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sábado, 27 de junho de 2015
Do que é composta a Câmara?
Se sim, desengana-te. Passeia teus olhares pela Câmera e vê por que tipo de gente ela é ocupada: advogados sem causas, médicos sem clientela, comerciantes suspeitos, industriais sem conhecimentos especiais, jornalistas sem talento, financistas sem escrúpulos, desocupados e ricos sem ocupações definidas.
Todo esse mundo intriga tagarela, barganha, faz agiotagem, faz negócios, debate-se, empurra-se e corre em busca dos prazeres, da riqueza e das sinecuras fartamente retribuídas. Isso te surpreende, cândido eleitor? Um minuto de reflexão dissipará tua surpresa. Pergunta-te como se faz que X, Y ou Z sejam deputados.
Seus cargos são recompensas pelos méritos manifestos, pelas ações de impacto, pelo bem realizado, pelos serviços prestados, que os recomendaram à estima e à confiança públicas?
Recebem o salários justos pelos conhecimentos especiais que adquiriram, pelos altos estudos com os quais percorreram o brilhante ciclo da experiência que lhe vele toda uma experiência de trabalho?
Foi exigido deles, como exige dos professores, farmacêuticos, engenheiros, exames, diplomas, a admissão em certas escolas, o estágios regulamentar?
Observa: este deve seu mandato ao dinheiro; aquele à intriga; o terceiro a uma candidatura oficial; o quarto ao apoio de um jornal do qual ele engordou o caixa; aquele outro ao vinho, à cidra, à cerveja ou ao álcool do qual encheu a goela de seus mandantes; esse velho coquetismos complacentes de sua jovem esposas; esse jovem ás promessas ofuscantes que ele prodigalizou de palmas, tabacarias, cargos e recomendações; todos a procedimentos mais o menos ilícitos que não têm qualquer relação com méritos ou o talento; todos, de todas as maneiras, no total de sufrágios que eles obtiveram.
E o numero nada tem a ver com o mérito, a coragem, a probidade, o caráter, a inteligência, o saber, os serviços prestados, as ações de impacto. A maioria dos sufrágios não consagra nem o valor moral, nem a superioridade intelectual, nem a justiça, nem a Razão.
Estamos autorizados a dizer que é bem o contrário.
Sejamos justos: alguns homens superiores, de tempos em tempos, desgarraram-se nesses locais mal-afamados, mas é o reduzidíssimo número; não tardaram a se encontrar desnorteados e incomodados e, a menos que não tenham insensivelmente condescendido em desempenhar seu papel nas cabalas, inspirar-se nas paixões dos partidos, manter seu lugar nas intrigas de corredor, eles foram rapidamente postos em quarentena e reduzidos à impotência.
Extraído:
Livro: Eleitor, escuta! \ A podridão parlamentar
Autor: Sébastien Faure
Editora: IEL Instituto de Estudos Libertários
Paginas:24 á 26
Ano: 2006
sexta-feira, 19 de junho de 2015
A CIÊNCIA A SERVIÇO DA DEGENERECENCIA HUMANA (Maria Lacerda de Moura)
A evolução é individual, e o conservantismo das massas é assegurado pela influencia ancestral fossilizada no subconsciente coletivo e pela educação, domesticadora até o servilismo.
Mas, si o rebanho humano é sempre o mesmo, faminto de pão e divertimentos, guerras ou circo, politica ou cinema, sedentos de prazeres brutais e gargalhadas sensuais, essa vaga imensa ondulando ao sabor de um Alexandre, um Amilcar Barca, um Anibal, um Xerxes, um Cesar, Napoleão, Mussoline, Papa, Dempsey, Tunney, um Chico Boia, um Rodolfo Valentino, – em compensação a ciência progrediu tanto que deu origem a fantástico desequilíbrio na vida social, posta imediatamente a serviço das perversidades inomináveis, de toda a imbecilidade humana.
Descobertas, investigação, os métodos científicos atestam o esforço da elites intelectual. Por outo lado, cientistas se vendem cinicamente ao poder, ao capital, á vaidade das exibições.
E o capitalismo industrializado se apoderá de todo essa afan científico, mesmo ainda em embrião, de maneira que canaliza as energias humanas em uma direção única — a luta de competições, a concorrência econômica, o assalto às posições já ocupadas, o nacionalismo e, consequentemente, as guerras.
