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sexta-feira, 24 de abril de 2015

AS MULHERES NA TRAGÉDIA DE CHICAGO (01-05-1886 \ 11-11-1887)

     Faz em 11 de novembro do ano em curso 94 anos, quase um século, que o proletariado sofreu um dos maiores duros golpes de sua historia.
     A tragédia começou na Praça Haymarket, América do Norte, quando elementos libertários discursavão perante uma multidão de cerca de 340 mil trabalhadores que pretendiam co horas de 8 horas de trabalho.
     O lema dos oradores do 1º de Maio de 1886, era:
     "Oito horas de Trabalho!"
     "Oito horas de Repouso!"
     "Oito horas de Educação!"
     Seu desfecho foi um saldo de 100 mortos e feridos e a coordenação à morde por enforcamento, Jorge Engel e Augusto Spies; 2 à prisão perpétua: Miguel Schwab e Samuel Fielden; e Oscar Neebe a 15 anos de prisão.
     Muita gente contribuiu para que a tragédia perpetrasse: O Chicago Time com sua campanha sórdida contra os operários; a polícia; o falso testemunho do Capitão John Bonfield e dos civis Setinger, Jassen e Shea; o questionamento dos 979 jurados; a crença reacionária do promotor publico Grinnell e do Juiz Gary, e a obdiência cega dos carrascos.
     O enforcamento deu-se às 11:50 horas do dia 11 de novembro de 1887 e a 25 de junho de 1893, o governador do estado de Illinois, Johan P. Altgeld anulou a condenação e ordenou a libertação de 3 prisioneiros, mas as vidas de Lingg, Parsons, Fischer, Engel e Spies não foram devolvidas.
     Muitas mulheres acompanharam esta tragédia emocionante, inclusive a esposa e os filhos de Parson e a mãe de Luiz Lingg.
     O próprio Oscar W.Neebe declarou perante o tribunal: "Não estive no Comício da Praça Haymarket."
     "Não nego que eu estive entre os padeiros e cervejeiros de Chicago, na luta pela conquista de melhores salários e redução da jornada de trabalho."
     "Tenho esposa e filhos; se souberem que seu pai esta morto, enterrá-lo-ão. Poderão ir até à cova e sentar-se a seu lado, mas não poderão sentar ir à penitenciaria ver seu pai, condenado por um crime que nada tinha."
     Mostrando-se a uma grandeza impressionante a mãe de Luiz Lingg escreveu-lhe: "Depois de tua morte continuarei tão orgulhosa de ti como estou hoje." Declarou mais: "se eu fosse homem, teria feito o mesmo que tu." E  sua tia declarou à imprensa: "Suceda o que suceder, não te mostre débil diante desses miseráveis."
     Por essa época (1886) chegava a Rochester, Estados Unidos, a jovem Emma Goldman, 17 anos de idade, nascida na província russa de Kovno. Tocada pela campanha das 8 horas de trabalho, impressionada com a oradora socialista Joana Grei, em defesa dos Mártires de Chicago, adere ao anarquismo. Tornou-se uma oradora vigorosa e como Joana Grei defende ardorosamente a inocência dos 5 libertários enforcados em novembro de 1887.
     Em 1893, exatamente no mesmo ano em que se reconhecia publicamente a inocência dos 8 condenados e punha-se em liberdade 3 deles, Emma Goldman era condenada em Nova Iorque a um ano de prisão por defender as idéias daqueles mártires.
     Morreu quando ia completar 71 anos de idade, a 14 de maio de 1940, em Toronto, Canadá, e os seus admiradores sepultaram-na ao lado do túmolo dos mártires de Chicago responsáveis pelas convicção libertárias da imigrante russa, transformada no curso dos anos, uma das mais combatidas propagandistas do anarquismo.
     Tocada emocionalmente pelos acontecimentos do 1° de Maio de 1886, outra jovem de 17 anos, Voltairine de Cleyre (1869-19912), nascida em Michigan, Estados Unidos, filha de pai francês, fez-se anarquista e começou a defender as idéias dos Mártires de Chicago.
     Morreu anarquista convicta e feminista como Emma Goldman.
     Por suas idéias, Voltarine de Cleyre conheceu os horrores das prisões americanas, mas nem os rigores dos cárceres nem as perseguições das autoridades lhe alteraram a conduta ou dobraram  a grandeza do seu caráter, forjado no calor das doutrinas libertárias defendidas e programadas pelos Mártires de Chicago em pleno tribunal, que tanto a impressionaram e fizeram dela uma idealista.
     Mas no caso mais polêmico ligado aos Mártires de Chicago é a da jovem aristocrática, Nina Stuart Van Zant, que no curso de processo se apaixonou pelo anarquista Augusto Spies, autor do pronunciamento gravado no Monumento erigido no Cemitério de Waldheine, Canadá, onde repousam os restos dos cinco libertários: "Não tardará o dia em que o nosso silêncio será mais eloqüente do que as nossas vozes que acabais de sufocar."
     Tão logo começou a caçada aos anarquistas pela policia americana, no dia 4 de maio de 1886 a imprensa burguesa redobrou a campanha de difamação contra os elementos da vanguarda proletária, acusando principalmente os anarquistas e os operários membros da Primeira Internacional dos Trabalhadores.
     Denúncias, acusações e calúnias postas a correr pela prensa de Chicago sacudiu e convidou o povo a tomar posições contra e a favor dos prisioneiros libertários.
     Indiferentes ao plano maquiavélico da burguesia e das autoridades, os anarquistas portavam-se com a maior dignidade,  à altura da ideologia que defendiam.
     Um dos gestos que impressionou profundamente as camaradas popular e liberal foi o de Albert Parsons. No dia da explosão (veja-se o livro A Bomba, de Frank Harris), conseguiu fugir para Wisconsin, onde ficou a salvo dos perseguidores, Mas quando soube das acusações contra os seus companheiros voltou voluntariamente para Chicago e foi entregar-se em pleno tribunal, juntando-se a eles e dizendo: "Se é necessário subir também ao cadafalso pelos direitos dos trabalhadores, pela causa da liberdade, e para melhorar a sorte dos oprimidos, aqui estou."
    A intensidade das denúncias burguesas e policiais, os debates em torno da greve de 1° de Maio e as declarações firmes, as convicções corajosas, serenas e conscientes dos anarquistas, levou a jovem aristocrática Nina Stuart Van Zantd a trocar cartas com Augusto Spies e a visitá-lo diariamente na prisão, apaixonando-se pelo homem e pelas  suas idéias.
     Muita gente começou então a visitar os prisioneiros e, uma massa de trabalhadores, por solidariedade.
     Diante da corrida inesperada, as autoridades baixaram ordem limitando as visitas ás esposas e ás mães dos presos.
     Nina ficou impedida e não hesitou um instante: propôs casamento a Augusto Spies para como esposa poder visitá-lo até ao último dia de sua vida. Casaram-se!
     E quando seus familiares e a gente do mundo social a criativa por se apaixonar e casar com um anarquista condenado a morte, a jovem Nina Stuart Van Zantd respondia: - "Prefiro a censura desta sociedade, cuja moral não lhe permite compreender um verdadeiro amor alimentado também pela afinidade de idéias e pela desgraça, a casar-me com algum velho vicioso e inválido, possuidor de grandes riquezas, merecendo desses 'moralistas' muitas felicitações."
(Gazeta do Sul - 14-11-1981)

