticados, e mecanismos para dominar, silenciar, prender, matar em nome da lei e da pátria... Não admite consternação sobre seus domínios.
     É sócio de todos os negócios. Cobra-lhes dividendo das empresas havendo ou não lucro. Fá-lo antecipadamente com nome de impostos: é um sócio seu empate de capital, ganhando até quando industrias e comerciantes falem!
     Parte do "lucros", o estado gasta com armas, cientistas e técnicos para se fortalecer cada vez mais, tornar-se terrorista, ameaçar nossas vida. Sai governo, entra governo e o Estado é cada vez mais pantagruélico, menos preocupado com o Povo. Para essa maquina de fazer robôs humanos, quanto mais gente mal alimentada menos desenvolverá suas capacidades cerebrais e terão mais eleitores. Cabeças atrofiadas em corpos adultos, (no Brasil existem milhões!) serão maquinas de trabalhos sem entender a origem de suas pobrezas, os culpados de suas situações calamitosas. Corpos para produzir, inclusive muitos muitos filhos sem condições minimas de fazer suas crias, gente pensante! É mão de obra barata. Temente a Deus, ao Chefe, grita e aplaude o político explorador com a mesma euforia de quando seu time de futebol ganha. Tudo que acontece com este trabalhador, com sua familia é porque Deus quis. E espremidos entre a pobres de muitos e a verborreia política, os escapam das cercas jurídicas/religiosas/burguesas, não são capazes de se associar, e justamente com a multidão dos excluidos, reverter o sistema que se perpetua em detrimento da massa produtora.
     Em nome da divindades que se misturam na voracidade econômica do capitalismo e da Igreja Universal do Reino de Deus e outras; da intolerância e do obscurantismo muçulmano (xiitas e sunitas de Maomé) com o pavor do inferno que a igreja católica pregou/prega (Inquisição, etc.) sempre benzendo armas assassinas e/ou sendo acionista de fabricas de componentes atômicos, BILHÕES de seres humanos vivem uma pobreza dolorosa em nosso planeta diante de olhares de indiferença e risos de hipocrisia viscosa.
     No Brasil, as autoridades admitem 50 milhões de serem humanos como nós vivem abaixo do nível de pobreza. E  às vésperas das eleições presidenciais umas centenas de marionetes femininas e masculinas ganham fortunas para exibir nas passarelas roupas esvoaçantes e/ou quase sem roupa, promover vendas de cigarros, bebidas, carros: A propaganda consumista contamina mesmo quem não pode comprar nada...
     Em contra partida as DROGAS e os Seqüestros tornaram-se "empresas" lucrativas, fazem milionários e cada vez mais gente procura esses caminhos para ganhar a vida como se políticos fossem... A imprensa escrita e falada continua anestesiado, alienando até dentro das casas, gente nova e velha, e o exibicionismo ( modelo, cantadores, jogadores, corretores, políticos e pastores da I.U.R.D. e outros excessivamente pagos pelo NADA que fazem em detrimento de milhões de trabalhadores no Brasil, no mundo...
     Resumindo: a propaganda enganadora é a "alma do negocio" e quem mais lucra com os delírios coletivos de multidões e a enganação de um POVO QUE TRABALHA passa fome, são intelectuais contratados por empresários e o Estado terrorista, indiferente ao desfecho dessa cegueira mental, que mais adiante se transformará numa epidemia ultrapassando todas as drogas que se conhece...

(Nova Gazeta, Montijo/Portugal, 21 de Junho de 2002)