Todo o gênero humano vive para a cumplicidade brutal da prostituição sob todos os aspectos, pois que a organização social capitalista não passa de um bordel em que se compram e vendem todos os sentimentos e as mais nobres aspirações, o Amor e a Consciência, as mais altas manifestações da Vida humana.
E toda a humanidade, em tempo de paz como em tempo de guerra, vive, luta pela cumplicidade que leva os humanos a se estraçalharem ferozmente nos campos de batalha.
E, enquanto nas Igrejas se prega o "Amai-vos uns aos ao outros", e se lembra o "Não matarás", sacerdotes patriotas abençoam aviões, couraçados e bandeiras, na França contra a Alemanha, na Alemanha contra a frança, na Italia, na Belgica ou na Austria, em nome do mesmo Jeová terrível, em nome do Deus sanguinário de todos os exércitos, das pátrias exclusivistas e do chauvinismo cristão.
Dá-se ainda um fenômeno digno de nota: os próprios cientistas não se subtraem á influencia das massas. Enquanto nos seus gabinetes, em meio de retortas e maquinas, experimentam, pesquisam, atordoam-se na inquietação absorvente de resolver problemas ou aproximar-se de determinada verdade, são admiráveis, superiores, grandes na sua perseverança; logo que atingem a uma pequena realização e veem para o cenário social aplicar o resultado de suas experimentações, caem no nível das massas, descem á domesticada, servil e perversa das Pátrias e dos partidos.
Acorda-se o nacionalista, o religioso a serviço da superstição e da ignorância, o cidadão a serviço dos governos e das bandeiras, contra outros governos, outros cidadãos e outras bandeiras.
E toda a sua ciência se prostra aos pés do capital e sua industria.
O esforço superior do homem livre é deturpado, é prostituído.
Todas as descobertas, sem exceção alguma, todas as pesquisas da ciência são açambarcadas pelos interesses industriais e para as conquistas da guerra, consequentemente.
A aviação é instrumento nacionalista e as façanhas aviatórias, ainda que um Amundsen, um Charcot, um Nansen delas se sirvam para descobrimentos científicos, são manejos da embriagues patriótica ou da maroteira politica - para açular os "cidadãos" á defesa sagrada da pátria gloriosa... E até as palavras tem o seu prestigio no despertar das emoções ou das paixões capazes de acordar o sentimento do dever nacional.
mas, quem move os cordéis da diplomacia e do Estado são os banqueiros, os famosos industrias de aviões, submarinos, couraçados, torpedos e metralhadoras - todos os canibais que se nutrem dos campos de batalha.
E o rebanho humano continua a defender e a respeitar, patriótica e religiosamente, a todos os interesses legislativos e nacionalistas, a toda autoridade constituída para afiar o cutelo que ha de cortar, piedosamente, o pescoço e abrir o ventre dos que vão, entoando hinos, alimentar a boca escancarada dos canhões, das maquinas de guerra que recebem e trituram a carne humana e a transformam em moeda corrente com que os grandes industriais e os políticos, seus cúmplices, compram o poder, a gloria e as cortezas.
Até mesmo a bondade imensa de Mme. Curie está trabalhando para a destruição do gênero humano.
Santos Dumont o sente, profundamente arrependido de haver contribuído para a carnificina gloriosa dos milhões de vitimas da ferocidade civilizadora iniciada em 1914.
O cinematografo cultiva a imbecilidade, o preconceito da força bruta, o prejuízo patriota, a superstição religiosa, a moral farisaica da sociedade filistéa, o mundanismo parasita, todas as tolices seculares e todos os crimes de lesa-felicidade humana.
Rara película de tese social elevada. tão rara que a assistência, no seu conjunto, a repudia...
Descoberta feliz, sonhada talvez pela escola moderna, para o cultivo da inteligência, caiu imediatamente nas malhas do industrialismo absorvente e foi colocada ao sabor e ao alcance das massas, em vez de servir para elevar a mentalidade humana ao nível do ideal cientifico puro e das aspirações de renovação social pela educação.
Mas, ha tanta impudência e tanta cupidez na civilização de industria que um film como o livro de Remarque consegue atravessar as malhas da reação burguesa.
Dá que pensar: a civilização do dollar será engolida por si mesma, morrerá de apoplexia.