Extraído:
Livro: O Homem em Busca da Terra Livre
Autor: Edgar Rodriguês
Editora: VJR Editores Associados
Paginas: 142 á 145

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Carta de Kropotkin em defesa dos Mártires de Chicago

Senhor editor do New York Herald.
    A sentença de Chicago indica que o conflito está tomando na América um rumo mais brutal que jamais teve na Europa. As primeiras páginas desta historia começam com um ato de represálias do pior gênero. Uma boa dose vinganças, mas nenhum fato concreto, é tudo o que se infere do processo de Chicago.
     Li com atenção os dados da causa; pensei detidamente os indícios e evidência, e não hesitou em assegurar que semelhante sentença só pode acha-se na Europa depois das represálias levadas a efeito pelos Conselhos de guerra a partir da derrota da Comuna de Paris, em 1871; o terror branco da restauração borbônica de 1815 fica muito atrás.
     Estou completamente de acordo com as mensagens dirigidas ao embaixador americano pelo Ajuntamento de Paris e Pelo Conselho Geral do Sena em favor dos anarquistas sentenciados. Porém o tribunal de Chicago não tem desculpa que tinham conselhos de guerra em Versalhes, a saber: a excitação das paixões produzidas por uma guerra civil depois de uma grande derrota nacional.
     É evidente, de imediato, que nenhum dos setes acusados atirou a bomba alguma. Está por demais provado que alguns não assistiram ao comício de Haymarket e que outros já se haviam retirados quando a policia atacou furiosamente a multidão. Ainda mais: o promotor não sustenta que a bomba foi atirada por qualquer dos sete acusados, posto desse fato acusa outra pessoa que não está sob a ação da justiça.
     Só Spies é acusado de haver entregue um pavio para pôr fogo à bomba, mas o único homem que dá testemunho disso é um tal de Gilmer,cuja má reputação é bem conhecida e cujo o habito de mentir afirmado por 10 pessoas que haviam vivido com ele. Além disso, o mesmo Gilmer declarava haver recebido dinheiro da policia.
     Depois dos acontecimentos de Haymarket, os corpos legislativos do estado de Illinois promulgaram uma lei contra os dinamitadores e estão agora a ponto de promulgar outra contra todo tipo de conspiradores. Segundo esta última lei, qualquer ato ilegal, mesmo que tenha fins legais, será considerado como criminoso. Acaba, pois, de ser destruído um dos principais artigos da Constituição. Segundo reza a futura lei, qualquer incidente que dê por resultado ilegal, será também considerado como delito.
     Não faz falta provar que a pessoa que comete um ato ilegal pode haver lido artigos ou escutado discurso que aconselhavam cometê-lo, e assim agora todos esses artigos e discursos serão responsáveis do dito ato. Fica virtualmente suprimida a liberdade de falar e de escrever. Do mesmo modo a lei francesa reconhece uma relação direta entre a excitação por meio da palavra, falada ou escrita, e o ato executado.
     A nova lei do estado de Illinois me interessa pouco em si mesma e só desejo que conste o seguinte: Sete anarquistas de Chicago foram condenados a morte graças a um simulacro da lei que ainda não o era em 1886, quando se cometeram os feitos de que são acusados. A referida lei foi proposta com o proposito de ser aplicada ao processo de Chicago, e seu primeiro efeito será matar sete anarquista.
Sou de você afetuosíssimo. - P. Kropotkin.

Extraído:
Livro: Primeiro de maio dia de luto e luta A Tragédia de Chicago
Autor: Ricardo Mella
Editora: Achiamé
Pagina: 93 á 94
Ano: 2005

