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sábado, 23 de maio de 2015

A INICIAÇÃO SEXUAL PARA AMBOS OS SEXOS

     E é lógico: "haveremos de morrer de fome, si não encontramos o prato que mais apreciamos?"
     Porque não tentar nova experiência amorosa, si a primeira falhou, matando algumas ilusões mais caras?
     Ninguém pergunta ao homem pela sua vida sexual antes do casamento (e pela existência a fora...); pelo contrário, é ridicularizada a virgindade masculina e todos são unânimes em achar necessário o tirocínio na questão e é mais que razoável e ha toda condescendência para os "pecados" da juventude masculina.
     Na sociedades dos países escandinavos, como na Alemanha, na Rússia, no norte da Europa geralmente, nos Estados  Unidos ou das experiências amorosas anteriores – quando procura realizar uma nova experiências ou a felicidade dentro da liberdade no amor.
     Aliás, todos os "casos" se devem resolver segundo as possibilidades individuais
     Que cada qual solucione o seu problema, como puder ou como entender.
     Mas, para encontrar o "homem", " esse homem " que todo o nosso ser deseja através de um sonho delicioso e prometedor de integração, é preciso formular um ideal de amor, procura-lo, "saber distingui-lo"; do contrário, corremos o risco de estiolar o nosso organismo, de adormecer a sensibilidade, de mutilar o nosso corpo e esmagar o nosso sonho, de matar as aspirações, de embotar as faculdades mentais e sentimentais no tipo " solteirona ", fazendo de nós criaturas fora das leis biológicas, fora da natureza, uma nota desafinada no concerto universal.
    Não tem nenhuma criatura humana que passe pela vida sem sentir ou sem provocar atração de um individuo do sexo diferente.
     A lei de atração e repulsão, a lei da gravitação universal é generalizada, abarca os mundos, os seres microcosmo.
     Si, sob o ponto de vista afetivo psicológico, a escolha é difícil e o gosto feminino, talvez mais exigente, si o nosso sonho, sonha a perfeição, tanto quanto possível, ou a harmonia paralela Á nossa harmonia interior, a natureza, por sua vez, serve-se do instinto, das criptas subconscientes para as suas leis de atração e repulsão, em prol da multiplicação da especie.
     e nos obriga a pagar tributo caro, sei a desrespeitamos, cometendo nós os "pecados fisiológicos", os crimes de lesa-natureza que os animais, que os animais, os chamados irracionais estão longe de perpetrar.
     E, sob o ponto de vista ético, por razão a mulher não pode ou não deve colher das experiências amorosas o mesmo poema, o esforço, a luta, uma batalha, o cinzelar da estatua interior e uma vitoria dentro de si mesma?
     Porque a mulher em busca do grande Amor, em busca da verdadeira "afinidade eletiva" integral, que, para mim, é o poder de combinação, é atração sob todos os aspectos, é a harmonia e o equilíbrio, é a independência mutua através da interdependência efetiva de todos os complexos psicológicos, é a atração eletro-magnética, sentimental e mental de dois polos que se buscam e de duas linhas de evolução paralela que se encontram e se completam, – por que a mulher, buscando esse milagre de felicidade, não tenta a experiência amorosa através das leis da atração universal, colhendo o que lhe parece mais superior, mais perfeito, mas belo, mais harmonioso?
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     É erro sob o ponto de vista fisiológico, a ideia de que a castidade absoluta conserva toda a energia vital do individuo – para que possa entregar-se de corpo e alma á atividade mental, e que toda soma de poupadas na continência sexual forçada pode ser aproveitada na vida intelectual.
     A vida sexual não exclui a castidade.
     Si os excessos de qualquer natureza são sempre prejudiciais, também o repouso absoluto de um órgão ou o não funcionamento traz os mesmos inconvenientes, quiçá mais graves.
     A preocupação constante, a ideia fixa, o poder da vontade aplicado a vencer a natureza, desrespeitando-a – produz "fobias", doenças imaginarias, desordens orgânicas e é consequentemente, empecilho á atividade intelectual prolongada.
      Todos nós conhecemos a historia soa monges da Tebaida, os escândalos dos conventos, a histeria, os estigmatismo e a exaltação mistica doentia ou anormal dos santos da santa Igreja.
     Explique-se como quiser, quer se entre no domínio da psico-patologia, das forças do chamado inconsciente ou da metafisica, o que é certo é que o álcool ou entorpecentes ou venenos e até a sugestão podem produzir exaltações do mesmo gênero.
