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sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

A ORGANIZAÇÃO DAS MASSAS OPERÁRIAS contra o governo e os patrões

     NÓS JÁ O REPETIMOS: sem organização, livre ou imposta, não pode existir sociedade; sem organização consciênte e desejada, não pode haver nem liberdade, nem garantia de que os interesses daqueles que vivem em sociedade sejam respeitados. E quem não se organiza, quem não procura a cooperação dos outros e não oferece a sua, põe-se necessariamente ao estado de inferioridade e permanece uma engrenagem inconsciente no mecanismo social que os outros acionam a seu modo, e em sua vantagem.
     Os trabalhadores são explorados e oprimidos porque, estando desorganizados em tudo que concerne à proteção de seus interesses, são coagidos, pela fome ou pela violência brutal, a fazer o que os dominadores, em proveitos iguais a sociedade atual está organizada, querem. Os trabalhadores se oferecem, eles próprios ( enquanto soldado e capital), a força que subjuga. Nunca poderão se emancipar enquanto não tiverem encontrado na união a força moral, a força econômica e a força física que são necessárias para abater a força organizada dos opressores.
     Houve anarquistas, e ainda os há, que, mesmo reconhecendo a necessidade de organização na sociedade futura e a necessidade de se organizar agora para a propaganda e para ação, são hostis a qualquer organização que não tenha como objetivo direto a anarquia e não siga os métodos anarquistas. E alguns se afastaram de todas as associações operárias que propunham resistência e a melhoria das condições de ordem atual das coisas, ou se associaram com um objetivo declarado de desorganiza-las; outros, ainda que admitindo que se podia fazer parte da associação de resistência existentes, consideraram quase uma defecção tentar organizar novas associações.
     Para esses camaradas, todas as forças, organizadas em um objetivo que não fosse radicalmente revolucionário, seriam, talvez, subtraídas à revolução. Acreditamos, ao contrario, e a experiência já nós mostrou isso muito bem, que seu método condenaria o movimento anarquista a uma perpétua esterilidade.
     Para fazer uma propaganda é preciso estar no meio das pessoas. É nas associações operárias que o trabalhador encontra seus camaradas e, em princípio, aqueles que estão mais dispostos a compreender e aceitar as nossas idéias. E mesmo que se quisesse fazer intensa propaganda fora das associações, isso  não poderia deixar feito sensível sobre massa operária. Excetuando um pequeno numero de indivíduos mais instruídos e capazes de reflexões abstratas e de entusiasmo teóricos, o operário não pode chegar de uma vez à anarquia. Para se tornar anarquista, de modo serio, e não somente de nome, é preciso que comece a sentir solidariedade que o une a seus camaradas, é preciso que aprenda a cooperar com os outros na defesa dos interesses comuns e que, lutando contra os patrões, compreenda que os patrões e capitalistas são parasitas inúteis e que trabalhadores poderia assumir a administração social. Quando compreende isso, o trabalhador é anarquista, mesmo que não carregue o nome.
     Por outro lado, favorecer as organizações populares de todos os tipos é consequência lógica de nossas idéias fundamentais e, assim deveria fazer parte integrante de nosso programa.
     Um partido autoritário, que visa a controlar o povo para impor suas idéias, tem interesse em que o povo permaneça massa amorfa, incapaz de agir por si mesma e, consequentemente, sempre fácil de dominar. É logico, portanto, que só deseje um certo nivel de organização, segundo a forma que ajude na tomada do poder: organização eleitoral, se espera atingir o objetivo pela via legal; organização militar, se conta com a ação violenta.
     Nós anarquista, não queremos emancipar o povo, queremos que o povo se emancipe. Nós não acreditamos no fato imposto, de cima pala força; queremos que o novo modo de vida social saia das entranhas do povo e corresponda ao grau de desenvolvimento atingido pelos homens possam progredir a medida que os homens avançam. Desejamos que todos os interesses e todas as opiniões encontrem, em uma organização consciênte, a possibilidade de colocar em evidência e influenciar a vida coletiva, na proporção de sua importância.
     Nós nos demos como objetivo lutar contra a atual organização social e destruir os obstáculos que se opõem à realização de uma nova sociedade, onde a liberdade e o bem-estar estarão assegurados de todos. Para perseguir esse objetivo, unimo-nos em partido, procuramos nós tornar mais numerosos e os mais fortes. Mas os  outros também estão organizados em partido.
     Se os trabalhadores permanecessem isolados com tanta unidades indiferentes umas das outras, ligada ama cadeia comum; se nós mesmos não estivéssemos organizados com trabalhadores enquanto trabalhadores, não poderíamos chegar a lugar nenhum, ou , no melhor dos casos, poderíamos apenas nos impor... E então não seria o triunfo da anarquia, mas o nosso. E não poderíamos mais nos dizer anarquistas, seriamos simples governantes, incapazes de fazer o vem, como todos os governantes.
     Fala-se com freqüência de revolução e acredita-se por esta palavra resolver todas as dificuldades. Mas o que deve ser, o que pode ser essa revolução à qual aspiramos?
    Abater os poderes constituídos e declarar extinto o direito de propriedade, é desejável: um partido pode faze-lo, bem que, para isso, é ainda preciso que esse partido, além de suas forças, conte com a simpatia das massas e com uma suficiência preparação da opinião pública.
     Todavia, e depois? A via social não admite interrupções. Durante a revolução ou a insurreição, como queiram, e imediatamente após, é preciso comer, vestir-se, viajar, imprimir, tratar dos doentes etc., e estas coisas não se fazem por si mesmas. Hoje, o governo e os capitalistas as organizam para delas tirar proveito; quando eles tiverem sido abatidos, será preciso que os próprios operários o façam em proveito de todos, senão verão surgir, sob um nome ou outro, novos governantes e novos capitalistas.
     E como os operários poderiam prover as necessidades urgentes se eles não estão habituadas a se reunir e a discutir, juntos , os interesses comuns, e ainda não estão prontos, de certo modo, a aceitar a herança da velha sociedade?
     Em uma cidade no qual cerealistas e os donos de padaria tiverem perdido seus direitos de propriedade e, por conseguinte, o interesse em abastecer o mercado, será preciso, a partir do dia seguinte, encontrar nas padarias o pão necessário para alimentar o público. Quem pensará nisso se os empregados das padarias já não estivessem associados e pronto para trabalhar sem patrões, e se, esperando a revolução, eles não estiverem pensado, de antemão em calcular as necessidades da cidade e os meios de abastecê-la?
     Entretanto, nós não queremos dizer que para fazer a revolução seja preciso esperar todos os operários estejam organizados. Seria impossível, tendo em vista as condições do proletariado, e felizmente não é necessário. Mais  é preciso que pelo menos haja núcleos em torno dos quais as massas possam reagrupar-se rapidamente, tão logo elas sejam liberadas do peso que as oprime.
     Se é utopia querer fazer a revolução somente quando todos estivermos prontos e de acordo, é ainda mais utópico querer fazê-la sem nada e ninguém. É preciso uma medida em tudo. Enquanto esperamos, Trabalhemos para que as forças conscientes e a organizadas do proletariado cresçam tanto quanto seja possível. O resto virá por si só.

L'Agitazione, 1897

Extraído:
Livro: Escritos Revolucionários
Autor: Malatesta
Pagina: 91 à 95
Editora: hedra

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