domingo, 19 de abril de 2015

Contradições do Século 20

     O século 20 vai chagando ao fim
     Sua história escrita com sangue humano de duas guerras mundiais, centenas de pequenas guerras, revoluções, revoltas, conflitos de raças, de cores, de religiões, de idéias politicas, sociais, de petróleo e de dólares.
     Soma-se ainda as lutas de classe e por melhor salários, a brutalidade das ditaduras, das prisões por delitos de opinião, as torturas, os assassinatos, fuzilamentos, sequestros por divergências religiosas, politicas e para cobrar resgastes em dinheiro; o empobrecimento de cerca de um bilhão de pessoas e o enriquecimento astronômico de alguns envenenadores da natureza, destruidores das florestas, poluidores dos mares e dos rios.
     A ambição cega gente que só pensa no hoje!
     O século 20 registra também a existência de grandes tiranos como Hitler, Mussolini, Salazar, Franco, Stalin, Fulgêncio Batista, Peres Gimenez, Pinochet, Fidel Castro, Vizela, Getúlio Vargas, Saddam Hussein, Aiatolá Khomeini e centenas de verdugos da pior espécie, na África, na Ásia, na Europa, "socialistas", nazi-fascistas e democratas, no mundo árabe, na América.
     Século de grande progresso tecnológico, eletrônico, ida à Lua, da descoberta da energia atômica e todo um acervo de armas que podem destruir o nosso planeta mais uma vez. Revelou especialistas em matanças coletivas, em genocídios, formação nas academias militares para desencadear guerras computadorizadas, trusts do comércio, da industria,dos bancos, do petróleo e grupos ricos e poderosos da Igreja Universal do Reino de Deus, de seitas evangélicas e muçulmanas que detém fortunas colossais com ajuda eletrônica, no Brasil, na América do Norte e no mundo árabe.
     E o Homem o que ganhou com tantos avanços tecnológicos?
     É menos pobre? Dispõe um mínimo de tranquilidade e de bem-estar?
     As mudanças do século 20 incluem proporcionar a felicidade humana?
     A tecnologia inventada e desenvolvida pelos cientistas e pelos técnicos lembra-se do seu criador? Da sua felicidade, da dos seus, da sociedade? Atende os interesses da Humanidade ou só as ambições de uns poucos magnatas desprezando o centro desse universo: O HOMEM?
     Não há sociedade feliz enquanto gente como nós dormir nas calçadas, de baixos dos viadutos, nos prédios em ruínas, em "casas de latas" e morrer aos poucos de fome.
     O século 20 revelou um outro progresso, filho do terror politico, da exploração desenfreada, do racismo, da religiosidade canibal, cujas "vitórias cantadas", afrontam a inteligência, os direitos humanos e a liberdade de pensar em voz alta, de populações imensas que dominam com mão de ferro.
     A Europa chegou a ser "governada pelo terror dos campos de extermínio nazi-fascistas. Antes do Pan-Germanismo e o Czarismo que apavorou as populações pacifistas, antiguerreiras. Rios de sangues correram na Europa, na América e na África até na implantação do Bolchevismo em 1917, na Rússia e seus satélites. Milhões de pessoas direcionaram sua fé e suas esperanças para esses países. Chegou-se acreditar que a igualdade econômica e social, felicidade humana para todos os habitantes do nosso planeta viria do Oriente. Foram mais de 70 anos de esperança e expectativas em vão... Agora todos os sonhos caíram por terra! Só a pobreza e a desolação dos oprimidos persistentes em doses assustadoras.
     Ao findar o século 20 a democracia usada pelo Tio Sam para invadir e explorar países na América Latina e os ingleses e franceses para saquear e colonizar povos no Ásia, na África e até na Europa, perdeu a sua cotação.
     O partido comunista inclusive os dois brasileiros, pensam em mudar de Rússia (das liberdades máximas, do socialismo real) é posto fora da lei, proibida a sua existência, exatamente como não faz a muito tempo os comunistas proibiam manifestações a organismos que não fossem os seus, principalmente depois que um grupo de marajás soviéticos tentaram depor do governo renovador(?).
     dispuseram-se a dar mais um golpe, desafiar o governo, fuzilar os "traidores" do comunismo e continuar explorando a boa fé do povo. Só que desta vez o POVO russo repetiu a "revolução popular espontânea de Fevereiro de 1917": saiu às ruas e derrotou o exército pondo para correr os golpistas! (Foi este POVO que derrubou a corja de bárbaros comandada pelos Romanoffs, destruiu uma dinastia seculares e expulsou o Czar, em fevereiro de 1917).
     Nesta ultima década do século 20 as esperanças parecem volta-se para o "socialismo democrático". No entanto as democracias empobreceram a América Latina e tal como a islâmica apoiava ditames do Corão, não avança com o propósito de reduzir as diferenças sociais, a miséria reinante nos regimes fortes e nos liberais, chegando para muito ser de fome absoluta. O socialismo em alguns países também é hoje apenas rótulos.
     E não se espere que o século 21 diminuam as disputas pela supremacias tecnológica, com os fortes ameaçando os fracos, para lhe vender armas enquanto milhões de pessoas morrem de fome.
     Se os poderosos não pararem para pensar e fizer reverter a volúpia do poder do homem e do Estado, será o século da catástrofe: a população e as substâncias químicas ajudarão as armas a destruição da Humanidade.
     Só uma EDUCAÇÃO NOVA, humanizada para todos, embutida num sistema redistribuidor de riquezas naturais e das produzidas pelo trabalho de todos e de cada um poderá salvar a Humanidade.
     Em síntese: o século 20 chega ao fim marcado pela ambição neurótica do homem, contrariando o conceito cristão de que somos todos irmãos.
(Flor do Tâmega - 02-10-1992).


Extraido:
Livro: O Homem em busca da terra livreAutor: Edgar Rodrigues
Paginas:236 á 238
Ano:1993

Editora: VJR - Editores Associados

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Bases para Reivindicações e construção de um sindicalismo revolucionário

CONHECE, ORGANIZA, EMANCIPA


Palavras Iniciais

     O sindicalismo revolucionário, as trabalhadoras não esmolam migalhas da mesa e nem pretende ser submissas eternamente!
     Exigimos um meio social/econômico mais digno e enquanto não tenhamos um mundo mais justo, libertário e igualitário em que possamos viver, e que as pessoas vivam, com real dignidade.
     Nossa história, é parte da história do movimento operário combativo, está cheia de desilusões, derrotas e momentos duros.

     Mas também podemos falar com orgulho de nossas conquistas sociais como a jornada de oito horas, as férias, o descanso semanal, conquistas que chegaram não faz tanto tempo e com o risco de serem descumpridas pelas forças empresáriais ou de ser suprimidas pelo Estado ao bel prazer de crises convenientes.
     As bases reapresentadas pela importância e relevância na luta das pessoas trabalhadoras, resumem-se nossas reivindicações, nossas aspirações mais imediatas, os direitos mínimos que cada pessoa deve desfrutar.
     Foi elaborada por trabalhadoras como você, com problemas como os seus.
     Nenhum dirigente partidário ou diretor sindical nos ajudou e nem nos guiou como fazê-la, nenhuma força empresarial influenciou para que diminuíssemos estas reivindicações e tão pouco nenhuma funcionária do Estado ou aspirante a ele, diga-se pessoas politicas e seus partidos (esquerda/direita), nos auxiliou. não. Não aspiramos a profissionalização sindical/politica/partidária, não buscamos o poder, mas a emancipação de todas as pessoas.
     É nossa base reivindicativa, pode fazê-la sua, usa-la, melhorá-la, ampliá-la e sobretudo, esforça dia-a-dia para que cada questão apresentada seja uma realidade em um futuro próximo.
     Negamos os meios autoritários porque só levam a práticas autoritárias e impositivas, não a emancipação social.
     Aspirar a liberdade é construir as condições para que essa liberdade aconteça!
     Trabalhadoras, operárias de qualquer ramo ou ofício, pessoas que sobrevivem com pequenos ordenados, pessoas que seguem adiante com um salário: aqui está nossa plataforma, una-se a nós se possuem aspirações sociais, se luta por um mundo melhor e digno.
     Tenha presente que o capital e o Estado não regulam nada e que cada pequena conquista necessita de uma grande luta.
     Ah! E não duvidem que para nós, é tão importante o que se consegue como a forma que se consegue.
     Saúde e anarcossindicalismo!

I)Aumento do emprego e melhorias nas condições de trabalho.

1)Medidas contra desemprego

     Para evitar o desemprego e evitar que este seja uma ameaça constante contra nossa classe trabalhadora, oprimida e explorada.
     Se faz imprescindível a distribuição igualitária do emprego entre todas as pessoas.
     Para conseguir esta meta, defendemos o seguinte:
     -Jornada máxima de 30 horas semanais, sem nenhum tipo de modificações por supostas necessidades da empresa. A redução de jornada não deve redundar em perdas salariais, assim o trabalho deixará de ser um privilégio para converter-se no direito real que as trabalhadoras tenham, gerando os empregos necessários para que se reduza a jornada de todas;
     -Eliminação de horas extras, banco de horas, vários empregos, jornadas duplas, triplas de trabalho, por serem modalidades da flexibilização do trabalho que tem objetivo de ampliar a exploração sobre as trabalhadoras e evitar a geração de mais empregos;
     -Férias de 30 dias corridos por ano;
     -Redução da idade de aposentadoria para 60 anos, ambos os sexos, com 100% do salário, independente dos fatores previdenciários.