Extraído:
Livro: Rebeldias – Volume 2
Autor: Edgar Rodrigues
Paginas: 83 à 85
Editora: Opúsculo Libertário

sábado, 17 de janeiro de 2015

Ferrer visto no Brasil

     Francisco Ferrer y Guardia, nasceu em 10 de janeiro de 1859, em Alella, povoação situada a 20 quilômetros de Barcelona. Sétimo filho de uma família católica de pequenos agricultores e torneiros, aprendeu as primeiras letras na escola de Alella e chega a cantar coro. Mais foi também nessa fase de sua infância que toma conhecimento das idéias libertárias por intermédio de um tio. Com essa nova visão contesta o professor e é severamente punido. Esta fato levou Ferrer a pensar no ensino oposto - nem prêmio e nem castigo - que iria por em pratica com a sua fundação da Escola Moderna.
     Passa depois a escola de Teia. Ali encontra um professor laico , mais liberal e por influência chega estudar no com os jesuítas. Mais as idéias anticlericais de seu irmão José e seu Tiu Antônio impedem o projeto do padre.
     Aos 13 anos perde seu pai e deixa a escola para trabalhar nas vinhas familiares. Lê o Diário, jornal de tendencia liberal. Começa admirar Pi y Margall e entusiasma-se pela proclamação da 1° republica espanhola. Sua nova visão incompatibiliza-o com a sua familia, tradicionalista e católica. Vai para Barcelona com seu irmão José. Emprega-se como escriturário de um republicano. Começa a frequentar  as reuniões com ele e conhece a maçonaria.
     Inicia então a leitura dos autores revolucionários, sofrendo influência de Anselmo Lourenço de quem se tornou amigo.
     Aprende francês, inglês e naturismo em cursos noturnos.
     Em 1886, exilou-se na França, com a familia e começa a dar aulas particulares no Circulo de Ensino Laico, da Associação Politécnica. Em seguida ministra cursos noturnos no liceu Condorcet e na loja maçônica do Grande Oriente.
      Por essa mesma época (1887) "nascia" o Ateneu Obreiro de Barcelona com o fim de difundir a "educação integral", Em Madrid, no ano de 1888, funda-se a sociedade livre- pensador Los Amigos Del Progresso que propõe a criação de escolas laicas de  ambos os sexos dirigidas por Francisco Giner.
     Em 1894, Ferrer é contratado para dar aulas para uma viúva católica muito rica chamada  Meunier e à sua filha Jeanne-Eenestine, que não esconde sentimentos pelo professor.
     Fizeram-se excelentes amigos, empreenderam uma viagem por Espanha, Itália, Bélgica, Inglaterra, Portugal, Suíça. Viagem muito proveitosa para Ferrer pelos contatos que fez com Eliseu Reclusão, Pestalozzi ao mesmo tempo que conhecia os mais avançados centros de ensino.
     Em Turim, ensinou num curso de "línguas assimiladas", francês, espanhol, português, e em Bruxelas fez palestra que deixou Reclusão admirado.
     Com a morte de Meunier em 1901 Ferrer recebe uma herança de um milhão de francos de ouro, importancia que lhe permitiu fundar a Escola Moderna em Barcelona.
     Sua intensão – disse-o em sua obra póstuma: "A  Escola Moderna pretende extirpar do cérebro dos homens tudo que os divide, começando pela fraternidade e a solidariedade indispensável para a liberdade e o bem-estar geral de todos".
     Forma então o comitê de honra da Escola Moderna, com o jurista Rodrigo Méndez, reitor da Universidade de Barcelona, o naturalista Odón de Buen, o biólogo Ramón y Canal, os médicos Llria y Martinez Vargas e o militante libertário Anselmo Lorenzo, tendo Jose Prat como administrador. Entre os professores estavam Salas Anton, Corominas, Maseras e a francesa Clémence Jacquinet. Para a sede, foi escolhido um antigo convento na rua Baillén. As aulas começaram em 8 de outubro de 1901, com 30 alunos 12 meninas e 18 meninos.
     Em pouco tempo aumenta a freqüência para 70 alunos no ano de 1902 e 126 em 1904. Em 1905, a Escola Moderna tinha 147 sucursais, na província de Barcelona e três anos depois 1000 alunos em 10 escolas de Barcelona e capital. Criaram-se Escolas Modernas na Espanha ( Madrid, Sevilha, Málaga, Granada, Cadiz, Córdoba, Palma, Valencia), Portugal, Brasil (São Paulo), Lausane e Amsterdam.
     Impedido de continuar sua experiência Ferrer viaja a Londres onde convive com Kropotkine. No começo de 1909 deixou a capital inglesa fixando-se com a familia em Alella, seu lugar de nascimento.
     Surpreendido pela Semana Trágica de Barcelona, é preso a 1.° de setembro, julgado em Conselho de Guerra a 9 de outubro "como autor e chefe da rebelião" e condenado à morte. Foi executado a 13 de outubro de 1909, no fosso de Santa Eulália gritando em frente ao pelotão de fuzilamento: "Viva lá Escuela Moderna".