A volta ao trabalho rude da terra será, portanto, a consciência tranquila, para além de toda cumplicidade com a organização social, baseada na exploração do homem pelo homem?
Nem sempre. Parece-se que ainda não.
E' justamente na produção da terra e mesmo na propriedade da terra em si, que se alicerça todo o formidável edifício da exploração social.
Si ninguém plantasse senão o estritamente necessário para si e para os seus filhos menores, para os velhos e para as mães e as crianças e os inválidos da sua família, ao menos tempo praticando o auxilio mutuo, - não se formariam "trusts" de café, de açúcar, de algodão, de arroz, de trigo, de mate, de todos os gêneros de primeira necessidade, para fortuna dos reis da agricultura industrializada - que não plantam e se enriquecem á custa do suor dos que plantam.
Daí a concorrência aberta para as lutas comerciais de competição, origem das guerras modernas.
E' o excesso da produção, sob todos os aspectos, na lavoura como nas industrias, causa de todos os conflitos na sociedade atual. O nosso mal não vem da falta e sim do excesso de produção. A miséria do mundo moderno ainda vem da fartura e do excesso de riqueza e de progresso material. Da má distribuição dos gêneros alimentícios. Por ora, a terra daria bem para a sua população.
E o operário verdadeiramente consciente, operário manual ou cientista manipulando o pensamento no fundo das retortas ou nos cálculos e problemas, á procura das leis naturais, em busca da razão de ser da vida - não fabrica armas para abrir ventre dos seus próprios filhos em holocausto no altar da pátria, esse ídolo sanguinário de fauces escancaradas a absorver as energias de todos os assalariados do trabalho.
Si houvesse verdadeira compreensão do dever humano, os indivíduos livres, homens e mulheres conscientes, se recusariam a pactual com essa civilização de vampirismo social, voltariam ao trabalho duro da terra, á vida simples e natural, porem cheia de compensações, de liberdade, para deixar sentir a alegria da consciência que não desce á cumplicidade de lutar em favor do esmagamento de toda a humanidade.
Extraído:
Livro: Civilização Trancos de Escravos
Autor: Maria Lacerda de Moura
Editora: Civilização Brasileira
Paginas: 9 á 19
Ano: 1931
terça-feira, 9 de junho de 2015
A NOSSA JUSTIÇA
Não entendemos por justiça, quando dela falamos, aqueles que ditam os códigos e a jurisprudência romana, fundados em grande parte sobre os fatos violentos impostos pela força, consagrados pelo tempo e pelas bênção de uma igreja qualquer, cristã ou pagã, e como tais aceites como princípios absolutos, cujas deduções nada mais são que princípios muitos lógicos; não falamos também da justiça que se funda unicamente na consciência dos homens que encontreis em todos e até na consciência das crianças e que se traduz em simples "equação". Esta justiça universal que, graças às imposições da força e às influências religiosas, nunca prevaleceu na esfera política, nem na jurídica nem na econômica; deve servir de base no novo mundo. Sem ela, nada de liberdade, nada de república, nada de propriedade, nada de paz! Ela deve presidir a todas as nossas resoluções para que possamos contribuir eficazmente para o estabelecimento da paz.
Esta justiça obriga-nos a tomar por nossa conta a causa do povo até hoje tão terrivelmente maltratada e a reivindicar para ele, com liberdade política, a emancipação econômica e social. O que vos pedimos é proclamar de novo este grande princípio da Revolução Francesa: que todo homem deve possuir os meios materiais e morais de desenvolver toda a sua humanidade, princípio que se traduz segundo nós. No problema seguinte:
Organizar a sociedade de tal modo que todos os indivíduos, homens ou mulheres, ao começar a sua existência, encontrem iguais para o desenvolvimento de suas diferentes faculdades e de utilizar o seu trabalho; organizar uma sociedade que, tomando impossível a cada indivíduo explorar a outro, seja quem for, não lhe impeça de gozar as riquezas social que na realidade contribuiu diretamente a produzir co. O seu trabalho.
Mikhail Bakunin¹
¹ – Anarquista dos mais vigorosos. Nasceu na Rússia (1814 - 1876). Ignorou títulos e pátrias.
Extraido:
Livro: Um século de história Político-social em social em documentos
Autor: Edgar Rodrigues
Editora: Achiamé
Página: 105
Ano: 2005