2)Contratação e melhorias de emprego

     Reivindicamos a total eliminação do trabalho precário e escravo.
     Nessa luta, propomos o seguinte:
     -Contratação dos trabalhadores mediante contratos fixos, inclusive dos chamados “temporários” rurais (pessoas contratadas, geralmente em outros estados por uma temporada, visando precarizar as condições de trabalho e desorganizar as pessoas trabalhadoras nos campos);
     -Eliminação da contratação temporária e as terceirizações, que precariza as pessoas trabalhadoras;
     -Supressão de todas as pessoas em regime "temporário" e sua integração nas folhas de pagamentos das respectivas empresas;
     -Regionalização das funcionárias, evitando-se trabalhadoras de outras regiões, visar melhorias nas regiões de origem das pessoas;
     -Revisão dos novos grupos “profissionais” e a manutenção dos ramos profissionais atuais;
     -Denuncia e extinção dos cargos de confiança e das chefias/diretorias que dividem nossa classe, confundindo-a e a manipulando-a;
     -100% de abono aos acidentes de trabalho, invalides, excessos patronais e enfermidades;
     -Assegurar as pessoas as licenças por doenças diversas e que possam promover a saúde preventiva e integridade física;
     -Abolição de contratos por obras e serviços, das empresas de emprego temporário e o uso de “Pessoa Jurídica - PJ”;
     -Redução do trabalho noturno, mantendo-o onde é extremamente necessário e importante socialmente;
     -Inclusão destes tópicos em todas as convenções, dissídios e negociações coletivas, na busca do entendimento das formas de opressão/exploração sobre as pessoas e as busca de mecanismos de defesa.

3)Demissões

     O Sindicalismo Revolucionário está na defesa real dos postos de trabalho.
     Por isso, mostramos nosso absoluto repúdio as demissões coletivas, programas de demissão voluntária, férias compulsórias coletivas e outros expedientes de "crise", mas que não mexem em margem de lucros das forças poderosas etc. Total repúdio também as negociações entre patrões, Estado e “sindicatos oficiais” e que recebem muito para serem fantoches no teatro "legalista", onde as pessoas ficam sempre de fora.
     -Readmissão de todas as pessoas trabalhadoras vítimas dessas enganações patrono-estatal-sindicais;
     -Indenização a todas as pessoas trabalhadoras por estas demissões forjadas em manipulações legalistas institucionais.

4)Reajustes salariais

     Entendemos que as pessoas trabalhadoras, oprimidas e exploradas formam uma só classe social, nossas reivindicações devem ser orientadas para um salário único e justo para todas.
     A aplicação gradual de reajustes lineares que equiparam salários são uma solução de curto prazo, e que a solução definitiva das diferenças abismais entre profissões e coletivos só poderá resolver-se mediante a aplicação de reajustes inversamente proporcionais e que sejam vinculados ao trabalho, quem trabalha, recebe.
     Mas a proposta mais justa ainda é abolição total de todos os salários, através do controle direto das trabalhadoras dos meios de produção, distribuindo assim a produção na sociedade conforme suas necessidades.

5)Salário mínimo necessário

     Conforme as necessidades mensais (alimentação, transporte, lazer, remédios, residência, vestimenta etc) de uma família com duas pessoas adultas e duas pequenas, o que equivale aproximadamente R$ 3.200,00 estendidos as todas categorias e as menores de 21 anos.

6)Licenças e maternidade

     Propomos a cobertura de 100% do salário base desde o 1° dia da licença, independente dos dias abonados. (veja mais no item II-Melhorias na Prevenção Social no decorrer do texto).

7)Segurança e higiene no trabalho

     Ante os inúmeros acidentes de trabalho e a incontável cifra de pessoas mortas devido as omissões patronais e as condições insalubres e precária dos locais de trabalho, exigimos o comprimento das normas e leis referentes a higiene e segurança no trabalho, pelas forças patronais e empresáriais responsáveis.
     Em todo caso, deve-se priorizar a segurança no trabalho e não os benefícios econômicos. A eliminação da hora extra, banco de horas, vários empregos ... oferece também melhoras nas condições de segurança do trabalho.

II-Melhorias na Prevenção Social

1)Maternidade

     Consideramos a maternidade como um direito da mulher trabalhadora e não como uma enfermidade, nem como uma trava na hora de contratação ou desculpa para condições precarizantes ou que criem condições desiguais de tratamento ou recebimentos econômicos.
Portanto:
     -Deve ter cobertura total;
     -A mãe receber apoio das organizações autônomas, até que a criança alcance a idade de escolarização;
     -A mãe, o pai, ou pessoas cuidadoras devem ter direito a pedir um período de afastamento remunerado aos 3 primeiros anos de vida do bebê;
     -Devendo aumentar consideravelmente as creches coletivizadas/públicas.

2)Assistência médica e farmacêutica

     Entendemos que saúde pública é direito que as pessoas mantém com seu trabalho e não existem carências por isso e não devem existir.
     Portanto, a assistência social deve cobrir 100% de todos os serviços médicos e farmacêuticos.
     Devem, pois incluir atendimento as novas doenças, próteses, serviços odontológicos e tudo que diga respeito a uma boa saúde e sua promoção.
     O aborto e os sistemas contraceptivos deverão ser gratuitos e acessíveis a todas as pessoas.

3)Direitos sociais

     O serviço social são para todas as pessoas trabalhadoras desempregadas ou empregadas.
     As retribuições sociais se estipulam a partir do salário mínimo necessário.

III-Redistribuição da renda

     -Repúdio ao sistema vigente de imposição tributária onde as pessoas que menos recebem são as que mais pagam e que agrava o valor do trabalho frente as rendas, lucros (entenda roubos) do Capital;
     -Repúdio aos impostos indiretos que convertem a Classe Trabalhadora em contribuinte fundamental beneficiando as forças mais poderosas economicamente;
     -Aplicação de medidas destinadas a execução da divisão da riqueza, penalizando as desproporcionadas rendas e benefícios do Capital.
     Se trata, definitivamente, de implantar lentamente uma maior e ampla justiça social.

IV-Direitos de participação dos trabalhadores

1)Direitos dos trabalhadores

     Eliminação da legislação trabalhista fascista vigente anti-sindicato e anti-operário e a construção de uma carta coletiva direta das pessoas que realmente trabalham e são oprimidas e exploradas.
     Repúdio da Reforma Sindical e a incorporação dos Direitos Humanos no mundo do trabalho.
     Desenvolvimento de fórmulas de trabalho e de previdência social que eliminem as milhares de pessoas mortas por acidente de trabalho.