Livro: Quem tem medo do anarquismo?
Autor: Edgar Rodrigues
Editora: Achiamé
Pagina: 43 á 45
    

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

A ORGANIZAÇÃO DAS MASSAS OPERÁRIAS contra o governo e os patrões

     NÓS JÁ O REPETIMOS: sem organização, livre ou imposta, não pode existir sociedade; sem organização consciênte e desejada, não pode haver nem liberdade, nem garantia de que os interesses daqueles que vivem em sociedade sejam respeitados. E quem não se organiza, quem não procura a cooperação dos outros e não oferece a sua, põe-se necessariamente ao estado de inferioridade e permanece uma engrenagem inconsciente no mecanismo social que os outros acionam a seu modo, e em sua vantagem.
     Os trabalhadores são explorados e oprimidos porque, estando desorganizados em tudo que concerne à proteção de seus interesses, são coagidos, pela fome ou pela violência brutal, a fazer o que os dominadores, em proveitos iguais a sociedade atual está organizada, querem. Os trabalhadores se oferecem, eles próprios ( enquanto soldado e capital), a força que subjuga. Nunca poderão se emancipar enquanto não tiverem encontrado na união a força moral, a força econômica e a força física que são necessárias para abater a força organizada dos opressores.
     Houve anarquistas, e ainda os há, que, mesmo reconhecendo a necessidade de organização na sociedade futura e a necessidade de se organizar agora para a propaganda e para ação, são hostis a qualquer organização que não tenha como objetivo direto a anarquia e não siga os métodos anarquistas. E alguns se afastaram de todas as associações operárias que propunham resistência e a melhoria das condições de ordem atual das coisas, ou se associaram com um objetivo declarado de desorganiza-las; outros, ainda que admitindo que se podia fazer parte da associação de resistência existentes, consideraram quase uma defecção tentar organizar novas associações.
     Para esses camaradas, todas as forças, organizadas em um objetivo que não fosse radicalmente revolucionário, seriam, talvez, subtraídas à revolução. Acreditamos, ao contrario, e a experiência já nós mostrou isso muito bem, que seu método condenaria o movimento anarquista a uma perpétua esterilidade.
     Para fazer uma propaganda é preciso estar no meio das pessoas. É nas associações operárias que o trabalhador encontra seus camaradas e, em princípio, aqueles que estão mais dispostos a compreender e aceitar as nossas idéias. E mesmo que se quisesse fazer intensa propaganda fora das associações, isso  não poderia deixar feito sensível sobre massa operária. Excetuando um pequeno numero de indivíduos mais instruídos e capazes de reflexões abstratas e de entusiasmo teóricos, o operário não pode chegar de uma vez à anarquia. Para se tornar anarquista, de modo serio, e não somente de nome, é preciso que comece a sentir solidariedade que o une a seus camaradas, é preciso que aprenda a cooperar com os outros na defesa dos interesses comuns e que, lutando contra os patrões, compreenda que os patrões e capitalistas são parasitas inúteis e que trabalhadores poderia assumir a administração social. Quando compreende isso, o trabalhador é anarquista, mesmo que não carregue o nome.
     Por outro lado, favorecer as organizações populares de todos os tipos é consequência lógica de nossas idéias fundamentais e, assim deveria fazer parte integrante de nosso programa.
     Um partido autoritário, que visa a controlar o povo para impor suas idéias, tem interesse em que o povo permaneça massa amorfa, incapaz de agir por si mesma e, consequentemente, sempre fácil de dominar. É logico, portanto, que só deseje um certo nivel de organização, segundo a forma que ajude na tomada do poder: organização eleitoral, se espera atingir o objetivo pela via legal; organização militar, se conta com a ação violenta.