     A abstinência forçada parece agir no organismo de certos temperamentos, como esses entorpecentes momentanios e fatais.
     Encontramos, por vezes, nomes de grandes artistas e eminentes cientistas como sendo celibatários, ingenuidade que não vem ao caso: celibato não quer dizer castidade perpetua...
     Assim, é difícil, é quase impossível que a mulher ou o homem conserve toda a integridade física e mental, toda a seriedade de espirito para as investigações cientificas e éticas – si vive só, sem um afeto mais intimo, sem satisfazer as necessidades fisiológicas inerentes ao sexo, para a mulher, principalmente, as necessidades de ordem afetiva-sexual.
     Agora, satisfazer as necessidades sexuais não é cair no extremo oposto, viciando-se – tal como se dá com a maioria do gênero humano, transformando uma função orgânica em atos repetidos e multiplicados de libertinagem ou luxuria, sem nenhum domínio sobre os sentidos.
     Mas, a ansiedade contra a qual impossível lutar, uma inquietação absorvente, o desassossego de quem espera indefinidamente, o "surmenege", a melancolia, a misantropia, as desordens do aparelho digestivo – eis a estrada larga e angustiosa percorrida pelo intelectual que tenta fugir de exercer todas as suas funções orgânicas ou que está impedido, por qualquer motivo, de viver a vida em toda a plenitude orgânica, afetiva e mental.
     Para a mulher superior é, de fato, complexa, difícil a solução do problema, no meio latino de protetores e senhores, cavaleiros andantes, moraliteistas farisaicos, cristãos manogamos a representar a comedia do tartufismo da civilização unissexual.
     Si não encontra esse grande amor, essa "afinidade eletiva" que é todo o seu sonho de cada instante?
     Mas, e a integridade da sua saúde, para qual urge tomar providência imediata, conforme o seu temperamento?
     E a luta interior, a luta contra o preconceito enraizado, contra o que nos ensinaram, o que herdamos, contra tudo o que é artificial em nós, contra a timidez aprendida e milenar e que não passa de requintada hipocrisia através da educação dos "bons costumes"?
     E a rotina, a moral dos escribas desta sociedade que sabe de tudo isso, porem, prefere o que é feito ás escondidas, e exige, publicamente, o "recato" da mulher e a mimoseia com epítetos os mais deprimentes, os mais humilhantes, si ela não espera que a colham, "como uma flor" para enfeite de lapela... e si dá ao eleito, procurando viver a vida e evitando assim, a consequência desastrosas para a sua saúde física e psíquica? Demais, quantos milhares de mulheres baixam á sepultura, envelhecidas de esperar em vão que as colhessem "como uma flor"?...
     É perfeitamente inútil esse sacrifício contra a natureza, esse "pecado fisiológico" imperdoável, não mais condizendo a moral dos nossos dias com os conhecimentos biológicos, com a psiquiatria, com a psicanalise, com os esforços ingentes que vem fazendo a mulher para se libertar de todos os "detetives morais" que a prendem, brutalmente, á geena das convenções sociais.
     Si é difícil entre nós, latinos, a solução do problema feminino, si é amargura e tormenta interior o drama da emancipação da mulher, si as precursoras se sacrificam anatematizadas por uma civilização de caftismo oficializado, não é desesperador olhando o problema na sua verdadeira face que é o prisma individual, porque ha individualidades masculinas de grande valor ético e de admirável sensibilidade que procuram a solução para o problema afetivo, alarmada de não encontrar o tipo mental feminino que as complete para a harmonia dos dois. Ha uma quase tragedia nesse desencontro...
     São mais raras: o homem se contenta mas facilmente. A natureza os fez apenas para fecundar no plano físico... e tal exigência fecha-lhes o cérebros na apreciação da mulher. Só os sentidos amam no homem. Embora o seu protesto veemente diante da mulher superior pela elevação ou pela cultura, o homem, si se entusiasma pela mulher intelectual, ainda é a exigência dos sentidos a prever um "caso" original, uma emoção mais requintada, um prazer diferente, a vaidade dos casos singulares... A exceção masculina é quase a divindade...
     Está sempre de pé a tragedia dos sexos, o drama de ser dois: a mulher ama com o coração, com a sensibilidade afetiva.

Extraído:

Livro: Amai e... não vos multipliqueis
Autor: Maria Lacerda de Moura
Editora: Civilização Brasileira
Paginas: 155 á 161
Ano: 1932

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