2)Direitos sindicais

     Aplicação de uma verdadeira liberdade sindical e e livre associação das trabalhadoras.
     Exigimos a igualdade sindical que termine com privilégios das burocracias e pessoas diretoras sindicais.
     Término do imposto sindical, um dreno das forças de luta das pessoas, abertura a filiação das trabalhadoras a qualquer entidade sindical.
     Fim da profissionalização sindical e dos aparelhamentos partidários e patronais nos sindicatos.
Ser sindicalista não é profissão e nem privilégio de um grupo, é união emancipadora de todas as pessoas trabalhadoras.

3)Negociação coletiva

     Por serem as pessoas trabalhadoras as maiores afetadas nos dissídios coletivos, entendemos que a participação delas é imprescindível nos processos de negociação, não mais feito as portas fechadas e com grupos alheios as trabalhadoras.
     O sindicalismo revolucionário defende que as negociações coletivas sejam feitas diretamente pelas pessoas trabalhadoras, sem mediadores políticos, chefes, burocratas ou diretores sindicais. A luta sindical deve ser feita de forma sempre de forma legitima e não apenas disfarçada de legal. A luta das pessoas trabalhadoras não se deve resumir a quem possua o melhor escritório de advocacia como atualmente convencionou-se através de anos de sindicalismo fascista/legalista/pelego.
     -Todos dissídios, deverão ser negociações propostas em assembleias diretas e aceitação devem ser aprovadas também pelas assembleias das trabalhadoras em qualquer momento que as trabalhadoras entenderem como necessário.
     -Fim dos dissídios pré-datados, sempre favoráveis as forças patronais. As pessoas trabalhadoras sabem o quanto suas contas sobem sem controle e como seus recebimentos são insuficientes para cobrir suas dívidas.

V-Direito a autonomia social

     As novas conquistas sociais e trabalhistas devem encaminhar-se para controle e gestão direta das pessoas trabalhadoras, das empresas, fábricas, campos, serviços ou seja, tudo que diga as relações sociais e sua vivência, sempre focando em formas coletivas, sem negar a cada pessoa a satisfação de suas necessidades básicas, o foco da produção e distribuição e não mais a ganância, lucro e acumulação de poucas pessoas e seus grupos excludentes.
     O direito a autogestão econômica e social é a mais digna aspiração da Classe Trabalhadora.
Toda nossa ação sindical, é edificada sobre associação, a organização, a ação direta e a solidariedade da Classe Trabalhadora.
     Estas constituem as ferramentas fundamentais do trabalho e luta.
     A transformação social para uma sociedade equilibrada, responsável e justa é o nosso grande objetivo.


Extraído:
Jornal: (((A)))Info
Abril 2015
Ano 4
Número 43
Pagina 5 á 9

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Quilombo. O início da Independência

     Creio que é a primeira vez que se dá ênfase a essa comemoração. Já era tempo, porque que se fazia antigamente, aquela que ensinava na escolas, era deformação completa do que foram os quilombos - que eram apresentados como redutores de escravos fugitivos, malandros, criminosos, vivendo na maior promiscuidade.
     A perseguição aos escravos fugitivos era glorificada e a figura do capitão-do-mato, exaltada. As gravuras da época, naturalmente feitas segundo essa tradição, apresentavam o perseguidor magnificamente trajado, montado em fogoso corcel, arrastando os negros esquálidos, com o faciem pior que podiam arranjar. A destruição dos quilombos teriam sido uma obra redentora, uma limpeza do terreno, destinada a restaurar o princípio da propriedade, a ordem, a moralidade.
     Pesquisadores do porte de um Edson carneiro, sociólogos como Gilberto Freire, escritores como Edgar Rodrigues desmentiram essa infância histórica. Daí, o conhecimento melhor e competente desse episódio, cuja grandeza ainda desta vez não esta sendo totalmente revelada.
     Porque não será exagero apontar a epopéia dos quilombos como o inicio da Independência do Brasil. Pois foi com esses negros que nasceu a luta pela liberdade. Basta citar, cronologicamente, a data do Primeiro quilombo e a primeira expedição punitiva: 1602.
     Como colonização portuguesa, inicia-se a historia das lutas sociais no Brasil. A agricultura dominava a economia brasileira. Portugal, em consequência de um tratado com a Inglaterra, não grandes fazendeiros permitia a instalação nem de industria rudimentares. As primeiras tentativas de siderurgia foram assim proibidas no Brasil, como em outras colônias. Havia um artesanato sem expressão, formado por pequenas oficinas interligadas, produzindo para os senhores do engenho e para o governo. A agricultura vivia de mão de obra escrava, alimentada pelo trafego de negros da África chamada portuguesa. Esses escravos, depois de uma viagem em miseras condições, eram desembarcados e vendidos aos grandes fazendeiros que dominavam vastas arias de terra.
     A má alimentação, os espancamentos, o rigor do cativeiro, os castigos,tornavam mais odiosa a sujeição. As torturas são, hoje, peças de museu. Mas eram essas peças que mantinham a escravidão, submetendo homens arrancados de suas aldeias e transportados para outras terras, onde a condição humana lhes era negada.
     O que o admirável e deve ser exaltado é a capacidade de resistência moral desses escravos, que souberam reagir contra a desigualdade social, começando a escrever, a um só tempo, as reivindicações sociais e a independência contra o colonizador-opressor.
     Foram esses negros que não se abateram pela tortura; que preferiram a liberdade, arriscando a própria vida, que que fundaram as primeiras coletividades livres no país, os núcleos  iniciais da independência. A epopéia que começaram a escrever, com bravura, heroísmo e espirito de organização, foi seguida por outros brasileiros, brancos, pretos ou mestiços, nas diferentes tentativas pela independência em Pernambuco, na Baia, em Minas Gerais, no Rio Grande do Sul.
     Confinados nas senzalas e supliciados, os escravos organizavam-se em associações clandestinas, para conseguir dinheiro. A rudeza do trato e as condições de um sistema imposto pelo colonizador obrigaram o trabalhador rural a declarar guerra a esse tipo de propriedade privada, às autoridades que prestigiavam o sistema e ao latifúndio que o obrigava.
     Essa é a origem dos quilombos. Não era possível a reivindicação dentro de um sistema que não comportava reivindicações. Daí, a fuga. E como a perseguição se fazia cruel, os fugitivos se agrupavam, estabelecendo a resistência.
     Formam-se os quilombos. As fuga do trabalhador rural passou a obedecer a um planejamento que se aperfeiçoou, pondo em xeque a economia feudal e desafiando os exércitos da monarquia portuguesa. Nada do banditismo do cangaceirismo dos negros, da heroicidade só reconhecida nos aguerridos exércitos que derrotaram e destruíram as rebeliões campesinas e as comunidades perfeitamente organizadas. Porque os quilombos foram mais do que simples agrupamentos de fugitivos, porque organizavam povoados, fizeram plantações, criaram comunidades, resistiram anos e anos a repetidas expedições punitivas. A relação dos quilombos, a descrição dos mais importantes como Rio Vermelho (1632); Itapicuru (1636); na Baia; Riu das Mortes (1751), em Minas Gerais; Malonguinho (1836) nas vizinhanças do recife; de Manuel Congo, em Pati do Alferes, Estado do Rio, revelaram um estilo de vida e uma sociedade que pôde servir de modelo.
     O Quilombo dos Palmares teve uma organização social digna de estudos. Era um regime comunitário, onde não circulava dinheiro. Mas foram necessários 18 expedições, comandadas por capitães-mor, por altas patentes militares e milhões de soldados, durante 92 anos, tomaram as terras, destruíram as plantações, mataram e venderam os negros que conseguiram aprisionar. A figura de Zumbi, assinalada como herói do quilombo, deve ser reverenciada como primeiro homem que lutou pela liberdade e pela independência do Brasil¹