     Nós anarquista, não queremos emancipar o povo, queremos que o povo se emancipe. Nós não acreditamos no fato imposto, de cima pala força; queremos que o novo modo de vida social saia das entranhas do povo e corresponda ao grau de desenvolvimento atingido pelos homens possam progredir a medida que os homens avançam. Desejamos que todos os interesses e todas as opiniões encontrem, em uma organização consciênte, a possibilidade de colocar em evidência e influenciar a vida coletiva, na proporção de sua importância.
     Nós nos demos como objetivo lutar contra a atual organização social e destruir os obstáculos que se opõem à realização de uma nova sociedade, onde a liberdade e o bem-estar estarão assegurados de todos. Para perseguir esse objetivo, unimo-nos em partido, procuramos nós tornar mais numerosos e os mais fortes. Mas os  outros também estão organizados em partido.
     Se os trabalhadores permanecessem isolados com tanta unidades indiferentes umas das outras, ligada ama cadeia comum; se nós mesmos não estivéssemos organizados com trabalhadores enquanto trabalhadores, não poderíamos chegar a lugar nenhum, ou , no melhor dos casos, poderíamos apenas nos impor... E então não seria o triunfo da anarquia, mas o nosso. E não poderíamos mais nos dizer anarquistas, seriamos simples governantes, incapazes de fazer o vem, como todos os governantes.
     Fala-se com freqüência de revolução e acredita-se por esta palavra resolver todas as dificuldades. Mas o que deve ser, o que pode ser essa revolução à qual aspiramos?
    Abater os poderes constituídos e declarar extinto o direito de propriedade, é desejável: um partido pode faze-lo, bem que, para isso, é ainda preciso que esse partido, além de suas forças, conte com a simpatia das massas e com uma suficiência preparação da opinião pública.
     Todavia, e depois? A via social não admite interrupções. Durante a revolução ou a insurreição, como queiram, e imediatamente após, é preciso comer, vestir-se, viajar, imprimir, tratar dos doentes etc., e estas coisas não se fazem por si mesmas. Hoje, o governo e os capitalistas as organizam para delas tirar proveito; quando eles tiverem sido abatidos, será preciso que os próprios operários o façam em proveito de todos, senão verão surgir, sob um nome ou outro, novos governantes e novos capitalistas.
     E como os operários poderiam prover as necessidades urgentes se eles não estão habituadas a se reunir e a discutir, juntos , os interesses comuns, e ainda não estão prontos, de certo modo, a aceitar a herança da velha sociedade?
     Em uma cidade no qual cerealistas e os donos de padaria tiverem perdido seus direitos de propriedade e, por conseguinte, o interesse em abastecer o mercado, será preciso, a partir do dia seguinte, encontrar nas padarias o pão necessário para alimentar o público. Quem pensará nisso se os empregados das padarias já não estivessem associados e pronto para trabalhar sem patrões, e se, esperando a revolução, eles não estiverem pensado, de antemão em calcular as necessidades da cidade e os meios de abastecê-la?
     Entretanto, nós não queremos dizer que para fazer a revolução seja preciso esperar todos os operários estejam organizados. Seria impossível, tendo em vista as condições do proletariado, e felizmente não é necessário. Mais  é preciso que pelo menos haja núcleos em torno dos quais as massas possam reagrupar-se rapidamente, tão logo elas sejam liberadas do peso que as oprime.
     Se é utopia querer fazer a revolução somente quando todos estivermos prontos e de acordo, é ainda mais utópico querer fazê-la sem nada e ninguém. É preciso uma medida em tudo. Enquanto esperamos, Trabalhemos para que as forças conscientes e a organizadas do proletariado cresçam tanto quanto seja possível. O resto virá por si só.

L'Agitazione, 1897

Extraído:
Livro: Escritos Revolucionários
Autor: Malatesta
Pagina: 91 à 95
Editora: hedra