¹ Diário de Noticiais, Rio de Janeiro, 20 de novembro de 1973. Depoimento do historiador Hélio Silva, embasado em nosso livro Socialismo e Sindicalismo no Brasil - 1675 -1913.
Extraido:

Livro: A NOVA AURORA LIBERTARIA (1945 -1940)Autor: Edgar Rodrigues
Paginas:226 Á 227
Ano:1992

Editora: Achiámé

terça-feira, 14 de abril de 2015

Sobre os Atentado Contra Autoridades (Errico Malatesta)

     Sabemos que o essencial, o útil, indiscutivelmente, são é matar a pessoa de um rei, mais matar todos os reis - os dos tribunais, dos parlamentos e das fabricas - no coração e na mentes das pessoas, isto é, desraizar a fé no princípio de autoridade do qual uma grande parte do povo conserva o culto (...)
     Um outro fato sangrento veio consternar as almas sensíveis... e lembrar aos poderosos que se colocar acima do povo e pisotear o grande preconceito da igualdade e da solidariedade humanas não esta livre do perigo. Antes de tudo, tragamos os fatos a suas justas proporções.
     Um rei foi morto; e como um rei não deixa de ser um homem, o fato é lamentável. Uma rainha ficou viúva; e visto que uma rainha é uma mulher, compreendemos sua dor.
     Mas por tanto barulho pela morte de um homem e pelas lagrimas de uma mulher, quando se aceita algo natural o fato de que a cada dia inúmeros homens são mortos, e incontáveis mulheres choram, por causa de guerras, acidentes de trabalho, revoltas reprimidas por fuzilamentos, e de mil crimes devidos a misérias, ao espirito de vingança, ao fanatismo e ao alcoolismo?
     Por que exibir tanto sentimentalismo em relação as desgraça particular, quanto milhares de seres humanos morrem de fome e de malária, em meio à indiferença daqueles que teriam os meios para remediar a situação?
     Talvez porque desta vez as vítimas não são trabalhadores comuns, um honesto homem e uma honesta mulher quaisquer, mais um rei e uma rainha... Realmente, achamos o caso mais importante e nossa dor é mais sentida, mais viva, mais verdadeira, quando se trata de um mineiro esmagado por um desmoronamento durante o seu trabalho, e de uma viúva que passará fome com seus filhos! Todavia, esses dos monarcas também são sentimentos humanos a deplorar. Mas o queixume permanece estéril se não busca suas causas, a fim de eliminá-las.

Errico Malatesta
Trad. do italiano para o francês por Le Réveil

Traduzido por Plínio Augusto Coêlho

Extraído:
Revista:Novos TemposTitulo: Faces do Horror
Publicação Anarquista Quadrimestral  São Paulo\SP
Paginas:21 á 22
Ano: 3ºQuadrimestre de 2001

Editora: Imaginário

domingo, 12 de abril de 2015

O Culto da Cruz

     É sempre interessante o confrontar as crenças, costumes etc.,dos diferentes povos. Desse confronto, resulta uma elucidação, um esclarecimento, uma utilidade em suma.
     Desde remotíssimas eras que o homens têm rendido culto à cruz.
     Os cultos são, em regra, mas ou menos destinados a manter, na mente humana, a memória de qualquer fato social importante que, de outra maneira, facilmente esqueceria.
     Algumas vezes os cultos, certos cultos, não se referem a verdadeira utilidades sociais, mais sim as vantagens particulares de casta ou seita. Esses só terão só terão influência na sociedade enquanto durar a da casta ou seita; influência temporária, é bem de de ver; influência apenas de exterioridades, que não de sentimento ou consenso unânimes.
     De outra vezes, os cultos, embora prestados a verdadeira utilidades sociais, quebram o seu prestigio e potência quando já não tem razão de ser, por já não poderem servir estas utilidades e o progresso das idéias haver dado às massas outros objetivos.
     As religiões desempenham um papel útil às sociedades numa época em que a mentalidade das massas alimentava essencialmente da fantasia e a rudez da sua inteligência não suportava, por seres incompreensíveis ou não terem ou não terem seus olhos, prestigio suficiente, os processos explicativos sob a forma cruamente cientifica. Era sobre tudo necessário falar-lhe à imaginação e desta necessidade proveio o simbolismo que caracteriza as religiões. Por intermédio das cerimônias culturais se fixaram os primeiros conhecimentos ciêntificos e artísticos, bom como a descobertas industriais. O aparato dessas cerimonias faria a imaginações dos povos como hoje ainda sucede com todas as manifestações espetaculosas ( e tanto mais grandiosa forem). O o povo sempre apreciava muito aspecto teatral de certas solenidades.
     Assim o culto de Ceres, o culto do touro Apis, o culto do deus Martelo, etc. etc., eram, ao mesmo tempo que a glorificação da agricultura, do touro negro como ótimo para os trabalhos do Campo, da Metalurgia etc., o modo de infundir respeito e amor por essas conquistas do gênio humano. Os templos de Sérapis, de Esculápio e outros gênero, alimentavam os mesmos sentimentos para com a Medicina.
     Desde amor e respeito, resultava o desejo de maior cultura e desenvolvimento das ciências e industrias e maior afã em não perder os bens já alcançados.
     Mas, quando a classe sacerdotal, envolvendo no denso véu do mistério todas as descobertas, todos os processos do saber; e de cada vez mais espesso tornando esse véu para limitar a um reduzido número de iniciados os conhecimentos e bens obtidos, começou a sair do santuário para influir diretamente nos destinos dos povos, as religiões perderam o caráter primitivo  de utilidade publica; tornaram-se improgressivas; pretenderam limitar os povos num cinto férreo de preconceitos ancestrais; visaram cristalizar a sociedade nos moldes antigos e degeneraram num meio perigoso de escravização social.
     Ora a cruz teve um culto quase pode dizer universal, desde a idade da pedra. E por quê? Porque ela era o simbolo de uma importante descoberta do homem primitivo; descoberta que foi para a humanidade, verdadeiramente, a sua salvação, a sua redenção.
     Essa descoberta que foi a do processo de se obter fogo; e a cruz era a imagem do instrumento que serviu para produzir o lume.
     Pode-se fazer uma ideia aproximada - hoje que a civilização nos tem cercado de tanto  conforto e beleza, fechando, é claro, os olhos de muita miséria e hediondez - do que seria a vida do homem Pré-Histórico, rodeado de perigos de todo o gênero, perseguido pelas feras, vivendo ao relento, alimentando-se do produto de caça e da pesca, das raízes do frutos silvestre, passando um longo período de penúria nas épocas de esterilidades, ignorando os prazeres da cozinha, não podendo aquecer se não ao sol quando havia, suportando a inclemência dos longos invernos; açoitado pelas tempestades, lapido, pelo granizo, tendo por únicas armas de defesa o pau e a pedra, e por único abrigo, quando era possível, a caverna disputando aos animais ferozes.
     Imagine-se, pois, o que teria sido para o homem dessas eras remotas, o prodígio da descoberta em questão! Como a vida lhe transformou! Como os horizontes se lhe alargaram! E como se pode afirmar, com razão, que essa descoberta representa o resgate da humanidade da vida precária e inferior que se vivia nesses recuados tempos.
     Natural foi, portanto,que o homem pré-histórico tomasse o fato como um bem celestial; que lhe rendesse culto por isso; porquanto, na sua tendência animista, ele haveria de ver, no maravilhoso da descoberta e na forma misteriosa como um lume brotava, a a influência de deuses ocultos ou da "alma" benfazeja das coisas que pôs em jogo.
     Hoje, que nos orgulhamos da nossa civilização; que basta um simples riscar de um fosforo ou num mero banal mover de um botão elétrico para obtermos luz e calor que fartem, não deixa de impressionar a algumas pessoas que, de dois pedaços de madeira, esfregados um pelo outro, possa brotar faísca redentora.
     Efetivamente, por mais estranho que pareça, foi pela fricção de dois paus que o homem era da pedra polida, conseguiu produzir fogo.
     O fato está plenamente averiguado, não só porque ainda hoje alguns povos como os bosquimanos ou os canacas por exemplo, se servem desse progresso, mas também consta dos momentos pré-históricos nos quais se vêem gravadas, na pedra, as imagens dos instrumentos primitivos já aperfeiçoado pelo progresso.
     Os primitivos produziam fogo, esfregando o pau numa cavidade escavada noutro, para o que faziam girar rapidamente entre as palmas das mãos como bate chocolate. Um dos paus era curto e de madeira macia ao passo que o outro comprimido e rijo. A disposição para o manejo afetava a forma de um T, como era de prever; e foi esta, realmente, a primitiva figura cruz.
     Com os aperfeiçoamento produzidos, o Tau inicial modificou-se na cruz gamada - isto é: os dois paus eram cruzados e cada um revirado nas extremidades em sentido oposto. Desta maneira podia-se fixar em qualquer superfície, a cruz, pregando quatro cravos, juntos ao vértice de cada ângulo interno das referidas extremidades. No ponto do cruzamento, escavava-se uma cavidade, dentro da qual girava um terceiro pau em posição perpendicular à superfície. Para fazer revolutear este pau, passava-se em torno de uma volta ou duas de uma corda presa a uma superfície de arco de rebecão ou de besta  e imprimia-se movimentos de vaivém ao mesmo arco como quem toca rabecão. O resultado era um pau girar rapidamente dentro da cavidade se despunham untadas de óleo, auxiliando-se a ativando-se a combustão com o sopro.
     Esta nova disposição do instrumento de produzir o lume, em forma de cruz gamada é a suástica, cuja a imagem também se vê gravada nos monumentos de cultos dos povos da Antiguidade e bordada ou desenhada nas vestes dos sacerdotes desse tempo.
     Na idade do bronze, aparece a imagem da suástica gravada em grandes números de vasos antigos de Tróia, e Rodes, de Chipres, da Grécia, da Itália. E note-se como altamente elucidativos: milhares de ano depois, na era do cristianismo, a mesma suástica se encontra na túnica de um coveiro cristão das catacumbas de S. Calisto em Roma.
     O culto da cruz, quer Tau, quer gamada, remonta, como já se disse, à mais alta Antiguidade, muitos antes da época em que se diz ter vivido Cristo.
     Os templos de Benaris e de Mutra, no Industão, tinham a forma de uma cruz do comprimento de 1.500 metros.
     Seiscentos anos de viver Cristo, já a religião búdica consagrava a suástica. No peito de uma estatueta de Buda ou Çakia-Muni, fundador do budismo aparece gravada na figura deste instrumento.
     Na Coréia, um marco em forma de cruz latina, tendo na parte inferior grosseiramente esculpido um rosto humano, encarna o "espirito" protetor dos campos.
     No Egito, o sinal da cruz é antiquíssimo. Grande parte dos monumentos, os vasos consagrados às cerimônias religiosas, as vestes sacerdotais ou guerreiras adornam-se frequentemente com a cruz gamada - a suástica. Aparece também nas mãos das divindades egípcias, amiúde tendo a forma de cruz ansata - isto é: cruz grega cujo uns dos ramos fosse munido de um anel ou ansa, pelo qual lhe pega a divindade.
     No México, os templos de Palanque eram consagrados ao culto do fogo, cujo o símbolo era a inseparável cruz.
     No Fenícia, a deusa Astarte (a Vênus) era representada com um cetro na mão encimado por uma cruz.
     Os Índios, nas suas danças sagradas, ostentavam um emblema que no meio do circulo radiante (Sol) tinha uma cruz suástica, simbolo do fogo.
     Em altares gaulês da Antiguidade se vê também gravada a suástica e na estátua de um deus gaulês aparece também, como sinais hieráticos, a suástica a cruz simples, grega ou latina.
     Cerca de 1300 anos antes de Cristo, os sete chefes diante de Tebas, capital da Beócia na Grécia,(não confundir com Tebas do Egito) levavam como insígnia a cruz sobre o disco solar.
     Num momento consagrado a Mercúrio aparece ainda a cruz. Vêmo-la também nos ornatos de Baco (outro deus pagão) bem como veste do deus Apolo.
     Numa pintura a fresco em Herculano vê-se o Amor conduzindo Diana ao encontro de Endimião, o pastor amado. O cupido tem no alto da cabeça a cruz como símbolo do fogo, do ardor amoroso que abrasa o coração...
     Em Pompéia também o jovem deus é adornado com a cruz na cabeça; sinal que também aparece na cabeça dos sacerdotes pagãos.
     E não quero falar no significado da coroa aberta na cabeleira dos nossos padres... pelo menos agora.
     Seria interminável a enumeração das provas de quanto o culto da cruz é muito anterior à religião cristã que não fez mais do que adotá-lo e adaptá-lo às necessidades místicas do seu credo.

Enesto Gil
(Novembro de 1929, Revista A Aurora. Porto, Portugal)

Extraido:
Livro: UM SÉCULO DE HISTORIA POLITICO-SOCIAL EM DOCUMENTOS II
Autor: Edgar Rodrigues
Paginas:51 á 54
Ano:2007

Editora: Achiámé

terça-feira, 7 de abril de 2015

Pela Democracia Direta Cooperacional

     1) - Pelo respeito á liberdade e à personalidade humana.
     2) - Pela livre manifestação do pensamento e de todos os cultos religiosos.
     3) - Pelo livre direito à iniciativa privada particular e coletiva de ação social e econômica, eticamente dirigida ao bem bem coletivo e individual. Pela não intervenção do Estado na economia, em luta contra a centralização estatal.
     4) - Pelo direito dos fins viverem vida social, inclusive econômica, separada e distinta dos outros, desde que não ofenda ela os princípios éticos da justiça social.
     5) - Pela democracia direta e cooperacional com o mandato imperativo. A autoridade admissível deve ser apenas a de competência funcional.
     6) - Pela responsabilidade de todos na vida politica, social e economia da sociedade, de modo a que o Estado se torne a própria sociedade politicamente organizada, tomando o conceito de politica em seu sentido eminente,
     7) - Pela organização de núcleos, desde os bairros aos municípios, às regiões, aos Estados e à União, federados entre si.
     8) - Pela incorporação do técnico e do sábio na vida coletiva, já que continuarão a elite cultural e gestora do amanhã.
     9) - Lutar por todas as formas de cooperação justa, e pela assistência social a cargo de assembleias populares e municipais, em cooperação umas com as outras, quando convier. A distribuição dos bens econômicos deverá caber primacialmente ás organizações populares em base cooperacional.
     10) - Pela organização de cursos populares desde os graus mínimos aos mais elevados, a fins de dar uma visão filosofia concreta do mundo a promover, assim um justo anelo e fundamento para a paz mundial, fundada na cooperação econômica e cultural dos povos, por participação nos interesses de todos e pela constituição de Fundos de Participação, inclusive internacionais.
     Estudai esses ideias e lutais por eles!
     Lutai por um Brasil melhor e por um Mundo mais humano, libertos dos falsos profetas e dos falsos messias!
     Aguardai o nosso chamamento. Preparei-vos, e preparai os vossos companheiros. Em breve estaremos unidos. Aguardai o nosso apelo! Este é o início de uma campanha maios que nós afasta das falsas ideologias que dividem e não unem, que geram ódios e não amor nem compreensão humana.

Núcleo Nacional de Homens Livres

Reproduzi e distribuí!

Extraido:
Livro: UM SÉCULO DE HISTORIA POLITICO-SOCIAL EM DOCUMENTOS
Autor: Edgar Rodrigues
Paginas:243 á 244
Ano: 2005

Editora: Achiámé

domingo, 5 de abril de 2015

Kropotkin e a Revolução Russa

     A Revolução de novembro de 1917 deu à Rússia um regime que é uma mistura de forte centralismo comunista autoritário (Babeuf) e do coletivismo estreitamente de Parker, que há 40 anos é conhecido pelo nome de "marxismo". E esta tentativa – é preciso reconhê-lo – não correspondeu, de nenhum modo, ás esperanças de que se alimentava.
     A mania de se construir um fortíssimo poder centralista da Revolução Russa, não se pode levar em pratica senão por meios de decretos e de exércitos inteiros de empregados. E resolver erros comuns aos de todo o Estado centralista com esse corpo de administração, é isolar a massa do ideal de construção; e os empregados comunistas, impostos pela ditadura do Estado, criam novos erros em vez de os suprimir.
     Compreende-se que, desde que os trabalhadores da Europa central e ocidental conhecem os resultados da Revolução Russa, procurem formas mais seguras para atingir seus objetivo.
     Já na Primeira Internacional, quando estudaram a maneira de "resolver os serviços públicos da sociedade futura", os trabalhadores procuraram resolver o problemas social por meio da socialização da produção e do intercambio; mais queriam alcançar este desiderato pela federação das Comunas Livres e não pelo Estado centralizado, pela descentralização, pelo intercâmbio e pela iniciativa local dos grupos de produtores e consumidores.
     Em suma, estudaram o problema sob este ponto de vista: construir a nova sociedade pela relação simples da iniciativa local e individual e não por decretos saídos dum Estado centralizado, qual, com seus exércitos de subalternos - que, a bem ou mal cumprem as ordens dos seus superiores - acabaria por estrangular a nova ordem de coisas.
     A experiências feitas na Rússia justifica a necessidade de desenvolver as tendência autônomas e federalistas. E os operários encaminhar-se-ão, indubitavelmente, para esta rota, desde que tenham investigado a fundo os grandes e árduos problemas que se apresentam antes investigado a fundo os grandes árduos problemas que se apresentam antes de cada Revolução, como sucedeu na Internacional federalista.
     Irmãos e amigos da Europa ocidental! A historia confirmou à vossa geração uma missão grandiosa. Deu-vos o poder para principiar a empregar os princípios socialistas, a fim de elaborarem formulas praticas. Sobre vós recaiu a missão de preparar a nossa fórmula de uma sociedade na qual a exploração do homem pelo homem, bem como a exploração de classes, sejam impossíveis; e que, em lugar do centralismo que só nos traz guerras e opressões, se desenvolvam milhares milhares centros de vidas e de forças construtoras no sindicatos livres e nas comunas independentes.
     É a Historia que nós guia nesta direção.
     Atirem-nos à obra com energia. E nos grupos, nossos congressos, nos nossos sindicatos e nas nossas comunas acharemos os elementos necessários para a construção de uma nova sociedade, "uma sociedade de trabalho e de liberdade", livre do capital, do Estado e do culto à autoridade.

Piotr Kropotkin¹


¹. Considerado um sábio, não exibia seu titulo acadêmico e outros: era um operário da Anarquia, sem hesitações.

Extraido:
Livro: UM SÉCULO DE HISTORIA POLITICO-SOCIAL EM DOCUMENTOS
Autor: Edgar Rodrigues
Paginas:187 á 188
Ano:2005

Editora: Achiámé